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A celebração de abertura do 15º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em Rondonópolis/MT, foi um forte sinal de valorização da atuação religiosa de leigas e leigos, de valorização da diversidade cultural e de crítica ao modelo socioeconômico voltado ao extrativismo dos recursos naturais. A cerimônia ocorreu na noite de ontem (terça-feira, 18), no Centro de Eventos Santa Terezinha. A celebração abriu oficialmente o Intereclesial, que se estende até o dia 22 (sábado), reunindo cerca de 1,5 mil representantes das CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, bispos, lideranças de organismos ligados à Igreja Católica, a outras denominações cristãs e expressões espirituais, movimentos sociais e populares.

Os milhares de participantes da cerimônia sentaram-se em cadeiras dispostas ao redor de um grande palco, que funcionou como altar. Diferente da prática convencional, a celebração foi conduzida principalmente pela Equipe de Liturgia do Intereclesial: Marilza Schuina, Antonia Maciel e Romero Caló, das CEBs da Arquidiocese de Cuiabá, e Shirley Borghi, das CEBs da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, grupo de leigas e leigos trajados com túnicas que destacavam a simbologia afro-brasileira e indígena. A mesa do altar estava coberta por uma toalha feita de retalhos de tecido, destacando uma liturgia de caráter popular.

A cerimônia de abertura teve várias procissões, músicas e menções verbais que valorizaram as comunidades indígenas, quilombolas, pessoas que vivem da agricultura familiar ou estão em acampamentos provisórios, pescadores, trabalhadoras e trabalhadores urbanos, mulheres artesãs, migrantes e imigrantes, entre outros grupos sociais que compõem o povo brasileiro. Delegações de representantes das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste foram lembradas e homenageadas pela associação com seus biomas (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Pampa e Mata Atlântica) e pela disposição histórica à luta e resistência populares.

Em seguida a história dos Intereclesiais foi lembrada por uma mescla entre informações ditas ao microfone e entradas com os estandartes referentes a cada uma das edições do encontro, desde o primeiro, em Vitória (ES), em 1975, até a atual, em Rondonópolis (MT).

A proclamação da abertura oficial do 15º Intereclesial ocorreu a partir de uma fala do bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, dom Maurício Jardim. Ele agradeceu a presença dos participantes e recordou do bispo anterior, dom Juventino Kestering, falecido em 2022, que foi quem assumiu o compromisso de trazer o Intereclesial para a diocese. Um grande banner contendo a imagem de dom Juventino e uma de suas frases emblemáticas (“Saúde aos doentes, alegria aos tristes e esperança aos desanimados”) foi exposto perante o público, que fez uma sessão de aplausos em sua memória.

Cerimônia ocorreu na noite de terça (18) e ressaltou povo brasileiro a partir da população negra, dos povos indígenas e dos trabalhadores rurais. Foto: Renan Dantas/ Comunica 15

Na liturgia da palavra, a procissão de entrada da Bíblia foi feita por várias meninas, adolescentes e mulheres com saias típicas do siriri (dança tradicional da Baixada Cuiabana/MT), por alguns homens que tocavam viola de cocho e eram acompanhados pela equipe de música da cerimônia com ganzá e mocho.

A homilia foi feita por dom Neri Tondello, bispo de Juína e referencial das CEBs em Mato Grosso. Em suas palavras, ele destacou a “civilização do amor”, a “diversidade cultural” e os “alimentos sem veneno”. “O sistema do novo céu e uma nova terra precisa vencer o sistema que fabrica pobres, concentra a riqueza e o capital”, disse o bispo, numa referência à passagem bíblica que corresponde ao tema do Intereclesial (Isaías, 65, 17).

Um dos momentos seguintes foi composto pela entrada de alimentos, representando “frutos do trabalho”, como espigas de milho, ramas de mandioca, pedaços de cana, abóboras, mamões, laranjas e bananas, numa contraposição crítica ao agronegócio de exportação. Uma outra procissão trouxe cestos e peneiras com biscoitos de polvilho e leite e bolos de arroz doce para servir ao público.

No encerramento da celebração teve uma benção proclamada na forma de canto e ao som de um maracá pelo ancião bororo Sebastião Tororeo, da Terra Indígena Tereza Cristina, situada no município de Santo Antônio de Leverger. No geral, o rito pedia para Deus acalmar os corações dos humanos, ajudar em seu dia a dia e proteger a cultura indígena. O Intereclesial tem a presença de várias outras etnias, como Xavante, Chiquitano, Nambikwara, Guarani e Rikbaktsa.

Maria Aparecida Queiroz, moradora do bairro Jardim Ipanema, em Rondonópolis, e integrante da Comunidade Santa Luzia, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, participou pela primeira vez de uma atividade de Intereclesial das CEBs e se disse gratificada pela experiência. “Missa, celebração não é apenas sacrifício de Jesus, como alguns dizem. Esse tipo de cerimônia deixa a gente mais alegre e ver tanta gente com a fisionomia animada deixa a gente mais feliz”, comentou.

Aniversariante do dia, Olivia Serafim completou 28 anos em graça com a oportunidade de participar do Intereclesial e se ver ao lado de milhares de pessoas que professam o mesmo tipo de fé. “Nas nossas comunidades às vezes a gente se sente meio isolada, sozinha, mas quando vem para um encontro como esse, a gente vê que somos muitas pessoas pelo país afora atuando a partir da espiritualidade de Jesus de Nazaré e do que nos diz o papa Francisco”, mencionou Olivia, que participa da Capela Santo Antônio, no Assentamento Torga, município de Camocim, Paróquia Bom Jesus, Diocese de Tianguá, Regional Nordeste 1, estado do Ceará.

Monaiane Silva Sá, integrante da Comunidade São João Evangelista, Paróquia Santo Antônio, município e Diocese de Tianguá, reforçou as palavras da amiga, destacando a importância de integrar um processo pastoral que valorize “uma Igreja em saída, com Jesus Cristo, e voltada aos pobres”.

Por Gibran Lachowski/Comunica 15 | Fotos: Renan Dantas/Comunica 15

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