Indígenas Munduruku, que vivem no médio Tapajós, estiveram reunidos na manhã dessa terça-feira (02/07) para protestar contra a construção de portos no distrito de Miritituba. Estava agendada uma audiência pública sobre o assunto, mas o evento foi cancelado após protestos da comunidade.

Os Munduruku escreveram uma carta aberta em que denunciam a situação, a ausência de consulta prévia sobre a construção dos portos e a alegação de órgãos governamentais de que não existe comunidade indígena na região.

Em Miritituba, distrito que faz parte do município de Itaituba/PA, estão previstas a construção de pelo menos 8 estações de transbordo de carga (ETCs), que formarão um complexo, englobando Itaituba e Rurópolis, segundo a Fundação Amazônica de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa). Essas ETCs podem gerar um fluxo de 100 mil carretas por mês na época de pico da safra do Mato Grosso, entre fevereiro e abril.  No trajeto de volta, elas deverão transportar insumos agrícolas e produtos eletrônicos.

Leia a carta na íntegra:

Itaituba, 02 de julho de 2019

Carta do povo Munduruku contra os Portos no Tapajós

Nós, povo Munduruku do Médio Tapajós, denunciamos mais uma vez as destruições que Governo e empresas estão trazendo para o Tapajós. Há mais de 519 anos os pariwat continuam invadindo as nossas terras. Antes chegavam com seus navios, hoje chegam com barcaças de soja.

Mas as marcas dos povos indígenas e dos ribeirinhos estão por toda a Amazônia. Por isso, aqui tem Terra Preta (Katõ), tem árvores, plantas e animais de todo tipo.  As marcas de Karosakaybu e os desenhos de Muraycoko mostram que somos os antigos dessa terra.

Os pariwat fizeram leis para reconhecer nossa história, nossa relação com o território, nosso modo de vida diferente do deles. Para que existem essas leis? Constituição Federal, Convenção 169? Fizemos um Protocolo de Consulta e entregamos ao Governo, mas nós indígenas, os ribeirinhos e pescadores nunca fomos consultados.

Já instalaram seis portos ao redor de nosso rio Tapajós e nunca vieram nos dizer como seríamos impactados. Nós já estamos sendo afetados com tantas barcas enormes passando pelas nossas aldeias, não conseguimos mais pescar perto de casa, temos que ir cada vez mais longe para conseguir alimentar os nossos filhos. Estamos até proibidos de pescar perto de onde estão os portos, ou de atravessar para o outro lado do rio.

São seis empresas que estão afetando a vida de centenas de pessoas. E com a construção de mais portos o nosso modo de vida será ainda mais afetado. Sabemos também que essas obras geram especulação da terra, grilagem e ainda mais invasão para o nosso território. E junto com isso vêm as drogas, a violência, a prostituição: mais conflitos ameaçando a nossa vida e o futuro dos nossos filhos.

 

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