No dia 21 de maio de 2025, o Auditório Dom Helder Câmara, na sede da CNBB, se transformou em um espaço de esperança ativa, escuta sensível e compromisso com a Casa Comum. A Conferência Celebrativa dos 10 anos da Laudato Si’ reuniu vozes da Igreja e da sociedade civil que reafirmaram a urgência da justiça climática como expressão da fé encarnada nos territórios.
Representando a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil, a professora e pesquisadora Márcia Maria de Oliveira destacou a relevância da Encíclica para os povos amazônicos e o papel profético da Igreja. “A Laudato Si’ nos convoca a uma mudança de paradigma, não apenas ecológica, mas civilizatória. A crise climática é expressão de um sistema que exclui e mata. Precisamos reagir com fé, solidariedade e compromisso com os territórios”, afirmou. E completou: “A Amazônia grita, e com ela gritam os povos que a defendem. E este grito precisa ecoar no coração da Igreja e das políticas públicas.”
Ao lado dela, Joana Amaral, coordenadora de Mobilização do Observatório do Clima, reforçou o chamado à ação inspirada pela Encíclica do Papa Francisco. Para ela, “superar o paradigma tecnocrático que transforma a criação em objeto de exploração desenfreada é uma urgência espiritual, política e social.”
Representando a Cáritas Brasileira, Jacira Dias Ruiz, agente do Regional Rio Grande do Sul, enfatizou o papel da encíclica Laudato Si’ como norteadora das ações de cuidado com a criação: “A Laudato Si’ é uma ferramenta fundamental para o trabalho de cuidado com a nossa casa comum, como disse o Papa Francisco.” Para ela, a encíclica provoca uma conversão ecológica: “Ela nos traz a consciência de que não vivemos duas crises separadas – ambiental e social –, mas duas faces da mesma crise.” Jacira destacou ainda a presença dos princípios da Carta da Terra no texto da encíclica: “A sabedoria do Papa Francisco assume os princípios da Carta da Terra. Eles estão ali.”
A Laudato Si’ foi retomada como farol ético e espiritual para orientar a ação pastoral, política e comunitária da Igreja, especialmente nos territórios mais vulnerabilizados. “A fé autêntica — longe de nos afastar do mundo e das preocupações sociais — impele-nos a uma ação mais corajosa e concreta” (Laudato Si’, 183), lembrou a professora Márcia, ao destacar iniciativas de base como a recuperação de nascentes, a educação ambiental e a incidência em políticas públicas.
Ficou evidente que a Laudato Si’ não é apenas um documento: é um chamado à “conversão ecológica” (Laudato Si’, 217) e à mobilização coletiva em favor da vida.


A importância do momento foi sublinhada pelas palavras de Dom Cláudio Hummes, que declarou:
“Hoje nos reunimos para celebrar uma década desde a publicação da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco.”
“Um marco crucial na busca por justiça ambiental e uma reflexão mais profunda sobre o modo como nos relacionamos com o nosso planeta.”
“Trata-se de fato da urgência da ecologia integral diante da crise climática. Este é um chamado à ação, à solidariedade e à responsabilidade global compartilhada.”
“Hoje, reiteramos o nosso compromisso de agir em harmonia com a criação, de promover políticas que respeitem o meio ambiente e de trabalhar pelo bem-estar dos mais necessitados.”
“Que o espírito da Laudato Si’ nos inspire a construir um futuro onde todos, independente de sua origem, possam viver com dignidade e segurança em um planeta saudável.”
A REPAM-Brasil reafirma seu compromisso com o cuidado integral da Casa Comum, somando-se a tantas vozes que, inspiradas pelo Evangelho e pela Laudato Si’, constroem alternativas concretas e transformadoras para um mundo mais justo, sustentável e solidário.

O encontro foi encerrado com o plantio simbólico de uma árvore no jardim da CNBB, conduzido pelo padre Leandro, que celebrava 15 anos de sacerdócio. “Que esta árvore plantada seja, na verdade, uma grande responsabilidade plantada do nosso coração na defesa da Casa Comum”, disse o subsecretário, ao agradecer a presença de todos. A celebração também incluiu a distribuição de uma edição especial do jornal Brasil de Fato, com a missão “Sementes de Solidariedade”, produzida para a Romaria da Terra na Diocese de Santa Cruz. “O tema foi a questão climática. A publicação traz imagens e relatos da região, uma das mais afetadas”, informou a equipe organizadora.