Marta Nieto | Foto: reprodução/Missionários Xaverianos

A leiga xaveriana espanhola Marta Barral Nieto está no Brasil atendendo a um chamado feito por dom Adolfo Zon, que, após ser nomeado bispo de Alto Solimões/AM, convidou os leigos da Comunidade de Leigos Missionários Xaverianos, na Espanha, seu país de origem, para assumirem um serviço no Brasil.

“Sempre tive uma inquietude missionária. Os missionários xaverianos, quando eu era jovem, eram encarregados da animação missionária no vicariato da minha diocese, em Madri, então entrei em um programa de formação de animadores missionários, depois continuei em um processo de discernimento pessoal, que depois foi em conjunto com outros jovens e que tinham a vocação. E formamos uma comunidade de leigos e leigas, depois de muito tempo de discernimento e de acompanhamentos dos missionários xaverianos”, conta Marta.

Ela tem disposição missionária Ad Gentes, além fronteiras, pois já atuou no Burundi e no Timor Leste, por exemplo. No Brasil há pouco mais de um ano e meio, convive com uma realidade diferente, nestas terras onde lhe chamaram atenção a grande diversidade de gente, de povos. Ela está em Atalaia do Norte, no Vale do Javari, considerada a segunda maior terra indígena do Brasil e a de maior diversidade de povos isolados indígenas e não indígenas. “Essa riqueza cultural e de povos é uma maravilha”, afirma.

Assim que chegou ao Brasil, Marta já pôde viver a experiência mais marcante até aqui: a V Assembleia Geral dos Povos Indígenas do Vale do Javari, realizada em março do ano passado. “Para chegar até lá foram cinco dias no barco e foi um encontro onde estavam os povos Mayoruna, Matis, Marubo, Kanamarys, Kulina e Korubo e outros parceiros colaborando. Fazia pouco tempo que tinha chegado na diocese, em Atalaia também, foi um conhecimento, uma experiência de vida, na comunidade, de escuta desses povos, de partilha, foi muito muito rico”, conta.

Trabalho em ambiente urbano
O serviço que Marta presta à diocese junto aos povos indígenas é de acompanhamento àqueles que estão deixando as comunidades para morar nas cidades. “É muito difícil, é muito complicado porque eles saem das comunidades querendo aprender, estudar, para logo voltar. Enfrentam muitos problemas de integração, de inserção na vida dos naua, como são chamados os não indígenas”, relata a missionária.

Outro desafio que se impõe é o de entrar na lógica dos povos, conhecer os diversos povos com suas especificidades, línguas diferentes. “Não posso aprender todas, esse é um desafio porque é uma barreira, para você compreender o povo, precisa disso, a língua é um veículo para entender uma lógica, um jeito de pensar”, pondera. A leiga xaveriana aponta a necessidade de mais tempo, cuidado, escuta e compreensão para entrar neste universo dos povos originários do Vale do Javari. “Acompanhar esses processos é difícil, ainda mais sendo estrangeira, mas, ao mesmo tempo eles estão necessitados, são muitos acolhedores e abrem a mão a qualquer pessoa que está lá”, revela.

Desafios conjunturais
Os grandes desafios amazônicos também estão presentes na região da diocese de Alto Solimões. Marta também aponta para a abertura do Governo brasileiro aos grandes projetos na Amazônia “para extrair todos os recursos”. Segundo ela, este cenário de interesse do lucro e da riqueza que explora e destrói a natureza e a vida das pessoas ameaça a vida de toda a população, mas especialmente dos povos indígenas: “Não temos os meios e os recursos para fazer frente, é um trabalho de formiga. Mas é necessário estar lá e dizer que as pessoas e a natureza são importantes”.

Neste sentido, os povos gritam por compreensão em relação aos seus costumes e sua cultura. A missionária espanhola fala da dificuldade com que os povos indígenas veem a avidez de nossa sociedade por seus recursos, “uma avidez que quer destruir, não por necessidade, mas se está buscando o lucro. Isso para eles é difícil de entender”. Exemplos são as ações de madeireiros, pescadores ilegais e garimpeiros.

A REPAM para a missionária
“Para mim a REPAM é um descobrimento, eu gosto muito porque acho que uma das forças da Igreja é trabalhar em rede, é único jeito que nós podermos estar presente e fazer frente a essa realidade muito mais enorme que nós”, avalia Marta, citando os grandes projetos e desafios da Amazônia. Segundo Marta Nieto, na África ainda não há experiências como esta da REPAM e cita um provérbio africano: “Se você quiser chegar rápido, vá sozinho, se quiser chegar longe, vá com todos”.

Para o Sínodo de 2018, cujo tema é “Amazônia, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, a expectativa de Marta é abertura da a Igreja à realidade amazônica: “que a Igreja na Amazônia não seja um reflexo da Igreja de Roma, mas sim, que realmente seja uma resposta à situação, à vida destes povos desta região. E também espero que esta porta que se vá abrir, também possa ser aproveitada por outros lugares do mundo, não só Amazônia”.

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