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*Ir. Ivoneide Queiroz

Neste breve texto abordaremos a atuação das mulheres na Igreja destacando a caminhada da mulher na Igreja da Amazônia onde contribuem na construção de uma Igreja em saída, sinodal e ministerial. Colocamos também em evidência o processo dinamizador do Papa Francisco nestes 11 anos do seu pontificado no que diz respeito ao reconhecimento do valor e dignidade da mulher, bem como no que diz respeito à indicação e inclusão das mulheres nas instâncias de decisão da Igreja.

Como sabemos, historicamente a presença feminina tem sido pequena ou nula nos Secretariados, nas Comissões, Sagradas Congregações, Concílios e Sínodos da Igreja Católica. E muitas vezes quando participam não tem poder de decisão como constatou-se até mesmo no Sínodo para a Amazônia em 2019, evento considerado sinodal em sua preparação e realização. Esse Sínodo contou com a participação recorde de 35 mulheres, mas elas não tiveram o direito de votar, inclusive aquelas que “hierarquicamente” são iguais aos homens, no caso, as representantes da União Internacional de Superioras Gerais (UISG).

Contudo, há sinais de esperanças na nossa Igreja no que se refere à valorização, reconhecimento e inclusão da mulher, afinal, temos um Papa que frequentemente tem dado sinais de que acredita na atuação das mulheres: “Percebi que toda vez que uma mulher recebe um cargo (de responsabilidade) no Vaticano, as coisas melhoram”, disse ele aos jornalistas em entrevista coletiva em 2022. No ano seguinte, em uma reunião anterior ao Sínodo da Sinodalidade, o Papa Francisco disse que “a igreja é mulher” e que “um dos grandes pecados que cometemos foi masculinizar a Igreja”. E pediu com insistência: “por favor, desmasculinizem a Igreja”. Assim, para avançar com este propósito, recentemente, em fevereiro de 2024, o Papa Francisco convocou três mulheres para participarem na reunião do Conselho de Cardeais, o maior centro de poder do Vaticano para a reflexão sobre “a dimensão feminina da Igreja”. Ainda em fevereiro de 2024, Papa Francisco também nomeou novos consultores para a Secretaria Geral do Sínodo, entre os quais estão três mulheres, uma delas é a religiosa Irmã Birgit Weiler, de origem alemã, residente na Amazônia peruana há 29 anos e María Clara Lucchetti Bingemer, teóloga brasileira e professora de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

É muito interessante perceber o quanto a caminhada na Amazônia ou na América Latina pode contribuir com a caminhada da Igreja Católica como um todo. Por isso queremos fazer memória do Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia (DPSA) que  defende que a Igreja deve fazer propostas ousadas: “É necessário identificar que tipo de ministério oficial pode ser conferido às mulheres, levando em conta o papel central que as mulheres desempenham hoje na Igreja Amazônica” (p. 44). Depois, o Documento Final do Sínodo da Amazônia (DFSA) também deixa claro: “É urgente que se promovam e se confiram ministérios para homens e mulheres de maneira equitativa para a Igreja na Amazônia” (n. 95). “É necessário que a Igreja assuma em seu seio com maior força a liderança das mulheres, e que as reconheça e promova, fortalecendo sua participação nos conselhos pastorais das paróquias e dioceses, inclusive nas instâncias de governo” (DFSA, n. 101). A Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, realizada em 2021 elaborou 12 desafios pastorais entre eles “promover a participação ativa das mulheres em ministérios, órgãos governamentais, discernimento e tomada de decisões eclesiais”.  

Na Igreja da Amazônia é visível a presença e atuação da mulher seja na catequese, na liturgia, nas CEBs, nas pastorais sociais e nos diversos espaços de formação bíblica, teológica e pastoral. Diante disso, não é demais repetir o que está na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia (QAm): “Sem as mulheres a Igreja se desmorona como teriam caído aos pedaços muitas comunidades da Amazônia se não estivessem lá as mulheres, sustentando-as, conservando-as e cuidando delas” (QAm 101). Isso tem muita importância, porém, não basta reconhecer, é necessário avançar, passar do discurso à prática. Recentemente, no Dia Internacional da Mulher, as mulheres dos Núcleos de Mulheres da CEAMA e REPAM divulgamos um Manifesto no qual expressamos vários anseios, entre eles, o direito ter acesso a funções e serviços eclesiais que “implicam uma estabilidade, reconhecimento público e um envio por parte do bispo”, como está na Exortação Querida Amazônia n. 103. 

As nossas reivindicações encontram respaldo nos documentos e atitudes do Papa Francisco, afinal desde o início do seu pontificado ele tem mostrado que é necessário dar atenção ao tema “mulher”, e que é necessário ampliar os espaços de sua participação na Igreja. Em sua primeira Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG), em 2013, Francisco vê com prazer, como muitas mulheres partilham responsabilidades pastorais juntamente com os sacerdotes, contribuem no acompanhamento às pessoas, contribuem na reflexão teológica porém, “é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja”. Francisco enaltece o “gênio feminino”, necessário em todas as expressões da vida social, por isso adverte que esta presença deve ser garantida nos vários lugares onde se tomam decisões importantes, tanto na Igreja como na sociedade (EG 103). 

Nesses 11 anos do seu pontificado, o número de mulheres que trabalham na Santa Sé e no Vaticano tem crescido significativamente. Com a nova Constituição da Cúria Romana, “Predicate Evangelium”, promulgada em março de 2022, as mulheres chegaram a ocupar lugares de maior relevo e responsabilidade no auxílio ao Pontífice como é o caso de Secretarias e Subsecretarias em Dicastérios da Cúria Romana, ou seja, as mulheres já assumem o segundo ou terceiro nível de responsabilidade. Assim, em 2022, além de cinco mulheres Subsecretarias de Dicastérios, tem uma que é a Secretária do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral: Irmã Alessandra Smerilli, Filha de Maria Auxiliadora. Também no ano de 2022 o Papa Francisco nomeou três mulheres para integrar o Dicastério que participa da escolha dos bispos. Até então esse departamento da Igreja Católica era ocupado apenas por homens. São elas: a Irmã italiana Raffaella Petrini, que já atuava como secretária geral do Governorato do Estado da Cidade do Vaticano, a Irmã Yvonne Reungoat, ex-madre superiora geral das Filhas de Maria Auxiliadora e a Senhora Maria Lia Zervino, presidente da União mundial das organizações femininas católicas. Outra mulher, considerada uma das mais influentes no Vaticano, a Irmã Nathalie Becquart, religiosa da Congregação das Xaverianas, foi nomeada pelo Papa Francisco como Subsecretária do Secretariado Geral dos Bispos. Com esta nomeação ela se tornou a primeira mulher com direito a voto durante uma Assembleia de Bispos. E não ficou somente nisso: juntamente com ela, várias mulheres puderam votar na Primeira Seção da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos e aguardam a Segunda Seção que acontecerá em outubro de 2024 no desejo de construir uma Igreja sinodal, inclusiva e ministerial.

*Ivoneide Viana de Queiroz, Doutora em Teologia Sistemático-Pastoral pela Universidade Católica do Paraná – PUC-PR; Mestra em Missiologia pelo Instituto Teológico São Paulo – ITESP; Especialista em Ecologia Urbana pela  Universidade Internacional – UNINTER; Bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP; Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia do Recife – FAFIRE. Religiosa da Congregação Franciscana de Maristella; Ganhadora do Prêmio Erwin Kräutler de Teologia Contextual, Diálogo Interreligioso e Pesquisa Teológica da Libertação. É missionária na Amazônia desde 2012. Atualmente é Coordenadora da Conferência da Família Franciscana no Regional PA/AP; faz parte do Núcleo de Mulheres da CEAMA e colabora no COMIDI da Arquidiocese de Belém. Reside em Belém – PA e é membro do GT de Mulheres Cirandeiras e do Núcleo das  Mulheres e Amazônia da Rede Eclesial Pan-Amazônica REPAM-Brasil. 

Contato: ivoneideq@hotmail.com

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