Por Luis Miguel Modino, assessor de comunicação Regional Norte1
O cuidado da Casa Comum é algo que vai além das religiões, que deve buscar a sinergia de valores e propósitos que todos nós temos. O IV Encontro de Ecoteologia e I Semana Teológica e Filosófica, organizado pela Faculdade Católica do Amazonas, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), a Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Arquidiocese de Manaus e o Regional Norte1 da CNBB, de 13 a 15 de setembro, refletiu em sua última jornada sobre questões ecológicas desde o diálogo interreligioso, ecumênico e as cosmovisões ecológicas.
Um Seminário que foi espaço de apresentação de pesquisas de académicos abordando a questão da fome e da insegurança alimentar, uma realidade presente na Amazônia, agravada com a pandemia da Covid-19. Junto com isso, questões relacionadas com a crise ambiental e a ética da responsabilidade, apresentada como a ética do futuro, colocando como um dos caminhos o bem viver dos povos indígenas e a necessidade de aprender com eles na relação respeitosa e ética com a natureza em vista de respeitar a vida.
Desde a filosofia budista, inspiradora do Instituto Soka, os participantes do Seminário foram chamados a refletir sobre as relações harmônicas entre homem e natureza, mostrando a importância da Carta da Terra. Foram apresentados os valores éticos e princípios que lhes norteiam, destacando o que denominam origem dependente, que leva a entender que tudo está interligado, relacionado com o ambiente em que estamos inseridos, e a unicidade da pessoa e meio ambiente. A filosofia budista fala de três venenos: avareza, ira e estupidez, que chama a transformar em remédio. Igualmente, entender que humanismo é diferente do antropocentrismo, reconhecer o valor do ser humano e seu potencial de transformação em sabedoria, coragem e compaixão.
As religiões de Matriz Africana afirmam que “destruímos quando nos afastamos da nossa ancestralidade”. Nessa tradição religiosa, tudo tem alma, e por isso o cuidado com a terra, o cuidado com as plantas lhes remete a sua ancestralidade maior. Uma tradição religiosa muitas vezes perseguida em Manaus, sendo destacado alguns episódios em que a Igreja católica mostrou seu respeito e apoio. Ao mesmo tempo, foi denunciado os ataques do poder público, de políticos e da polícia em diferentes momentos contra os seguidores dessa tradição religiosa, que insiste em viver em harmonia para deixar um mundo melhor.
Desde o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental, inspirado na tradição jesuítica, mostrou dentro das preferências apostólicas universais da Companhia de Jesus, o colaborar no cuidado da casa comum, descrevendo a justiça socioambiental como caminho da companhia de Jesus para propagar a mensagem da Ecologia integral, sendo a Amazônia uma das áreas mais decisivas para manter o equilíbrio da natureza em função da vida. Daí seu chamado a ouvir o grito da mãe-natureza que é clamar pelos mais vulnerabilizados.
Desde a tradição evangélica, que contam com a Rede Amazonizar, foi destacado que o ecumenismo é um caminho recente, mesmo que nas famílias existe essa convivência entre diferentes confissões religiosas. No Amazonas é um caminho iniciado em 2018, sendo relatado os passos dados nesse tempo, se somando diferentes igrejas e grupos presentes na Amazônia, destacando que as diferenças das tradições religiosas acabaram se tornando algo que lhes enriquece e engrandece a rede. Ideias complementadas por outras tradições evangélicas e seus diferentes modos relação com o meio ambiente.
Não podemos esquecer que a Ecoteologia “é uma discussão que já tem um tempo, mas em termos de aprofundamento ainda é uma coisa muito nova, principalmente no meio da Amazônia, e a realização do IV Encontro de Ecoteologia aqui em Manaus faz toda a diferença”, segundo a professora Elisângela Maciel, coordenadora de extensão, pesquisa e pós-graduação da Faculdade Católica do Amazonas. Um encontro que ajude a “construir uma caminhada que faça pensar a Amazônia no futuro”, no qual “partimos de questões internas”, insistindo nas alternativas “e como nós que moramos e vivemos e lutamos pela Amazônia podemos fazer algo a mais”.
A professora disse que o propósito da Faculdade Católica do Amazonas “é implantar em nossos alunos essa semente para ser continuadores de esse processo”, tendo sido vivenciado no último dia que essa “não é uma luta da Igreja católica, como pede o Papa Francisco, uma luta pela casa comum, que diz respeito a cada um de nós, todos nós que cuidamos este Planeta e especialmente neste lugar especial que é a Amazônia”.