Márcia Maria de Oliveira
UFRR/REPAM

 

No início dos trabalhos do Sínodo para a Amazônia publicamos aqui o artigo “As mulheres no Sínodo da Amazônia”, sinalizando a presença e o protagonismo das mulheres neste evento de grande relevância para a Amazônia. Finalizado o Sínodo no dia 27 de outubro em Roma, a participação das mulheres apresenta um balanço extremamente positivo. Na mídia mundial, ocuparam uma média de 41% das principais matérias sobre o evento. Internamente, trouxeram importantes contribuições para pensar e decidir sobre seu papel e protagonismo na Igreja e na sociedade.

Nas 28 páginas do Documento Final do Sínodo, as mulheres são nomeadas 30 vezes e ocupam destaque importante no subcapítulo intitulado a presença e a hora da mulher com 5 parágrafos aprovados com a unanimidade dos votos sinodais.  De forma resumida, a Assembleia Sinodal reconhece o  protagonismo das mulheres nas comunidades, pastorais, movimentos sociais e em todo conjunto da missão da Igreja na Pan-Amazônia. Da mesma forma, reconhece que é inegável a sua participação e representatividade no mundo da política, nos movimentos sociais, nas organizações de mulheres negras (quilombolas), indígenas e camponesas.

O documento também reconhece que os países da Pan-Amazônia têm em comum um contexto atual marcado pela violência contra as mulheres, e, no caso da Amazônia Brasileira, há estados como Roraima e Rondônia que apresentam alto índice de feminicídio. Trata-se de uma violência histórica que se instalou na região com os processos de colonização e precisa ser tratada com seriedade pela Igreja, pelos Estados Nacionais e por toda sociedade. Entretanto, mesmo numa conjuntura de violência contra as mulheres, é inegável o seu protagonismo na luta para superar todas as formas de opressão, machismo, misoginia e discriminação, legado do patriarcado.

O processo sinodal desafiou a Igreja a “identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica”. Nessa perspectiva, a realidade específica da Igreja na Pan-Amazônia, fundamentada na experiência da Igreja primitiva, quando “respondia a suas necessidades criando os ministérios oportunos” reconhece a vez e a hora das mulheres destacando seus carismas, talentos e o espaço que historicamente ocupam na sociedade.

A experiência da Igreja na Pan-Amazônia aponta que a voz das mulheres seja ouvida, que elas sejam consultadas e participem nas tomadas de decisões e, deste modo, possam contribuir cada vez mais com o estilo feminino de atuar e de compreender os acontecimentos.

Na sua íntegra o parágrafo 101 destaca “a sabedoria dos povos ancestrais afirma que a mãe terra tem um rosto feminino. No mundo indígena e ocidental, as mulheres são aquelas que trabalham em múltiplas instâncias, na instrução das crianças, na transmissão da fé e do Evangelho, são testemunhas e presença responsável na promoção humana, para que a voz das mulheres seja ouvida, para que sejam consultadas e participem das decisões e, assim, possam contribuir com sua sensibilidade à sinodalidade eclesial. Valorizamos o papel da mulher, reconhecendo seu papel fundamental na formação e continuidade das culturas, na espiritualidade, nas comunidades e nas famílias. É necessário que a Igreja assuma com maior força sua liderança dentro da Igreja, e que a Igreja a reconheça e promova, fortalecendo sua participação nos conselhos pastorais das paróquias e dioceses, ou mesmo nas instâncias de governo”.

O Documento Final do Sínodo da Amazônia foi entregue ao Papa Francisco para subsidiar a sua elaboração do Documento Oficial denominado pela Igreja como Exortação Apostólica que apresentará orientações para a Igreja na Região Pan-Amazônica.  No aguardo desta publicação que, segundo o pontífice deverá ocorrer até o final deste ano, uma coisa é certa: o protagonismo das mulheres é reconhecido, reafirmado e assumido pela Igreja nesta região.

Considerado um sínodo histórico pelo número de mulheres participantes dos trabalhos na qualidade de peritas (05 doutoras em diversas áreas do conhecimento), auditoras (32 religiosas, leigas e lideranças de movimentos e organizações sociais) e uma observadora internacional. A participação das mulheres também tem grande relevância pela qualidade do conteúdo que trouxeram para debater as questões centrais apresentadas pelo sínodo, com destaque para a Ecologia Integral, organização e articulação do trabalho em rede e das pastorais de conjunto, diálogo inter-religioso e intercultural, formação de lideranças, participação política e intervenções sociais são alguns dos destaques da hora e a vez das mulheres que marcaram definitivamente a história da igreja.

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