Reunidos na Cidade do Panamá, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude 2019 que teve seu início nessa terça-feira (22), os jovens escreveram um manifesto pelo cuidado da Casa Comum. Em sintonia com o Papa Francisco e seus escritos sobre o tema, eles falam de uma conversão ecológica em ação. Além de se comprometerem com uma série de questões, fazem apelos às lideranças da Igreja e aos governos.
O manifesto intitulado “Conversão ecológica em ação” é resultado do III Congresso Internacional sobre a Defesa da Criação, realizado na Universidade Católica Santa Maria la Antigua. O congresso, que tem sua origem nas JMJs do Rio de Janeiro/Brasil e da Cracóvia/Polônia, é realizado antes do início oficial da Jornada. A principal conferência do evento “Ecologia e JMJ” trouxe a temática para a discussão a partir das ideias de Francisco sobre o cuidado com o meio ambiente, presentes na Encíclica Laudato Si’.
O jovem Rodrigo Fadul, membro do REPAM Juventudes recebeu o manifesto com muita surpresa e entusiasmo. Ver o documento e, ainda, as manifestações acerca da Amazônia o surpreendeu. “O manifesto da juventude na JMJ surge em um momento que precisamos exatamente de ações concretas. O título do manifesto traduz a proposta da Laudato Sí para que possamos assumir a ecologia integral”.
Fadul destaca, ainda, a importância do documento ao colocar em pauta a encíclica de Francisco e o Sínodo para a Amazônia. Para ele, “isso representa uma visibilidade significativa para as ações da igreja católica, pois estamos falando de um evento de escala mundial. Nossa mãe terra passa por um momento crítico com ações de destruição e a nossa Igreja precisa, de fato, assumir a ecologia integral em todas as suas ações. Penso que esta iniciativa pode gerar muitos frutos nas juventudes do mundo inteiro, espero que os jovens participantes da JMJ possam retornar para suas cidades animados para cuidar da nossa casa comum”, conclui o jovem.
A jovem Lidiane Cristo manifestou sua alegria ao ler o Manifesto dos jovens da JMJ 2019. “O coração transborda de alegria em saber que jovens desde o Centro América estão preocupados com o cuidado com a Casa Comum. Espero que a carta que foi enviada à JMJ 2019 a todos os jovens toque os corações e que gere uma nova consciência pautada no cuidado com a vida de forma integral”, destacou Lidiane que é colaboradora do Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental/SARES e da Repam Juventudes.
Para o jovem Diego Aguiar, articulador do Eixo de Formação e Métodos Pastorais da REPAM, “o Manifesto dos jovens da JMJ 2019 pelo cuidado da Casa Comum é um chamado para todos, de forma particular às juventudes, que são sensíveis à série de agressões que a nossa irmã Mãe Terra vem sofrendo, e que buscam caminhos para o Bem-Viver”. Segundo ele, o documento destaca as injustiças de um sistema que vem explorando em demasiado os recursos naturais e as populações que dela vivem diretamente, promovendo injustiça inter e intrageracional.
Ainda, e acordo com Aguiar, o texto escrito pelos jovens identifica os efeitos nocivos das injustiças que afetam diretamente a vida de todos, em especial às populações mais pobres e vulneráveis. “O Manifesto apresenta os compromissos assumidos pelos jovens e realiza pedidos para a Igreja que, tendo como horizonte a defesa da vida, deve abraçar a luta e ser sinal profético diante da realidade atual. Torna-se um instrumento a ser lido, refletido, debatido e dinamizado em nossas ações pastorais. E demonstra a importância e a dimensão de enfrentamento das injustiças e explorações que têm afetado a vida de inúmeras pessoas e ferido a natureza”, concluiu Diego.
Conversão Ecológica em Ação
O manifesto está dividido em cinco partes. Na primeira, os jovens tratam das injustiças contra os pobres de hoje das futuras gerações. Para eles, o futuro está em perigo, já que a humanidade vem fazendo um caminho irresponsável de destruição ecológica. Eles elencam uma série de situações que exemplificam essa trajetória e citam os bispos latino-americanos e o Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia como alternativa de reflexão, uma vez que recordam que os povos indígenas têm um papel decisivo no cuidado com a terra. “Sabemos que a crise ecológica não é somente uma injustiça intergeracional, mas, também, uma injustiça intergeracional aos mais pobres e vulneráveis”, destaca o documento.
A segunda parte do manifesto fala de uma autêntica e urgente conversão ecológica. Os jovens acreditam que a JMJ no Panamá pode ser uma grande oportunidade para um exercício de conversão ecológica. “Conscientes de nossa parte de responsabilidade na crise ecológica atual, sentimos profunda necessidade de arrependimento”, dizem no documento. E completam afirmando que “ alenta a forma com que a Laudato Si’ é uma fonte eficaz para pedir a todos que cuidem da criação”, ao citarem a encíclica como fundamento para esse movimento de mudança de postura.
Na terceira parte, o manifesto trata do papel dos jovens católicos. Eles retomam o documento final do Sínodo para a Juventude e trechos da Laudato Si’ que falam do papel dos jovens e o que a presença deles provoca na sociedade em relação às transformações. E afirmam que “nós, jovens católicos, também estamos atuando como nunca. Escutamos seriamente o chamado da Laudato Si’, que nos convida a tomar ‘decisões drásticas para inverter a tendência ao aquecimento global’ (LS 175) e unimos nossa voz à voz profética de muitos outros jovens comprometidos com o meio ambiente”.
A quarta parte do documento fala dos compromissos dos jovens católicos, apesar da consciência de que pouco têm feito. Recordam que desde a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, já haviam assumido outros compromissos. No entanto, na lista entre os novos comprometimentos, afirmam concretamente a vivência da Laudato Si’ no cotidiano e o desenvolvimento de uma espiritualidade ecológica, a estudar e a compreender melhor as questões ecológicas e a exigirem dos bispos e lideranças da Igreja maior posicionamento frente às crises ecológicas.
Na quinta e última parte do manifesto os jovens fazem os pedidos aos bispos e às lideranças de governos. E terminam o documento fazendo um apelo aos jovens de todo o mundo que se unam, para além das diferenças, em vista do cuidado da Casa Comum. O documento foi traduzido apenas para o espanhol, inglês e italiano.
Leia o documento em espanhol:Manifesto dos Jovens da JMJ 2019