A Rede Eclesial Pan-Amazônica torna pública, nesta quinta-feira (26), uma nota sobre o enfrentamento ao novo coronavírus. No texto, a Rede “manifesta profunda preocupação com respeito à defesa da saúde do povo brasileiro e dos habitantes da Pan-Amazônia, neste contexto em que a pandemia se alastra por toda região, provocando morte e medo”.

Assinada pelo presidente da REPAM-Brasil, o cardeal Cláudio Hummes, a nota faz referência ao texto da Campanha da Fraternidade deste ano à Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Querida Amazônia”. “A ausência e omissão do Estado na Amazônia, evidente também pela redução dos efetivos dos principais órgãos de defesa dos direitos socioambientais (Ibama, Funai, Sesai, etc.), continua provocando graves danos a esse bioma”, afirma o texto.

A nota ainda encoraja “as comunidades na Amazônia para que tenham máxima prudência e respeito rigoroso às indicações preventivas da Organização Mundial da Saúde” e pede para que todos fiquem em casa. “Protejam suas famílias do contágio e da morte”, é o apelo.

Confira, abaixo, o texto na íntegra. Para acessar o arquivo da nota, cique aqui!

 

Nota pública da REPAM-Brasil sobre o enfrentamento ao Coronavírus

 

A Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM-Brasil manifesta profunda preocupação com respeito à defesa da saúde do povo brasileiro e dos habitantes da Pan-Amazônia, neste contexto em que a pandemia do novo coronavirus (Covid-19) se alastra por toda região, provocando morte e medo.

A ausência de diretrizes seguras, competentes e sintonizadas com as recomendações internacionais da Organização Mundial da Saúde/OMS, por parte do Governo Federal do Brasil, revelam profundo desrespeito para com o povo, num momento de grave tensão.

Ainda mais graves são as motivações que diversos representantes institucionais ou detentores de grandes capitais alegam, na tentativa de redimensionar o perigo, para não perder a pujança da economia e do consumo. Este discurso reducionista isola e defende os interesses econômicos de poucos e naturaliza a morte dos mais fracos, reduzida à estatística no cálculo de conveniências para a manutenção da produtividade.

A Campanha da Fraternidade deste ano define o Estado como “guardião da vida”, mas afirma que está se perdendo o sentido mais profundo da vida, e as preocupações estão cada vez mais voltadas “para o aspecto econômico que para o cuidado com as pessoas” (CF, n. 54-55).

A vida na Amazônia está fundada sobre um “frágil equilíbrio” (Documento Final do Sínodo da Amazônia, n. 43). Com a pandemia, agravaram-se, ainda mais, os ataques a esse território, explorado de forma predatória e criminosa por interesses econômicos legitimados pelo governo.

A ausência e omissão do Estado na Amazônia, evidente também pela redução dos efetivos dos principais órgãos de defesa dos direitos socioambientais (Ibama, Funai, Sesai, etc.), continua provocando graves danos a esse bioma. As comunidades amazônicas que acompanhamos, desde o ponto de vista pastoral e/ou social, relatam que neste mês de março aumentou consideravelmente a derrubada de madeira, o ritmo de exploração dos garimpos, o contrabando de migrantes e consequentemente a falta de atendimento sanitário a eles.

Aos povos indígenas e às comunidades tradicionais cabe um atendimento prioritário, especialmente neste contexto de emergência sanitária. Os povos em situação de isolamento têm uma situação “fragilíssima, e muitos sentem que são os últimos depositários dum tesouro destinado a desaparecer” (Querida Amazônia, n. 29).

Encorajamos as comunidades na Amazônia para que tenham máxima prudência e respeito rigoroso às indicações preventivas da Organização Mundial da Saúde, com confiança e a certeza de que, se todos cuidarmos uns dos outros, esta ameaça será vencida.É preciso que a população permaneça em suas casas para não sobrecarregar o Sistema Único de Saúde/SUS da região, já por si fragilizado e sem condições de garantir a saúde pública até em tempos normais. Fiquem em casa, protejam suas famílias do contágio e da morte!

Os diversos povos da Pan-Amazônia conhecem seus direitos e sabem recorrer à solidariedade dos demais da sociedade civil brasileira e da Comunidade Internacional para fazer valer suas demandas quando o governo lhes falhar.

Da Amazônia, levantam-se firmes reivindicações para que o Governo adote uma postura responsável e eficaz neste tempo de pandemia, garanta medidas firmes de isolamento entre pessoas, proteção das categorias mais fragilizadas (as comunidades mais distantes, os migrantes, a população carcerária, os moradores nos bairros urbanos menos estruturados, os idosos, etc.), acesso seguro e rápido aos cuidados médicos essenciais e aos tratamentos de emergência, relance as diversas modalidades de economia local e solidária, segurança alimentar e condições de subsistência à população.

“A omissão dos cristãos pode trazer gravíssimas consequências para a ação transformadora na Igreja e no mundo” (CF, n. 120).

 

Invocamos a proteção de Deus sobre o Brasil e a Amazônia, e a intercessão de nossa querida Mãe e Padroeira, Nossa Senhora Aparecida.

 

Brasília -DF, 26 de março de 2020

 

Cardeal Claudio Hummes
Presidente da REPAM-Brasil

 

 

 

 

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