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O Brasil carrega o peso de ser o país onde mais defensores e defensoras de direitos humanos são assassinados. O maior índice atinge ativistas que atuam na luta pelo direito à terra, à moradia e ao meio ambiente, sobretudo na Amazônia.  

Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que, no primeiro semestre de 2022, foram registradas 759 ocorrências no país, mais da metade dos casos registrados ocorreram na Amazônia Legal. Do total, 601 casos foram por conflitos por terra, 105 por conflitos pela água, 42 por conflitos trabalhistas, 10 envolveram conflitos em tempos de seca e 1 em área de garimpo. 

No mesmo período, 74 mulheres foram vítimas de violências em conflitos no campo, segundo a CPT. Os principais tipos de violência contra as mulheres foram a ameaça de morte, com 21,62% do total, seguida de intimidação, com 18,92%, e tentativa de assassinato com 10,81%. 

Berço de conflitos violentos, a Amazônia volta e meia é palco de assassinatos e ameaças a defensores e defensoras de direitos humanos. Hoje, 8 de março, data em que celebramos o Dia Internacional das Mulheres, a Rede Eclesial Pan-Amazônia (REPAM-Brasil) destaca a trajetória de sete mulheres que doaram a vida pela defesa do meio ambiente, da preservação das florestas e dos povos originários. 

“Vidas pela vida, Vidas pelo Reino, Vidas pela Amazônia”  

Celebrado no dia 8 de março desde 1909, o Dia Internacional da Mulher celebra as conquistas das mulheres e relembra a luta pela igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Excluídas de muitos relatos históricos, as mulheres deram importantes contribuições na defesa e na preservação da Amazônia. Conheça a história de sete mulheres que fizeram a diferença em seus territórios: 

Irmã Dorothy Stang, irmã dos povos da floresta 

O testemunho de Irmã Dorothy Stang, missionária da Comissão Pastoral da Terra (CPT), é marcado por uma intensa luta pelo direito à terra dos numerosos camponeses que migraram para o norte do Brasil em busca de sustento. Ir. Dorothy dedicou sua vida ao combate da exploração dos pobres da região rural, em especial daqueles que viviam na Amazônia. Em fevereiro de 2005, Ir. Dorothy foi assassinada, numa emboscada, em uma estrada rural do município de Anapu, no Pará. 

Irmã Cleusa Rody Coelho, mártir da causa indígena 

Com uma vida dedicada à cauda indígena, aos mais pobres e aos excluídos, Irmã Cleusa Rody Coelho, 52 anos, protagonizou uma trajetória marcada pelo compromisso na defesa da terra indígena e dos direitos dos mais pobres. Radical na opção pelos pobres e na defesa dos direitos indígenas, Ir. Cleusa morreu defendendo as terras indígenas e buscando a paz na conturbada região da Prelazia de Lábrea, no Amazonas. Ir. Cleusa foi assassinada em abril de 1985 às margens do Rio Paciá, onde trabalhava com os Povos indígenas Apurinã. 

Maria do Espírito Santo Silva, defensora da floresta e da justiça 

Maria do Espírito Santo Silva era de São João do Araguaia, nascida às margens do Rio Araguaia, filha de agricultores. Atuava na defesa da floresta como forma de subsistência e na criação de uma reserva extrativista no Assentamento Agroextrativista Praia Alta-Piranheira, onde vivia, no município de Nova Ipixuna, no Pará. Defensora da floresta, dos direitos de seus povos e da justiça, Maria do Espírito Santo e seu companheiro José Cláudio Ribeiro foram executados, numa emboscada, na manhã de 24 de maio de 2011, na cidade de Nova Ipixuna, no sudoeste do Pará, cidade a 390 quilômetros de Belém.  

Irmã Adelaide Molinari, uma trajetória marcada pela defesa dos mais pobres 

Mulher de fé, corajosa e dedicada à defesa dos mais pobres, Irmã Adelaide fazia parte da Congregação Filhas do Amor Divino, sendo uma das primeiras irmãs da sua congregação a trabalhar nas missões no Pará. Em 1985, foi assassinada a tiros na Rodoviária de Eldorado por sua luta pela terra em Eldorado dos Carajás. 

Dilma Ferreira da Silva, defensora da Terra, moradia e meio ambiente  

Lutadora incansável e destemida, Dilma Ferreira da Silva nunca baixou a cabeça perante as injustiças. Militante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) no Pará, Dilma denunciava as violações dos direitos e doou seu tempo e trabalho para construir a organização coletiva das famílias atingidas e a resistir aos problemas que por décadas perduraram na região após a construção de Tucuruí. Em março de 2019, foi brutalmente torturada e assassinada, junto a seu companheiro, Claudionor Costa da Silva, e um amigo do casal, Hilton Lopes, em sua própria casa na zona rural do município de Baião (PA). 

“As marias somos nós! Nós somos as verdadeiras marias, guerreiras, lutadoras que estão aí no desafio da luta do dia a dia.” (Dilma Ferreira Silva, Encontro Nacional das Mulheres Atingidas por Barragens, Brasília, abril de 2011) 

Nilce de Souza Magalhães, defensora de Direitos Humanos  

Pescadora e líder do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Porto Velho, Rondônia, Nilce “Nicinha” de Souza Magalhães denunciava as violações de direitos humanos perpetradas pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) na construção da Usina Hidrelétrica de Jirau e os impactos do projeto hidrelétrico na vida de pescadores e pescadoras no Rio Madeira. Foi brutalmente assassinada em 2016. Seu corpo foi encontrado na barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) em Jirau.   

Jane Júlia de Oliveira, uma trajetória marcada pela defesa dos sem-terra 

Trabalhadora rural sem-terra, Jane Júlia lutava pelo direito à terra e moradia digna. Em 2017, dez trabalhadores rurais sem-terra foram mortos durante operação das polícias militar e civil na Fazenda Santa Lúcia, no município Pau D’Arco, no sudeste do Pará.  Entre os mortos estava Jane Júlia de Oliveira, liderança do acampamento e presidenta da Associação dos Trabalhadores Rurais Nova Vitória, a única mulher assassinada naquele dia. 

Carol Lira – Comunicação REPAM-Brasil  

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