Notícia

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) celebra no dia 12 de setembro 10 anos de fundação. Nascida do desejo da Igreja em Aparecida, a REPAM tem buscado promover o intercâmbio entre entidades eclesiais, fomentar relacionamentos e contatos, laços e vínculos entre as igrejas particulares da Amazônia.

Além disso, a REPAM, como rede, tem muito chão pela frente no sentido de discutir temas como a ameaça à sobrevivência cultural e física dos povos indígenas, a penúria Eucarística de que sofre milhares de comunidades e a questão dos ministérios ordenados, bem como o acesso da mulher aos mesmos.

Essas são alguns dos assuntos apresentados por Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu e ex-presidente da REPAM-Brasil, que em entrevista a Assessoria de Comunicação falou dos primeiros anos, dos desafios e das conquistas.

REPAM: Dom Erwin, como surgiu a inspiração para criar uma rede na região amazônica?

Dom Erwin: A REPAM nasceu 7 anos depois da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida 2007. Naquela assembleia, a Amazônia não foi logo um tema que merecesse atenção maior. Eu fui delegado da CNBB, sofri com esse aparentemente pouco caso, senti até uma angústia – O que estou fazendo aqui, pensei como bispo da Amazônia? Precisava de um discurso do Papa Bento XVI aos jovens, no Estádio do Pacaembu em São Paulo, para os bispos participantes da Conferência finalmente caírem na real e abandonarem uma visão míope de considerar a Amazônia uma região como qualquer outra na América Latina. O Papa Bento XVI chamou a atenção sobre a devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana de seus povos, como acontece em todas as conferências e assembleias, no final da jornada surge o mundo de proposições, mas no documento de Aparecida há uma toda especial “criar nas Américas consciência sobre a importância da Amazônia para toda humanidade. Estabelecer entre as igrejas locais dos diversos países sul-americanos, que estão da bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum”. Aplaudimos, mas levou 7 longos anos para que esta proposição saísse da condição de letra morta, e precisava ainda mais um empurrão vindo de um Papa, já não era mais o Bento XVI, agora é Francisco, pouco depois de eleito o novo sucessor de Pedro veio ao Brasil e participou da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, aproveitou o ensejo e se reuniu com o episcopado brasileiro, em 27 de julho 2013, e não deixou por menos chamou a atenção dos bispos do Brasil proclamando que a Amazônia é um teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileira, e já que a Amazônia não é apenas brasileira, mas abrange em grau maior 9 países da América Latina, as advertências do Papa Francisco surtiram finalmente o efeito de cumprir com a proposição da Conferência de Aparecida, e foi criada a REPAM – Rede eclesial Pan-Amazônica.

REPAM: Qual a finalidade fundacional?

Dom Erwin: A finalidade fundacional da REPAM é a articulação e comunhão que busca estreitar os laços de colaboração e alcançar uma visão comum do trabalho missionário evangelizador na região. Quais são os problemas que as igrejas locais enfrentam, e são muito semelhantes em todos esses países da Pan-Amazônia? Ora, a Amazônia sofre em toda a sua extensão brutais e inescrupulosas agressões a sua integridade ecológica. Grandes empresas avançam e levam este mundo de selva e águas com cada vez maior rapidez a um ponto de não haver mais retorno, isto é, de não mais existirem possibilidades de remediar a situação, porque a Amazônia na sua exuberância e na sua função reguladora do clima do planeta entrou em colapso. Outra questão é a ameaça à sobrevivência cultural e física dos povos indígenas, este é igualmente um problema em toda a Pan-Amazônia. E não podemos deixar de falar também da penúria Eucarística de que sofre milhares de comunidades e a questão dos ministérios ordenados, e o acesso da mulher aos mesmos, também, isto é um tema abrangente e requer, uma abordagem e respostas em nível Pan-Amazônico. REPAM, como rede, tem muito chão pela frente no sentido discutir esses e outros temas de suma importância para a Igreja na Amazônia.

REPAM: Quais são os desafios que a Rede tem enfrentado para se consolidar?

Dom Erwin: Embora já celebremos 10 anos de sua existência a REPAM ainda não conseguiu aterrissar em todos os quadrantes da Amazônia, não é culpa de dirigentes, de jeito nenhum, ou do seu secretariado, que aliás é muito empenhado e muito competente, mas em algumas igrejas locais continuam uma certa relutância. Recordo-me muito bem da reunião dos bispos da Amazônia em Aparecida, em 2015, durante a assembleia geral da CNBB, quando o saudoso cardeal Dom Cláudio Hummes apresentou a Rede Eclesial Pan-Amazônica que havia sido criada em 12 de setembro de 2014, a primeira reação dos bispos não foi lá muito entusiasmada. Mais um organismo? Falaram uns, já tem tantos, os outros criticaram a Rede como uma iniciativa de cima para baixo, querendo dizer que não nasceu de uma necessidade e urgência sentidas pelas dioceses nas bases. A verdade é, que os bispos não se lembraram mais da proposição apresentada e votada em maio de 2007 na Conferência de Aparecida. A REPAM não foi fundada para substituir alguma instituição, ou pior para concorrer, ou até rivalizar com agremiações, conselhos ou comitês já existentes. Definitivamente não se trata de mais um organismo falado de outros tantos, mas é uma Rede, que tem por objetivo promover ou facilitar o intercâmbio entre entidades eclesiais, fomentar relacionamentos e contatos, laços e vínculos entre as igrejas particulares da Amazônia.

REPAM: Quais são as conquistas que podem ser destacadas nestes 10 anos?

Dom Erwin: Especificar tudo o que foi realizado durante os 10 anos passados em toda a Pan-Amazônia é quase impossível, inúmeros encontros, seminários aconteceram, e que Deus seja louvado por tudo isso. Quero apenas destacar duas grandes atividades que abrangiam toda a Pan-Amazônia: a primeira é a recepção, a acolhida da Encíclica Laudato Si nas bases. O Papa Francisco promulgou a Laudato Si em Pentecostes de 2015, e iniciou-se uma imensa movimentação em todos os níveis para colocar esse importante documento sobre o cuidado da Casa Comum nas mãos do povo. Seminários e assembleias pipocaram em toda a Pan-Amazônia, creio que nunca uma Encíclica papal recebeu tanta atenção, e isso graças ao empenho da REPAM. O segundo grande desafio foi a preparação do Sínodo especial para a região Pan-Amazônica convocado pelo Papa Francisco no dia 15 de outubro de 2017, pela primeira vez na história dos Sínodos um papa insistia em ouvir o povo como o primeiro passo para realizar um Sínodo. Por duas vezes a REPAM esteve no Vaticano, preparamos um questionário amplamente divulgado na Pan-Amazônia, indígenas quilombolas, ribeirinhos, povo do campo e da cidade se reuniram, até evangélicos participaram. Durante 7 meses mais de 87 mil pessoas foram consultadas, entre elas, membros das 172 etnias indígenas e o resultado das consultas foi sintonizado pela REPAM, primeiro por região e depois em nível de toda a Amazônia. A síntese das sínteses foi enviada para a Secretaria geral do Sínodo no Vaticano. O povo realmente falou e deu sua opinião sobre a missão da Igreja na Amazônia, lamentavelmente nem todas as questões apresentadas pelas bases obtiveram uma resposta sinodal, ou pós-sinodal.

REPAM: Deixe uma mensagem aos integrantes da RREPAM

Dom Erwin: Peço a Deus, que a REPAM continue sua missão com garra e com paixão caminhando como se vissem o invisível.

Assessoria de Comunicação da REPAM – Brasil

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário