Por Joaquim Alberto – perito do Sínodo para a Amazônia – Coordenador de Pastoralidade da União Brasileira de Educação Católica/UBEC

Tempo de muita esperança, de coragem e profecia. Tempo de cuidar da missão da Igreja e da Casa Comum. Tempo de promoção de uma ecologia integral.

Os últimos dois dias (6 e 7/10) foram marcados por intensos momentos e que deram início ao tão esperado Sínodo. Estar presente no Vaticano para acompanhar, participar e contribuir em tão importante processo tem sido muito significativo. Um verdadeiro kairós!

 

Missa de abertura: presenças, fogo do amor, prudência audaciosa, caminhar juntos…

Na manhã de domingo, dia 5/10, o Papa presidiu a celebração eucarística que deu início ao Sínodo. Estavam presentes muitos cardeais, por ocasião do Consistório na noite anterior, todos os participantes do Sínodo, padres sinodais, convidados, peritos e auditores. Foi lindo de ver tantos homens e mulheres, missionários e missionárias, pessoas comprometidas com a causa amazônica em local de destaque em momento tão significativo para a Igreja. Foi lindo de ver membros de comunidades originárias participarem do ofertório. Lindo ver a companheira Petrolina realizar uma das leituras. Lindo de ver tantos bispos e padres comprometidos com os povos amazônicos. São vozes e rostos que fizeram, fazem e farão o Sínodo acontecer nos próximos dias!

Coração ardeu profundamente ao ouvir o Papa Francisco partilhar sua homilia. Quanta profecia! Quanta vida e esperança! Francisco convocou os padres sinodais para colocarem seus dons a serviço “a nossa vida, dom recebido, é para servir”. Falou ainda sobre o fogo do amor de Deus, que arde para os irmãos, que convoca para a missão em comunidade.

Francisco falou ainda sobre os dons concedidos pelo Espírito Santo, com ênfase na prudência. Uma “prudência audaciosa”, que “inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazónia, para que não se apague o fogo da missão.”

Papa ainda criticou as novas formas de colonialismo, assim como todas as práticas que devoram a vida na Amazônia. “O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho”, disse o Papa. Por fim, Francisco lembrou da coragem de anunciar o Evangelho e dos testemunhos de missionários e mártires que doaram e doam sua vida em favor do Reino, numa profunda convocação pediu que “por eles, com eles, caminhemos juntos”.

 

Primeiro dia de atividades: em saída, acolhida, coragem e novos caminhos…

O dia começou com um lindo momento na parte interna da Basílica de São Pedro, com a presença dos participantes do Sínodo, animados pelos companheiros que estão desenvolvendo as ações na Tenda da Amazônia. Espaço que tem na sua programação mais de cem atividades durante o período do Sínodo. Dentro da equipe da Tenda, destaca-se a presença de missionários e membros de comunidades originárias.

Após alguns cantos e em roda, o Papa Francisco participou de breve momento de oração e saiu caminhando com os padres sinodais e todos os presentes rumo a Sala Paulo VI, local onde se situa a sala dos trabalhos do Sínodo.

Emoção imensa em ver o Papa sair da Basílica abraçado e envolto com indígenas, religiosas, religiosos, bispos, padres, leigos e leigas. Com cantos, muita animação, símbolos amazônicos e placas com imagens de mártires do território amazônico, foi feita a bela e profética caminhada. Sinal de uma Igreja comprometida com a unidade, em saída, que deseja viver sua sinodalidade e coerência com o Evangelho.

Na chegada da Sala Sinodal muitos participantes foram saudados pelo próprio Papa Francisco. Quanta simplicidade, humanidade e demonstração de carinho e compromisso com a missão que a ele está confiada.

Dentre as falas do primeiro dia, gostaria de destacar alguns aspectos dos discursos de abertura do Papa Francisco e do Cardeal Claudio Hummes.

Francisco ressaltou que “as ideologias são uma arma perigosa”, afirmou, porque levam a visões redutivas, a entender sem admirar, sem assumir, sem compreender. Disse ainda que “é preciso também refletir, dialogar, escutar com humildade, sabendo que eu não sei tudo e falar com coragem, com paresia”. Por fim, agradeceu a todos e ressaltou a necessidade de oração e se manter o humor, “obrigado por aquilo que estão fazendo, obrigado por rezar uns pelos outros e ânimo, não perdamos o sentido de humor”.

A fala do Papa foi forte, intensa e repleta de indicativos para os trabalhos a serem desenvolvidos durante o Sínodo. Sua presença é de profunda serenidade e suas abordagens demonstram muito compromisso com o cuidado com a Casa Comum e missão da Igreja.

Dom Claudio Hummes também fez um discurso inicial de muita profecia e profundidade. Abordou temas viscerais do Sínodo.  Apresentou reflexões que ecoaram entre os participantes. Trouxe para a sala sinodal exemplos de vozes dos povos da Amazônia. Afirmou sobre a necessidade de uma “Igreja ‘em saída’. Para que sair? Para acender luzes e aquecer corações, que ajudem as pessoas, as comunidades, os países e a humanidade global a encontrar o sentido da vida e da história.”

Hummes falou também da novidade, dos “Novos caminhos. Novos. Não ter medo do novo.” Provocando para que os participantes possam perceber as novidades que brotam e poderão se concretizar na vida da Igreja. Falou também sobre o cuidado e respeito aos povos indígenas, “é preciso que aos povos indígenas seja devolvido e garantido o direito de serem sujeitos de sua história, protagonistas e não objetos do espírito e prática de colonialismo de quem quer que seja.”

Por fim, destaco trecho da fala de dom Claudio que ressalta o papel da Igreja e dos enfoques do Sínodo: “A missão da Igreja hoje na Amazônia é o núcleo central do sínodo. É um sínodo da Igreja e para a Igreja. Não uma Igreja cerrada em si mesma, mas integrada na história e na realidade do território – no caso, a Amazônia – atenta aos gritos de socorro e às aspirações da população e da “casa comum” [a criação],  aberta ao diálogo, sobretudo ao diálogo inter-religioso e intercultural, acolhedora e desejosa de  compartilhar um caminho sinodal com as outras Igrejas, religiões, ciência, governos, instituições, povos, comunidades e pessoas, respeitando as nossas diferenças,  no intuito de defender e promover a vida das populações da área, especialmente dos povos originários e a biodiversidade do território na região amazônica.”

Sigamos na construção de novos caminhos para uma atuação eclesial e de uma ecologia integral. Que o Espírito siga soprando forte e permanente no Sínodo da Amazônia. Que os olhares para os clamores e realidades dos povos da Pan-Amazônia continuem sendo as referências para o desenvolvimento das reflexões no espaço sinodal.

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