“Nos comprometemos plasmar com nosso ‘ser’, um novo jeito de ser Igreja – uma Igreja com rosto Amazônico”, afirmaram religiosas e religiosos reunidos em Manaus/AM, entre os dias 16 e 18 de novembro, na Assembleia de Escuta da Vida Religiosa Consagrada em preparação ao Sínodo para a Amazônia.
Em carta preparada durante o encontro, os participantes enviados das seis instâncias regionais da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) na Amazônia (Manaus, Porto Velho, Belém, Cuiabá, Palmas e São Luís), contaram sobre os momentos nos quais puderam “compartilhar o clamor, os sonhos e esperanças dos Povos mais vulnerabilizados indígenas, ribeirinhos, seringueiros, comunidades tradicionais, pequenos agricultores, povos da floresta e da cidade e com eles, o ‘grito’ da Mãe terra ferida e ameaçada pelos megaprojetos do agronegócio, mineração, hidroelétricas, hidrovias”.
O compromisso com uma Igreja de rosto amazônico tem como fonte o convite da Ecologia Integral, proposto pelo papa Francisco na encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da Casa Comum. Religiosos e religiosas também afirmaram estar “juntos nesse caminho sinodal, pois, acreditamos que a Vida Religiosa Consagrada é sinal de esperança e profecia onde a VIDA clama, naqueles lugares onde ninguém quer ir, somos corpo, afeto, aconchego de uma Igreja Mãe”.
Uma das motivações levadas pelos religiosos à assembleia foi comentada pela irmã Zélia Maria Batista, das Irmãs Catequistas Franciscanas. Em missão no Pará, onde acompanha dez povos indígenas, a religiosa ressaltou o processo de escuta dos indígenas e de populações mais vulneráveis e a oportunidade de irmãs, irmãos e padres de congregações religiosas partilharem “a respeito de sua missão junto aos povos da Amazônia em defesa dos seus territórios, de seus direitos que cada vez são mais violados”.
Segundo irmã Zélia, é necessário levar para o Sínodo o compromisso de Jesus com os pobres, “porque Jesus Cristo esteve junto com aqueles que estavam mais vulneráveis e, hoje, é missão da Igreja estar aí junto com os mais vulneráveis”.
O padre salesiano Justino Sarmento, do povo Tuyuka e membro do Conselho Pré-Sinodal, considerou a assembleia um momento muito especial para tornar visível “uma experiência marcante” em vista do sínodo: ação missionária realizada pelos consagrados e consagradas na Amazônia. “Porque são elas e eles que estão na linha de frente. Onde existem pessoas mais necessitadas, aí estão as religiosas, principalmente, tanto no interior, quanto nas grandes cidades, nas periferias. Por isso é importante que o sínodo leve muito em conta as contribuições da vida religiosa”, considera.
Leia a carta da vida religiosa na íntegra:
CARTA DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA DO BRASIL
“Vocês têm uma grande história a construir ponham os olhos no futuro” (VC 110).
Somos mulheres e homens consagrados (as) a serviço da VIDA na Pan-Amazônia, reunidos no período de 16 a 18 de Novembro na cidade de Manaus, para a Assembleia de ESCUTA DA VRC em preparação ao Sínodo especial para Amazônia que acontecerá em outubro de 2019.
Enviadas e enviados pelas 6 regionais da Conferência dos Religiosos do Brasil -CRB que compõem a Amazônia Brasileira, trouxemos para compartilhar o clamor, os sonhos e esperanças dos Povos mais vulnerabilizados indígenas, ribeirinhos, seringueiros, comunidades tradicionais, pequenos agricultores, povos da floresta e da cidade e com eles, o “grito” da Mãe terra ferida e ameaçada pelos megaprojetos do agronegócio, mineração, hidroelétricas, hidrovias, etc.
Envolvidas e envolvidos pela mística do cuidado do outro e da Casa Comum, bebemos da fonte da Ecologia Integral expressa na Carta Encíclica Laudato Si’ e nos comprometemos plasmar com nosso “ser”, um novo jeito de ser Igreja – uma Igreja com rosto Amazônico.
Ao responder à pergunta provocativa “Que sínodo nós queremos?” procuramos contribuir com reflexões e propostas que deram asas aos nossos sonhos e colocaram nossos pés em marcha, SIM! Estamos juntos nesse caminho sinodal, pois, acreditamos que a Vida Religiosa Consagrada é sinal de esperança e profecia onde a VIDA clama, naqueles lugares onde ninguém quer ir, somos corpo, afeto, aconchego de uma Igreja Mãe.
Acreditamos que o sopro da Divina Ruah suscitará no coração de nossa Igreja novos caminhos e o ardor missionário de Maria, moverá nossos pés a sair às pressas ao encontro vida que clama, por uma presença de Igreja Samaritana e Solidaria.
É com esse Espírito que conclamamos a VRC a colocar-se a caminho do Sínodo, pois na soma das diferenças somos diversidade e comunhão, somos vida consagrada a serviço de Cristo, da Igreja e da humanidade.
Manaus, 18 de novembro de 2018