Por Márcia Maria Oliveira – Assessora da REPAM-Brasil
Desde abril deste ano, a Igreja Católica da Amazônia vive um processo sinodal. O Sínodo para a Amazônia é uma resposta do Papa Francisco depois de ouvir os povos indígenas em sua visita a Porto Maldonado, Peru, em 19 de janeiro de 2018.
Esta Assembleia sinodal será um acontecimento de extraordinária magnitude com repercussões em nível global para toda a Igreja e para o mundo inteiro, alcançando realidades muito variadas debatendo aspectos concernentes à ecologia e a salvaguarda da criação, dada a peculiar situação que esta região ocupa no planeta
O Sínodo já está em processo nas bases de toda Igreja Católica da Amazônia que já começa a realizar as “assembleias territoriais” com diversas categorias de grupos e movimentos sociais, universidades, comunidades de base, povos indígenas, ribeirinhos, agricultores, enfim, o processo é participativo e as discussões são abertas a toda sociedade e tem como ponto central a escuta dos clamores dos povos da Amazônia.
De acordo com o Documento Preparatório lançado pelo Vaticano em 08 de junho, o Sínodo pretende abrir um espaço de debate permanente sobre a riqueza do bioma Amazônia, os saberes e a diversidade de seus Povos, especialmente dos povos Indígenas, suas lutas por uma ecologia integral, seus sonhos e esperanças.
O processo sinodal se propõe reconhecer as lutas e resistências dos Povos da Amazônia que enfrentam mais de 500 anos de colonização e de projetos desenvolvimentistas pautados na exploração desmedida e na destruição da floresta e dos recursos naturais.
Ao acolher o processo sinodal, a Amazônia dá a conhecer o modo de ser de seus povos, com seus recursos de uso coletivo compartilhados num modo de vida não capitalista adotado e assimilado milenarmente. E reclama a defesa e o compromisso do cuidado desta grande Casa Comum com seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes projetos econômicos desenvolvimentistas.
A metodologia sinodal é participativa e abrange desde o processo de preparação, celebração, aplicação das orientações sinodais, escuta nas bases, sistematização e análise dos resultados que deverão contemplar aspectos sócio demográficos, pastorais, teológicos, eclesiológicos e de análise da realidade amazônica.
Num processo participativo, o sínodo se converte num espaço amplo de reconhecimento dos valores culturais dos Povos Indígenas, valorização da sua identidade como modelo de resistência ao modo de vida capitalista e como proposta do Bem Viver, que o Papa Francisco batizou de “Futuro Sereno” e “sobriedade feliz”.
O Sínodo para Amazônia ocorre num tempo oportuno no qual vivemos uma profunda crise econômica planetária e uma crise ecológica agravada pela crise climática. De acordo com o Documento Preparatório, vivemos um tempo crucial quanto ao futuro da vida humana em nosso Planeta. Apesar dos muitos gritos de alerta sobre uma vida de qualidade que valorize a necessária conexão do ser humano com o ambiente natural, nós nos sentimos motivados a empreendermos esforços para com o cuidado da vida em nossos tempos e para as futuras gerações. Mas há uma urgência quanto a esse cuidado. Em Paris, na COP21, sobre a crise climática, L. Fabius expressou esta urgência, dizendo: “Mais tarde, tarde demais” (página 56).
Ainda, de acordo com o Documento Preparatório (p. 56-57) o Sínodo nos coloca num processo de revisão e de intensa relação de cuidado com a vida e o cuidado da “nossa casa comum”, o Planeta, conforme acena o Papa Francisco. E esse cuidado requer contemplação, preocupação e compromisso. Nessa realidade tão plural da Amazônia, precisamos aguçar urgentemente nosso olhar amoroso, que contempla e admira a vida das pessoas e da mãe natureza no contexto da Amazônia e do Planeta, despertando um olhar cuidadoso, que se preocupa com os problemas encontrados na vida das pessoas e do bioma, reconhecendo suas fragilidades e se empenhando na busca soluções em favor da vida despertando a esperança de que é possível cuidar da qualidade de vida em todas as suas dimensões com ações pessoais e comunitárias de curto, médio e longo prazos pensando nas atuais e nas futuras gerações.
Essa dimensão extrapola as circunscrições da Igreja Católica e se converte em um espaço de reflexão e tomada de decisões de toda sociedade ligada à Amazônia de diversas formas, direta ou indiretamente. Isso porque, as diversas regiões do Brasil estão interligadas com a Amazônia e dependem profundamente da sua floresta que regula, por exemplo, o ciclo das águas do sudeste e do sul do país.