As assembleias, que em 2024 está sendo realizada de 16 a 19 de setembro na Maromba de Manaus, sempre são um momento marcante na caminhada da Igreja do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1). Em 2024, 80 representantes das nove igrejas locais e das pastorais participam da assembleia, mais uma expressão da profunda comunhão existente no Regional, que se concretiza em tantas iniciativas comuns que acontecem.
Um Igreja Regional iluminada pela metáfora do corpo e seus membros, que São Paulo usa na Carta aos Coríntios, passagem lida na Eucaristia do dia, presidida pelo bispo emérito de São Gabriel da Cachoeira, dom Edson Damian. Ele destacou que “a fonte de tudo está no batismo”, da diversidade que garante a unidade, lembrando que a assembleia tem como um dos seus objetivos “descobrir e reconhecer novos ministérios, tão necessários para as nossas comunidades”, insistindo em que as mulheres participem deles, que desde a primeira Igreja tem sido protagonistas na missão da Igreja, também na Igreja da Amazônia.
Dom Edson Damian disse que ao longo da história a Igreja foi discernindo a criação de novos ministérios para responder às necessidades que iam surgindo. Igualmente, em vista da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, o bispo emérito de São Gabriel da Cachoeira, disse que o cardeal Steiner, que irá participar como membro, “certamente levará em seu coração a caminhada da nossa Igreja, a nossa sinodalidade, e também as conclusões dessa nossa assembleia”. Além disso, os estigmas da Amazônia e dos povos que a habitam.
Igualmente, dom Edson Damian, comentando o Evangelho do dia, destacou três palavras do Papa Francisco que definem o jeito de agir de Deus: proximidade, misericórdia e ternura. Para isso o bispo pediu “que o Espírito Santo nos ensine, nos ajude, a ser semelhantes ao nosso amado irmão Jesus, agindo sempre com proximidade, misericórdia e ternura”.
A caminhada do Regional se concretiza de diversos modos ao longo do ano, algo que foi recolhido no Relatório da Presidência, apresentado pelo bispo de Alto Solimões e vice-presidente do Regional Norte1, dom Adolfo Zon, e a secretária executiva, Ir. Rose Bertoldo. São os passos dados em nível universal, continental, nacional e regional, que mostram a vida que palpita nas pastorais e nas igrejas locais.
Refletindo sobre a temática da assembleia, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1, cardeal Leonardo Ulrich Steiner aprofundou a questão da “Igreja sinodal na Esperança, discípula missionária”. Ele partiu do conceito de evangelização, enfatizando que “o que nós anunciamos é o Reino de Deus”, afirmando que Jesus não pregou a Igreja, pregou o modo de ser, que é o Reino de Deus. O presidente do Regional disse que “nossas igrejas têm razão de ser porque existem comunidades que visibilizam o Reino de Deus e sua justiça”.
Falando sobre missionariedade, o cardeal refletiu sobre a importância de ser enviado, de entender que a missão é recebida. Em uma Igreja discípula, com comunidades discípulas, pois, recordando as palavras do Papa Bento XVI: “discipulado e missão os dois lados de uma mesma moeda”. Se faz necessário ardor missionário para ser instrumento do Espírito na Igreja, “os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança de lado e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais”, segundo afirma Papa Francisco na Evangelii Gaudium.
Falando sobre o atual processo sinodal, em que o cardeal Steiner é membro da assembleia sinodal, ele destacou que “a sinodalidade está presente na Amazônia há décadas”, vendo no Encontro de Santarém 1972 um momento decisivo nesse caminhar juntos, enfatizando que “quanto mais a Igreja é sinodal mais a autoridade cresce”. Uma Igreja Povo de Deus, que “visibiliza o todos a caminho: todos a serviço, todos a celebrar, todos a buscar, todos a anunciar, todos na fé”.
Não podemos esquecer que “sinodalidade tem a ver com Povo de Deus, constituído por todos os batizados”, disse o cardeal. Ele citou Lumen Gentium, que chama a “serem casa espiritual, sacerdócio santo”, afirmando que a Sinodalidade não é uma questão restrita a organização ou funcionamento eclesial, mas pertence à própria natureza da Igreja. Uma Igreja sinodal tem que ser “lugar aberto, onde todos se sintam em casa e possam participar”, uma Igreja da proximidade, que leva em consideração os ministérios, carismas, serviços e dons do Povo de Deus.
Uma Igreja que tem que levar em consideração as comunidades, “é lá que acontece a vida da Igreja”, sublinhou o cardeal Steiner. Comunidades chamadas a ser “um lugar aberto, onde todos se sintam em casa e possam participar”, tendo como fundamento a encarnação e libertação, os povos originários, a casa comum, os sonhos do Papa Francisco na Querida Amazônia, as palavras do Papa Paulo Vi, Cristo aponta para a Amazônia, ressaltando de novo a importância das comunidades e de fortalecer nelas a ministerialidade, elemento que será refletido ao longo da assembleia na busca da encarnação e libertação.
A ministerialidade é o tema a ser discutido durante a assembleia, com a assessoria da Ir. Sônia Matos, e os padres Elcivan Alencar e Raimundo Gordiano, que iniciaram sua fala mostrando como essa dinâmica foi marcando a vida das igrejas do Regional e sua vocação. O número 94 da Querida Amazônia afirma que “uma Igreja de rostos amazónicos requer a presença estável de responsáveis leigos, maduros e dotados de autoridade, que conheçam as línguas, as culturas, a experiência espiritual e o modo de viver em comunidade de cada lugar, ao mesmo tempo que deixem espaço à multiplicidade dos dons que o Espírito Santo semeia em todos”, palavras que fundamentam a ministerialidade, advogando por uma Igreja marcadamente laical.
Mesmo diante dos fundamentos teóricos, existem dificuldades para concretizar a ministerialidade, mas a Igreja do Regional continua caminhando, centrada naquilo que é essencial, que façam remar juntos, segundo os ventos do Espírito, para aportar no Reino, sendo a ministerialidade o modo para em sinodalidade caminharmos segundo o Espírito, é o Espírito que vai guiando as velas. Uma Igreja sustentada no batismo, que se entende como Povo de Deus, sendo os ministérios o modo de expressar a identidade e evangelizar, dando resposta aos sinais dos tempos: o grande serviço que a Igreja oferece é a evangelização, segundo afirma o Documento de Puebla, que apresenta critérios pastorais e perigos com relação aos ministérios: não clericalizar os leigos, que os pastores ratifiquem a vocação, variedade e diversidade segundo as necessidades da comunidade, dentre outros.
O perigo está quando o sacramento da ordem prevalece sobre o sacramento do batismo, que tem como consequência a sacramentalização, reações de poder e tensão, os leigos vistos como colaboradores e não como corresponsáveis, com tudo centrado na paróquia e na figura do pároco. Quando prevalece o sacramento do batismo, o sujeito eclesial é o discípulo/a missionário/a, ampliando o cuidado para o Corpo Cósmico de Cristo, com relações sinodais, promovendo o discernimento, em uma comunidade ministerial. Para isso se faz necessário formação sobre esse modo de ser Igreja.
A Igreja do Regional Norte1 é desafiada a olhar como ela vive a ministerialidade e se essa ministerialidade é por escolha ou por carência de ministros ordenados, que subordina os leigos e não lhes dá protagonismo. Algo que já era refletido na Assembleia Regional Norte1 de 1998, que insistia no serviço da unidade, da fé, da caridade, da justiça e do direito. Isso em vista de três necessidades: formação de lideranças, aprofundamento da visão da fé, incidência social, ministério litúrgico. São elementos que permitem avançar nos ministérios, pois o Espírito suscita carismas.
Uma dinâmica que demanda novos ministérios, como é o de cuidadores da casa comum, diante do grito da Amazônia, que demanda o cuidado da vida, o ministério da assessoria, da coordenação, da diaconia, destacando a ministerialidade da mulher, algo inspirado na Querida Amazônia, que afirma que na Amazónia, “durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente”, pois “sem as mulheres, ela se desmorona, como teriam caído aos pedaços muitas comunidades da Amazónia se não estivessem lá as mulheres, sustentando-as, conservando-as e cuidando delas”. Daí a necessidade de as mulheres participar dos espaços de decisão, sendo reconhecido seu carisma e ministério, que não vai mudar o que as mulheres fazem, mas sim o que elas são. Para isso, “não tenhamos medo, não cortemos as asas do Espírito Santo” (QA 69).
Por: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
Reprodução: CNBB Norte1