Começou na manhã dessa sexta-feira, em Miracema/TO, no Centro de Treinamento de Lideranças da diocese, o Encontro de Bacias Tocantins-Araguaia. A atividade reúne povos indígenas, ribeirinhos, quebradeiras de coco e representantes das diversas comunidades dessa região. Motivado pela REPAM-Brasil, o encontro reúne mais de 100 pessoas e vai até o próximo domingo.
A origem desse encontro, de acordo com Moema Miranda, assessora da REPAM-Brasil, é o reconhecimento de que na Amazônia as águas e os povos são parte da mesma vida. “Desde o início da Rede, foi identificado como as bacias são caminhos de vida, e são caminhos de como nós, como Igreja, no momento de repensar uma nova Igreja na Amazônia, deveríamos fortalecer, ampliar as redes, as ações e as articulações”, explicou Moema. O principal sentido de um encontro de bacias, como esse, de acordo com a assessora, “é identificar com clareza quais são as ameaças que os povos diversos e plurais estão sofrendo, mas quais são, também, os vieses de força e sobrevivência. Então, esse é um encontro de articulação da Igreja com o que já está nos territórios em defesa da vida”.
As bacias do Tocantins e do Araguaia cortam praticamente todo o regional Norte 3 da CNBB. De acordo com dom Phillip Eduard Roger Dickmans, bispo da diocese de Miracema, anfitriã do encontro, a atividade é uma oportunidade de reflexão. “São dois braços cheios de água, que dão muita vida, mas que podem ser cortados a qualquer momento”, afirmou o bispo. Por isso, segundo ele, é importante a realização desse encontro. “Nós precisamos ter consciência de que não vai ser fácil, o monstro é grande, o agronegócio, os latifundiários, enfim, mas enquanto nós tivermos a fé e a esperança e ficarmos lutando, isso vai sempre ser um sinal e luz na escuridão”, enfatizou Dom Phillip.
Durante toda a manhã, os participantes do encontro falaram sobre os sinais de força e resistência, preocupações, ameaças e alianças, a partir de algumas questões que foram enviadas anteriormente para se prepararem para participar do evento. Elza Ferreira, do Centro de Direitos Humanos, de Formoso do Araguaia, espera que o encontro seja uma oportunidade para se buscar saída para as dificuldades encontradas em toda a bacia do Tocantins e Araguaia. ”Que encontremos saída para as situações que estamos vivendo, temos que ter resistência”, destacou Elza.
Para Wagner Katami, do povo Krahô Kanela, do município de Lagoa da Confusão/TO, entre os desafios enfrentados pelo seu povo está a demarcação do território e o avanço do agronegócio. “De uma área de 31 mil hectares, apenas 7 mil foram demarcados. Em segundo lugar vem a proteção das nossas matas e rios, que estão praticamente mortos, por causa do avanço do agronegócio na região”, disse o jovem indígena.
O encontro também é uma oportunidade de escuta dos povos, no caminho de preparação ao Sínodo para a Amazônia. De acordo com Moema Miranda, ainda que o cenário de 2019 se apresente como desafiador para os povos amazônicos, principalmente as populações tradicionais, o Sínodo em 2019, é um sinal do Espírito. “Temos confiança de que esse encontro acontecendo na ambiência do Sínodo, ele fortalece os mesmos princípios e os mesmos valores”, enfatizou Moema. “Todos nós estamos muito preocupados com o ano de 2019, que será muito desafiador. O Papa Francisco foi inspirado pelo Espírito Santo, quando chamou o Sínodo para outubro de 2019, porque ele pode ser um momento de uma grande Boa Nova para nós que estamos enfrentando as dificuldades do ano que vem. E qual é a Boa Nova? É de que os povos unidos e unidos ao rio, unidos à terra, eles têm a força e a possibilidade de disputar um futuro de vida para todos nós”, concluiu a assessora da REPAM-Brasil.