Imagem: Joedson Alves/Agência Brasil
Há dois anos, o Brasil testemunhou um episódio que feriu profundamente os princípios democráticos e a convivência pacífica em nossa nação. O 8 de janeiro de 2023 marcou um ato de violência contra as instituições que sustentam a nossa democracia, um dia em que o ódio e a intolerância se manifestaram na depredação dos prédios que simbolizam os Três Poderes.
Como membros de uma sociedade plural, guiada pelo respeito à dignidade humana e pela busca do bem comum, somos chamados a refletir sobre o que significa unir religião e ódio — um paradoxo que desafia os valores do Evangelho e os ensinamentos de fraternidade. Não há espaço para a instrumentalização da fé como justificativa para práticas que geram divisão, violência e desamor.
A REPAM, comprometida com a promoção de uma cultura de paz e cuidado, recorda que a verdadeira justiça não é vingativa, mas restaurativa. Os julgamentos e as punições impostas pelo Supremo Tribunal Federal aos envolvidos nos atos antidemocráticos representam um passo necessário para a responsabilização e para evitar que tais episódios se repitam. No entanto, também devemos olhar para além da punição, cultivando um espaço para a conversão, o arrependimento e o aprendizado coletivo.
As palavras do analista político Elias Tavares ressoam como um apelo: “Esse processo é essencial para reafirmar nossa confiança na democracia e garantir que episódios como o de 8 de janeiro não se repitam.” Essa confiança, porém, não se constrói apenas com sanções legais, mas também com ações concretas que promovam diálogo, solidariedade e respeito mútuo.
Em um mundo onde a sociedade autoritária frequentemente convive com o Estado Democrático, é vital que as instituições permaneçam vigilantes e comprometidas com o fortalecimento dos valores democráticos. Mais ainda, é imprescindível que a sociedade civil esteja atenta e engajada, defendendo a verdade, o amor e a justiça como alicerces de nossa caminhada coletiva.
Analista político, advogado e assessor da REPAM-Brasil Melillo Dinis do Nascimento afirma “não vejo a anistia como um caminho para consolidar a democracia. Há muita gente que colocou esta pauta como algo relevante apenas para transformar nossos procedimentos e processos em parte da arenga da polarização eterna. É uma marca da política brasileira. Mas não faz nenhum sentido: não ajuda a democracia, não melhora o direito (pois qual a razão de punir se há a hipótese da anistia), não é um reclamo social, não melhora as relações sociais e nem permite que atos como este não se repitam. Comparar este momento histórico, com o pacto da redemocratização que levou à anistia de 1979, no Brasil, além de equivocado, pressupõe a falta de um marco constitucional que construímos nos últimos 35/36 anos, desde 1988”.
A memória do 8 de janeiro nos desafia a construir uma história diferente, onde atos de violência sejam substituídos pela reconciliação e onde o ódio ceda lugar ao cuidado com a Casa Comum e com nossos irmãos e irmãs. Como nos ensina a Doutrina Social da Igreja, é em momentos de crise que somos chamados a exercer nossa vocação de promotores da paz e agentes de transformação.
Que possamos responder a esse chamado com coragem e esperança, mantendo viva a chama da democracia e da fraternidade em nossos corações e em nossas ações.