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A mudança na dinâmica de vidas das populações afetadas pela seca mudou fortemente, as principais problemáticas encontradas vão desde o isolamento das comunidades até a falta de água adequada para consumo

Por Daniela Pantoja

Não é mais uma novidade a que seca dos rios em algumas regiões amazônicas têm afetado fortemente a vida social e econômica das comunidades. Apesar de ser um lugar rodeado de água, infelizmente o acesso a esse bem comum tem sido bastante difícil.

Rios estão secando por completo, florestas estão em chamas e comunidades estão ficando isoladas e sem água adequada para o consumo.

Na Comunidade Vila Barroso, no município de Uarini, no estado do Amazonas, a seca nesses últimos dois anos já impactou fortemente a região, antes as praias não apareciam tanto como agora e tal situação tem dificultado a logística da comunidade.

Valmir Lima Ramos, morador de Vila Barroso destaca que as principais problema enfrentados é justamente a locomoção da comunidade para o município. “Bom, os principais problemas que a gente tem enfrentado aqui devido à seca é a locomoção nossa da comunidade para cidade. Porque devido essa grande estiagem as duas saídas da comunidade ficaram vedadas. Onde um dia era rio, hoje só é praia. E a gente andar quilômetros para poder gente poder chegar no rio, pegar outro barco pra ir pra cidade. É muito dificultoso isso pra gente”.

Ao ser questionado se já tinha vivenciado uma seca como essa, o comunitário não hesita em dizer que não, e ainda acrescenta que sim, as mudanças climáticas são um dos motivos. “A gente nunca tinha vivenciado uma seca dessa proporção. Os impactos também são por conta das mudanças climáticas, é um motivo pra acontecer isso, porque se as pessoas desmatassem menos, poluíssem menos, isso não acontecia. Cada dia que passa está ficando pior, cada ano que passa a gente tem enfrentado dificuldades maiores”, salienta, o comunitário de Vila Barroso.

A mesma situação também pode ser observada e sentida de perto por alguns comunitários do município de Óbidos, no Estado do Pará, algumas localidades estão praticamente isoladas, água e o pescado está cada vez mais escasso.

Para Josana da Costa, moradora da comunidade de Amador e que também faz parte do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), não há dúvidas que os impactos estão relacionados as mudanças climáticas. “Se a gente olhar assim pra realidade que nós estamos vivendo hoje, é claro que nós apresentamos sempre esses impactos relacionados as mudanças climáticas. Isso nós entendemos que devidamente tanto a agressão que a natureza tem sofrido, tanto desmatamento, tanta poluição, tantos rios sendo assoreados e barragens que estão sendo feitas. Essas são as consequências que nós estamos sofrendo por conta de tantos crimes contra a natureza”.

Em relação ao que deveria ser feito por parte dos governos, Josana pontua que os governantes poderiam pensar em microssistemas de abastecimento e de tratamento e de água nas comunidades mais atingidas, no entanto a sociedade também deve fazer a sua parte. “. Eu penso ainda que uma das coisas que poderiam ser melhorado é o próprio ser humano mesmo contribuir com o meio ambiente, ajudar a fazer reflorestamento, evitar tanto a poluição e assim os nossos governantes pensarem em microssistemas de abastecimento e tratamento de água nas comunidades mais atingidas por essa grande estiagem que tudo nos liga a essa emergência climática”.

No estado de Rondônia as problemáticas praticamente são as mesmas, pois o Rio Madeira já registra a maior seca histórica, e a estiagem ameaça também o fornecimento de água e energia.

De acordo com Emanuel Pontes, que faz parte do Instituto Madeira Vivo (IMV), a escassez do pescado, o isolamento das comunidades, e principalmente o acesso a água adequada para o consumo são situações agravantes. “Populações indígenas e populações que vivem nas áreas urbanas tem enfrentado um uma série de dificuldades e problemas que ameaçam a sua própria sobrevivência. Um dos aspectos é a escassez da água potável por conta do isolamento dessas comunidades, mas também da escassez dos pescados, haja visto que boa parte dessas comunidades vivem e sobrevivem da pesca artesanal, mas também da agricultura que tanto para a sua autossubsistência como a comercialização desses produtos que no momento estão interrompidos justamente porque essas comunidades estão isoladas”, pontua, Emanuel.

Além disso o aumento significativo nos focos de incêndios e queimadas está apresentando sérias consequências para o clima, a biodiversidade e as comunidades locais.

Emanuel Pontes, ressalta que diante dessa situação, as comunidades e a sociedade civil mobilizam ato e ações para denunciar a ausência de medidas emergenciais em relação a seca histórica dos rios e também das queimadas que tem deixado a população em situação alarmante. “Então nós juntamente com o Comitê popular de enfrentamento da crise hídrica e das mudanças climáticas que é composto aí por um conjunto de organizações e de movimentos populares cobramos dos poderes públicos para que tomem medidas emergenciais em torno de promover o acesso a alimentação e a água potável a essas comunidades, mas também exigimos que se constituam alguns fundos para os pescadores que já não tem mais o seu pescado, para que possam sobreviver”.

Apesar de lugares diferentes se observa que as problemáticas são parecidas. Por outro lado, é interessante saber que os próprios comunitários se mobilizam para tentar minimizar esses danos, porém os governos precisam conhecer de perto essa realidade e assim traçar estratégias eficientes para atender os anseios das populações, pois não se trata mais de crise climática e sim de uma emergência, no qual os povos amazônidas pedem socorro, e não existe uma comoção nacional sobre isso. São os povos pelos povos!

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