Por Luis Miguel Modino | Comunicação Norte I
Sinodalidade significa caminhar juntos e isso significa passar do “eu” para o “nós”, do individualismo para a comunhão, de pensar única e exclusivamente em mim, de mim e para mim, para pensar em nós, de nós e para todos nós. Uma tarefa complicada, mas na qual, com este Sínodo sobre a Sinodalidade, estão sendo dados passos importantes, pode-se até dizer irreversíveis, sem volta atrás.
Sínodo, o modo de ser da Igreja
O Papa Francisco insiste constantemente no fato de que o Sínodo é o modo de ser da Igreja, um caminho conjunto que pressupõe uma mudança de mentalidade, uma conversão pessoal, mas também uma conversão das estruturas, uma passagem de uma organização piramidal para o ser e o estar de modo circular, em mesas redondas, onde o progresso é colocado no centro, onde todos veem da mesma distância o que é fruto da comunhão, do nós.
O “nós” também deve nos levar a refletir sobre as tentativas de idolatrar pessoas específicas, pessoas que querem, se aproveitando D´Ele, ofuscar o próprio Deus, tomar o lugar do Senhor. Um “nós” que se constrói mais facilmente na medida em que nos aproximamos de Deus e nos sintonizamos com ele para descobrir sua voz no outro. O discernimento comunitário, a conversa espiritual, que não são formas novas, mas incomuns para muitas pessoas na Igreja, ajudam a avançar no “nós”, no consenso.
O Espírito como protagonista do Sínodo
É a voz do Espírito, que é o protagonista do Sínodo, que se manifesta para a comunidade, para a Igreja. Ele fez isso no Pentecostes para aquele pequeno grupo de discípulos temerosos, tem feito isso ao longo da história e há sinais de que está presente na Sala Paulo VI, em meio àqueles homens e mulheres batizados que, em sua diversidade, estão construindo um nós eclesial, um reflexo do Nós Trinitário que revela a identidade de Deus.
Essa necessidade de ser comunidade, esse “nós”, é o que faz com que os círculos menores e a Assembleia Sinodal como um todo consigam avançar em meio às tensões. A partir da partilha de uma experiência pessoal, uma peça comum é moldada com o cinzel da oração e o Instrumentum Laboris, fruto do fato de encontrar na palavra do outro, da outra, uma novidade que me confronta, que me desafia, que nos tira de nós mesmos e nos abre para a comunhão, para o nós.
A diversidade é enriquecedora quando vista do ponto de vista do “nós”.
As diferentes posições, que existem e é bom que existam, vistas a partir do “nós”, adquirem um sentido que enriquece e o faz porque é fruto de uma criatividade comum. É hora de sermos corajosos, e ganhamos coragem quando nos sentimos apoiados por um “nós” que sentimos ao nosso lado, uma coragem que leva a Igreja a parar de remendar as coisas e a entrar na dinâmica do Espírito, que, como Francisco disse muitas vezes, resolve as situações, inclusive os conflitos, transbordando, algo que não é fácil de fazer e que exige mais força quando se trata de dar certos passos.
Essa é a maneira de superar os medos e as limitações que diminuem a Igreja, que a tornam mundana, que lhe permitem ser guiada por aquele Espírito que transborda e abre novos caminhos. É sobre questões complexas que a Assembleia Sinodal é desafiada a apostar, apostar como um nós irreversível na mudança, um desejo muito presente em Francisco.