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No 25º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferêcia Nacional dos Bispos do Brasil, cardeal Leonardo Steiner, lembrando “Jesus no Evangelho a nos recordar o ensinamento: ‘O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens e eles o matarão. Mas, três dias após a morte, ele ressuscitará’.”

Segundo o cardeal “esse ensinamento é um caminho.” Recordando o texto do evangelho, ele disse que “atravessam a Galileia e chegam a Cafarnaum. Enquanto caminhavam, estando a caminho, Jesus introduz os discípulos no caminho do verdadeiro seguimento. No atravessar a Galileia e chegar a Cafarnaum o anúncio do sofrimento e da morte e da ressurreição. E enquanto caminhavam dos discípulos buscam compreender o significado, a força, a fraqueza do ensinar: morrer e viver. O anúncio no caminhar faz nascer dúvidas, incertezas, proposições, não conclusões. No não entender do novo ensinamento, vem a percepção de um caminho desastroso.” Diante disso o arcebispo questionou “A morte deveria instaurar o novo reino? Qual o lugar de cada discípulo haveria de ocupar nesse novo reino? Qual o cargo que cada um exerceria no novo reino?”

“Jesus não intervém, deixa que eles discutam, reflitam ao caminhar o novo reino. E eles o entenderam apenas como o reino do poder, dos títulos, dos lugares a ocupar. Não conseguiam perceber que há um morrer para o poder, para os títulos, para os lugares a ocuparem. No novo reino, não servem títulos, poder, lugar especial. Para entrar na vida nova que o Reino oferece, há necessidade de percorrer o caminho novo: a do ser menor, servidor. O caminho para chegar à casa onde se está em casa e onde há apenas familiaridade, convivência, serviço mútuo, conversa solta, acolhimento, prazer de estar em casa. Ali na casa não há poder, nem títulos valem; a casa é o lugar que acolhe, não se ocupa nenhum lugar, pois todos tem lugar”, sublinhou o cardeal.

Citando o texto evangélico: “Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: O que discutíeis pelo caminho? Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior”, o arcebispo de Manaus disse que “ao chegarem em casa, na vila da graça, na casa de Jesus e de todos, percebem na pergunta de Jesus que as discussões estavam distantes da casa de todos. Por isso o silêncio. O silêncio que recolhe o discutido e o não discutido, o que estava fora do caminho da vida nova, do reino novo. Haviam discutido, poder e se dão conta, na casa da simplicidade, na moradia comum, que o espaço é outro, o conviver é outro: é servir, ser o último.”

Analisando o relato, o cardeal Steiner, afirmou que “Jesus se senta, chama os discípulos, como uma mãe que chama o filho para uma conversa de vida, de afeto. Ali na proximidade, na intimidade, coração a coração, ensina”, disse citando o texto: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” Nessa atitude, ele destacou “quanta delicadeza de Jesus em relação aos discípulos, sem grito, sem acusação, sem dar lição de moralista, sem desfazer, se faz próximo e revela o segredo da vida que Ele anuncia: servir! O primeiro a servir, o primeiro lugar é servir, o título é servir, a autoridade do servir. Ali na intimidade de quem deseja mostrar a grandeza da nossa humanidade e divindade, Ele aponta para o horizonte do ser o último, aquele, aquela que serve a todos.”

Imaginando a reação de Jesus, o cardeal disse que “em seguida, deve ter saído pelas ruas de Cafarnaum a buscar uma criança e a traz para perto dos discípulos. Na criança apresenta o modo de viver e de ser na vida que ele pode ofertar, oferecer”, citando um novo versículo: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças é a mim que estará acolhendo”.

Diante dessa atitude, ele perguntou: “O que significa acolher a Jesus como uma criança?”, dando um exemplo concreto e iluminador: “a simplicidade e inocência da criança. A criança a vida no frescor, na limpidez e na pureza de sua origem, de sua fonte. Viver no vigor da simplicidade e da inocência original, assim como nossos primeiros pais se relacionavam e confraternizavam entre si, com o Criador e com todas as criaturas. A soberba, a vanglória, a ambição pelo primeiro lugar, ofuscam a limpidez das relações. Ao abraçar a criança e indicá-la como caminho aos discípulos, Jesus mostra que os pequenos e pobres, os simples e humildes são o nosso futuro, o caminho dos céus. É que a humildade, a simplicidade, a liberdade, o ser que tende para a maturidade é a nossa autonomia, a liberdade, a humildade da cruz, do Pão.”

Segundo o cardeal, inspirado em Fernandes e Fassini, “o abraço de Jesus à criança está indicando, também, que a regência do mundo e da história, a partir Dele – o Menino Deus, de sua Encarnação – não está mais com os poderosos, mas com os pequenos, os humildes, as crianças, os anawin. Por isso, Jesus ensina os discípulos não só a acolher a criança, como também a ser, a reger-se como criança. Não nos convida a sermos crianças, infantis, ingênuos, nem mesmo viver como se fôssemos crianças, mas a serem como crianças. Como na dinâmica, no modo de viver sem ressentimentos, sem escondimentos, mas na suavidade e força da criança de Belém. Portanto, fugirmos do fingir ser criança. Ser verdadeiramente como criança, toda a possibilidade de ser. Tornar-se como criança pede virada, conversão, transformação radical: limpo, puro, inocente, ainda sem fala, sem interpretação: somente ser! Ou fala sem falar, pela doçura da presença silenciosa.”

A grandeza do ser-criança está na sua simplicidade. Simples é o que não tem dobras, isto é, o que não está enrolado em si mesmo, mas o que é um, o que é exposto e disposto na coragem e na jovialidade de ser, muito bem descrito por Guimarães Rosa, em sua obra ‘Corpo de Baile’”, disse dom Leonardo. Segundo ele, “trata-se da história intitulada ‘Campo Geral’ e que tem como personagens centrais dois irmãozinhos: Miguilim e Dito. A conclusão da história é de uma beleza e quase ingenuidade: “Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma”. (Rosa, João Guimarães. Corpo de Baile, volume 1, p. 129) Sim, ser criança, no modo de ser de Jesus: como os lírios do campo, como os pássaros do céu!”

O cardeal enfatizou que “o desejo de ser maior, sufoca, destrói, desvia do caminho de ser seguidor, seguidora de Jesus. Ser maior, tem cheiro de dominação, gosto de poder, desvio de ser mais que os outros, de ser o primeiro da fila para receber”, citando o texto do evangelho: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” Para o arcebispo, “ser o último, ser o servidor, o libertador, o doador da vida, da esperança. Servir a todos: aquele, aquela que está a alimentar, a oferecer vida, a consolar, desperta gosto de viver, oferece força para caminhar. O último porque percebe as necessidades, os sofrimentos, os desânimos e se coloca a serviço. O último porque vê a todos, tem a visão do todo, da totalidade. Nada lhe escapa do olhar. Como dizia Dito a Miguilim: “o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, …”.  Ele a indicar o essencial, a essência da vida! Descortina a grandeza de ser que, no desprendimento, no recolhimento da serenidade jovial, a serenidade e a suavidade da liberdade: a criança.”

“Se Jesus pôs um menino no meio dos seus discípulos reunidos, foi também para que eles próprios aceitassem ser pequeninos”, sublinhou o cardeal. Segundo ele, “ao vermos Jesus apresentar uma criança como caminho da fé, como ele deu atenção particular às crianças, somos provocados a volver nosso olhar, nossa atenção para os desprotegidos. Especialmente para as crianças! O que a ela fizermos é a ele, Jesus, que estamos a fazer (Mateus 25,40). Os menores dos seus irmãos, os que pouco contam e que são tratados de qualquer maneira, os que são rejeitados, desprezados porque sem poder, sem prestígio, são o caminho para viver em comunhão com Jesus. O cuidado com as nossas crianças.” O arcebispo lembrou “quantas crianças com necessidades de comida, roupa, educação, afeto, apoio. Quantas crianças abusadas sexualmente, quantas desorientadas na convivência, na vida afetiva. ‘Quem acolher em meu nome uma destas crianças é a mim que estará acolhendo’. Cuidar das nossas crianças é cuidar da nossa humanidade.”

Acolher uma criança é acolher uma promessa. Uma criança cresce e se desenvolve. É assim que o Reino de Deus nunca é na terra uma realidade acabada, mas sim uma promessa, uma dinâmica e um crescimento inacabado”, disse o cardeal Steiner.

Na Segunda Leitura, ele destacou “a sabedoria que vem do alto”. Falando de “um Reino novo, onde há harmonia, pela graça do ser como criança!”, pedindo que “deixemos atrair pela sabedoria da transparência, do modo de viver que conduz para o alto!” Já na Primeira Leitura destacou “a verdadeira sabedoria, seguir Jesus, ajuda-nos a perceber o caminho da fé, a confiança de uma criança. Na condenação, na acusação, nos percebemos seguros em Deus como uma criança junto à sua mãe. Como cantávamos no refrão da salmodia: É o Senhor quem sustenta minha vida! Deus sempre será o nosso sustento, a nossa segurança! Em todas as cruzes e dores, nos achegamos a Ele com a confiança de uma criança.”

Por: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Reprodução: CNBB Norte1

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