A série “Amazônia: Terra de missão e comprometimento com o Reino de Deus e o bem-viver” continua com o testemunho missionário do padre Francisco Javier Martinez, espanhol da Pia Sociedade São Francisco Xavier para as Missões Estrangeiras, a congregação dos Xaverianos. O padre é vigário paroquial em uma paróquia da arquidiocese de Belém (PA). Sua relação com a Amazônia teve início há nove anos, quando veio ao Brasil para uma experiência ainda antes de fazer os votos perpétuos na congregação. Atualmente na capital paraense, padre Francisco tem marcas profundas do tempo que esteve no sul do estado.

“O Pará é uma região muito bonita, muito bela, mas com muitos desafios sociais. Nós conhecemos bem a realidade do sul do Pará que está acontecendo atualmente com esse aumento do desafio grande do agronegócio, me lembra o ano passado, quando teve o assassínio em Pau D’arco, estamos agora com essa criminalização dos movimentos sociais, estou me lembrando do padre Amaro, preso por uma acusação falsa”, já pontua o religioso sobre a conjuntura que observa na região.

Padre Francisco Javier veio ao Brasil em 2009 e fez a preparação para missionários estrangeiros oferecida pelo Centro Cultural Missionário, em Brasília/DF, e seguiu para a região amazônica. “Eu não era padre, vim como religioso, com os votos simples. Fiquei uns anos na Amazônia, primeiramente na parte norte do estado do Pará, depois viajei para o Sul, depois voltei para a Espanha por dois anos para concluir os estudos, e de novo regressei para a Amazônia”, conta.

Ele manifesta o desejo de cumprir o chamado à oferta plena na missão: “espero ficar aqui o resto da minha vida e dedicar meu serviço como missionário xaveriano para este povo e para esta terra, neste chão sagrado que é a Amazônia, e o estado do Pará concretamente”.

Das experiências que mais o marcaram, padre Francisco escolhe o contato com o povo para dar destaque: “o contato com as pessoas que sofrem, com os mais pobres, posso dizer que tem uma densidade especial. Esse contato com os pobres… Os pobres são um lugar teologal, de experimentar Deus, e eu me lembro de rostos, de situações concretas”.

Foi do contato com o povo que surgiram duas experiências dolorosas que o padre Xaveriano carrega. Uma é de um rapaz que sofria com problemas psicológicos e tinha má relação com a comunidade, mas que, na sua carência, buscava apoio dos padres. “E eu me lembro que ele contava muitas coisas para nós e ele acabou assassinado por que mexia com coisas que não devia. Eu me lembro que dois dias antes de ser assassinado, ele foi lá chorando e confessando que ele ia ser morto e eu quase não acreditei, mas realmente aconteceu”, relata.

Outro caso foi na periferia de São Félix do Xingu (PA), onde uma mulher com muitos filhos sofria violência do companheiro na ocasião, que não era o pai das crianças, além do desrespeito de muitas pessoas.

Das relações particulares, dificuldades de famílias e populações, surgem os gritos da Amazônia, local que continua sendo visto como “espólio dos recursos naturais que ela tem, tanto ambiental como de pessoas”, aponta padre Francisco Javier. Os grandes projetos, as mineradoras, pesquisas voltadas para exploração, as construções de hidrelétricas são situações que fazem os gritos serem ecoados.

“Hoje Altamira é uma situação caótica, o que destruiu Belo Monte de populações indígenas, a vida de ribeirinhos, demonstrou que não tinha sentido. Agora está projetado no rio Tapajós. As hidrelétricas são grandes desafios que lá tem”, afirma. Padre Francisco sustenta que as populações amazônicas, para continuarem a prestar um “serviço muito grande ao planeta inteiro” precisam da floresta em pé.

Esperança
A Rede Eclesial Pan Amazônica/REPAM é sinal de esperança para o padre Francisco Javier: “Não faz muito tempo que nasceu e vem para aglutinar forças, para coordenar, para convocar todas as forças que estão a serviço da vida na Amazônia, todos os missionários e agentes sociais que trabalham pela vida na Amazônia, que é um berço de vida com muita potencialidade. É um motivo de esperança”, comenta.

O Sínodo para a Amazônia, marcado para daqui um ano, também é sinal de esperança, pois o mundo irá olhar para a região. “Papa Francisco mais uma vez nos surpreende com seus gestos e a Amazônia não deixa de ser, ao meu ver, um lugar que tem que aportar muito para o mundo na perspectiva social e eclesial. É o lugar da ecologia integral que o papa Francisco clama para o mundo de hoje, que precisa mudar o paradigma”, comenta. Para o missionário xaveriano, a Amazônia é “onde se ensaia a ecologia integral”, com o respeito à natureza, ao pobre, ao diferente, ao meio ambiente. “Portanto, acredito que esse Sínodo pode enfrentar muitas problemáticas e dar muita luz para o futuro da humanidade”, finaliza.

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