Terminou nesta segunda-feira (2/6), em Belém do Pará, o encontro internacional da Comissão Política da Cúpula dos Povos rumo à COP30. Durante quatro dias, mais de 60 organizações, redes e movimentos sociais do Brasil, América Latina, África, Ásia e Europa se reuniram para alinhar estratégias de mobilização e denúncia em torno da justiça climática, tendo como horizonte a realização da COP30 em 2025, também na capital paraense.
A programação começou no dia 30 de maio com um grande ato político na Universidade Federal do Pará (UFPA), sob o tema “Da Amazônia para o Mundo: Justiça Climática Já!”. O evento reuniu representantes de povos indígenas, quilombolas, juventudes, comunidades periféricas, movimentos populares e organizações nacionais e internacionais que, juntos, proclamaram: não há saída para a crise climática sem a centralidade dos povos originários e tradicionais.
“Estamos vivendo tempos em que a crise é clara: injustiça, exploração, insegurança, extrativismo. Em momentos assim, precisamos construir uma solidariedade profunda”, declarou Tasneem Essop, da Climate Action Network (CAN).
Durante o ato, foi anunciado que a UFPA será o território oficial da Cúpula dos Povos durante a COP30, um marco simbólico e político para o movimento.
“É muito importante ter infraestrutura, mas o mais importante é mudar mentalidades. A Cúpula tem esse papel de provocar reflexão sobre a Amazônia, seus povos e seus direitos”, afirmou o reitor Gilmar Pereira da Silva.
Denúncia, memória e resistência
A programação incluiu plenárias estratégicas, reuniões temáticas, debates sobre racismo ambiental, transição energética e falsas soluções para a crise climática. Mas também houve espaço para ação direta: no sábado (1/6), já marcando o início da Semana Internacional do Meio Ambiente, organizações parceiras e movimentos sociais realizaram um ato público contra o PL 2159/21, conhecido como o “PL da Devastação”, que ameaça desmontar o licenciamento ambiental no Brasil.
A manifestação ocorreu na Praça da República, centro de Belém, e denunciou os impactos da proposta legislativa sobre os povos e os territórios, reforçando o papel da Cúpula como espaço legítimo de resistência e construção de alternativas populares à crise climática.
“Essas autodeclarações são declarações de morte. Contra a natureza, contra as pessoas, contra as comunidades, sobretudo aquelas que mais sofrem com o racismo ambiental”, afirmou Pe. Dario Bossi, da Igreja Rumo à COP30, com apoio da REPAM.

A crítica à conivência do Estado com grandes empresas também foi ponto de destaque para lideranças da sociedade civil organizada.
“Nós somos contra esse PL da devastação. Estamos ao lado da ministra Marina. Eu, como mulher preta e amazônida, me senti ofendida. Ele mexeu com uma, mexeu com todas. E para dizer também: nós compomos a Cúpula dos Povos rumo à COP30, que está em construção, em processo coletivo. Somos autônomos — não estamos, como diz a minha mãe, macomunados com governos ou empresas. Estamos construindo esse espaço com homens e mulheres de 13 países, junto com muitos outros coletivos, para mostrar que há um outro caminho possível”, afirmou Joana Menezes, da Mobilização dos Povos pela Terra e pelo Clima.

A denúncia do PL também ganhou voz nas falas das juventudes negras presentes no ato, que reforçaram o impacto direto da crise e das políticas ambientais injustas sobre os corpos mais vulnerabilizados.
“Esse PL tem nome e sobrenome, porque quando a gente pensa quem é que está nos ônibus, atravessando a cidade e seguindo seus trabalhos para a periferia, fritando literalmente, quem é que está sentindo o cheiro da fumaça que é queimada pelo ar? Somos nós, somos mulheres, somos negras, somos povo periférico, somos povo que planta e que alimenta a boca do campo e da cidade”, declarou uma jovem ativista do Movimento Negro Unificado.
Diálogos finais e perspectivas
No último dia da programação (2/6), a Cúpula dos Povos seguiu com diálogos fundamentais sobre o processo de comunicação coletiva e popular do evento, seus desafios e potências. Também foram realizados webinários sobre os Eixos de Convergência, que estruturam politicamente a proposta da Cúpula: transformações estruturais que coloquem a vida e os direitos coletivos acima do lucro. Esses eixos refletem um projeto de sociedade baseado na equidade, na harmonia com a natureza e no poder popular, em oposição às agendas elitistas e corporativas que dominam os fóruns oficiais.
Além disso, foram socializados espaços importantes da construção como o Tapiri Ecumênico e Inter-religioso e a Cúpula das Infâncias, que reforçam o caráter plural, inclusivo e integrador do processo. A proposta é que esses espaços não apenas estejam presentes durante a Cúpula oficial, mas que também sejam reconhecidos na contagem oficial de público e na composição política do evento.

A Cúpula dos Povos segue em construção
O encontro marcou um passo decisivo na preparação para a Cúpula dos Povos durante a COP30, prevista para novembro de 2025, em Belém. A expectativa é reunir cerca de 15 mil pessoas em uma programação intensa, com barqueata nos rios amazônicos, marcha global, plenárias populares, feira de saberes e articulação de propostas concretas para enfrentar a crise climática com justiça social.
A REPAM segue somando forças nesse processo, junto a dezenas de organizações, para garantir que a COP30 escute e respeite as vozes da Amazônia profunda. Como afirmam os movimentos: “Todos os rios levam a Belém. Não há futuro sem nós.”
