Notícia

Na manhã desta segunda-feira, 24, a décima primeira edição do Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) divulgou a carta final da atividade, realizada entre os dias 12 e 15 de junho, em Rurrenabaque, na Bolívia. O documento “Mandato de Rurrenabaque” reúne as conclusões do fórum e a posição política do Comitê Internacional do FOSPA.  

Ao final da carta, o FOSPA renovou seu compromisso com a “luta dos povos indígenas, quilombolas, negros raizais, afrodescendentes, povos tradicionais e camponeses da Amazônia, dos Andes e de todo o mundo”.  

“Nenhum governo pode arrogar-se o direito de falar em nosso nome. Por isso, frente ao fracasso das negociações climáticas, convocamos a construir um acordo pela vida, para enfrentar o colapso climático e ecológico. Por isso, estamos ombro a ombro com a luta dos povos indígenas, quilombolas, negros raizais, afrodescendentes, povos tradicionais e camponeses da Amazônia, dos Andes e de todo o mundo. Por isso, defendemos os direitos da juventude, das mulheres, meninas, meninos e adolescentes, da população LGBTQI+ e dos moradores e moradoras das zonas rurais e periferias de nossas cidades. Por isso, defendemos os direitos da Natureza, fonte de nossa vida”, diz um trecho da carta.  

Veja abaixo a íntegra da final do XI FOSPA em português ou clique AQUI e acesse a versão em espanhol.

MANDATO DE RURRENABAQUE 

Neste dia, 15 de junho de 2024, concluímos a décima primeira edição do Fórum Social Pan-Amazônico. Agradecemos ao povo de Rurrenabaque, San Buenaventura e ao Comitê FOSPA Bolívia, que tornaram possível este encontro poderoso, com delegações da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, contando com organizações e movimentos que abrangem toda a diversidade dos povos da Amazônia. 

Em quatro dias de debates, assembleias, ação cultural, iniciativas de ação e eventos autogeridos, Tribunal das Mulheres e visitas in loco às comunidades indígenas e ribeirinhas. Desde a Pan-Amazônia, fortalecemos nossa disposição de lutar pela humanidade e pelo planeta. Vinte e dois anos após sua fundação, o Fórum Social Pan-Amazônico continua sendo um processo que converge e impulsiona as lutas dos povos amazônicos. 

Este XI FOSPA nos dá a certeza da vitalidade e do futuro de nosso movimento. Nos reunimos em um momento ameaçador para a humanidade e o planeta. As guerras, a fome e os desastres climáticos são processos que se retroalimentam, reproduzindo e ampliando a crise sistêmica do capitalismo. Em uma corrida desenfreada para o abismo, a crise global está gerando um conjunto de falsas soluções, conhecidas como projetos verdes, que alimentam uma nova onda de exploração predatória da natureza e o despojo dos povos. 

Na cena política, os efeitos mais nefastos são o recrudescimento da extrema direita, do fascismo, do patriarcado, racismo e os fundamentalismos. No entanto, mesmo nos regimes democráticos da região, estão em andamento tendências regressivas, com ataques aos Direitos Humanos, perseguição, criminalização e assassinato de seus defensores e defensoras. Por isso, exigimos ratificar e implementar o Acordo de Escazú. 

Desde o coração de nossas florestas, pelo fluxo de nossos rios, com a força de nossas cidades, por dentro de nossos corpos e territórios livres, as mulheres, pessoas LGBTQI+, homens amazônicos, proclamamos nosso repúdio a este estado de coisas e nossa disposição de lutar por um mundo onde os territórios dos povos se autogovernem, regidos pela democracia comunitária, onde a Amazônia e toda a natureza sejam reconhecidas como sujeitos de direitos, onde a desigualdade entre homens e mulheres seja extinta, a população LGBTQI+ goze de plena cidadania e os povos possam exercer livremente suas culturas, espiritualidades, ancestralidades e identidades étnicas. Um mundo onde a cultura seja a principal promotora da harmonia e solidariedade. 

Nossa luta pelo futuro se faz agora. É por isso que manifestamos nossa total solidariedade ao povo da Palestina, exigimos o fim do genocídio e lançamos nosso grito de “Palestina Livre!” Igualmente, somos solidários e solidárias com todos os povos que lutam contra a dominação colonial, em especial com o povo canaco no Pacífico Sul, o povo saaraui na África, e na Amazônia, exigimos que a ONU volte a colocar a Guiana na lista de territórios a serem descolonizados, com o reconhecimento dos povos indígenas e suas autonomias. 

Temos a certeza de que não existem soluções se os povos não forem consultados. É fundamental que em espaços como as Conferências Mundiais sobre as Mudanças Climáticas e a Biodiversidade, as representações de movimentos e povos tenham livre acesso ao que está sendo deliberado e possam apresentar suas propostas e alternativas, e que as mesmas sejam consideradas. 

Nenhum governo pode arrogar-se o direito de falar em nosso nome. Por isso, frente ao fracasso das negociações climáticas, convocamos a construir um acordo pela vida, para enfrentar o colapso climático e ecológico. Por isso, estamos ombro a ombro com a luta dos povos indígenas, quilombolas, negros raizais, afrodescendentes, povos tradicionais e camponeses da Amazônia, dos Andes e de todo o mundo. Por isso, defendemos os direitos da juventude, das mulheres, meninas, meninos e adolescentes, da população LGBTQI+ e dos moradores e moradoras das zonas rurais e periferias de nossas cidades. Por isso, defendemos os direitos da Natureza, fonte de nossa vida. 

Nestes quatro dias, convivemos, aprendemos e desenvolvemos um processo de discussão coletiva, cujo resultado apresentamos agora, nas resoluções aprovadas nas Assembleias Temáticas do XI Fórum Social Pan-Amazônico. Estamos seguros de que estas palavras e o sentimento que aqui vivenciamos iluminarão nosso caminho e serão como mandatos para impulsionar as iniciativas e lutas de nossos povos. 

VIVA O FÓRUM SOCIAL PAN-AMAZÔNICO! 

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