O Núcleo de Mulheres da Rede Eclesial Pan-amazônica – REPAM lançou nesta quinta-feira (7) uma declaração onde expressam sua “perplexidade, tristeza e indignação” pela falta de representatividade feminina da Igreja com um rosto amazônico na Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA.
Com o pronunciamento, as mulheres pretendem contribuir para a construção de uma Igreja cada vez mais sinodal, participativa e com rosto amazônico a partir de suas instâncias organizativas.
“Como mulheres, queremos construir aquela igreja com que sonhamos, aquela igreja que é comunidade e comunhão de iguais, pluriforme, diversa e sinodal. Uma igreja onde não existem hierarquias, privilégios de gênero ou estatuto eclesial, pelo poder e domínio; onde não existem modelos de exclusão e indiferença”, afirma o pronunciamento.
As representantes do núcleo explicam que, considerando que a CEAMA foi criada para promover uma Igreja com um rosto amazônico e sinodal, a ausência total de mulheres na presidência evidencia a falta de valorização e reconhecimento das mulheres.
Clique (AQUI) ou leia abaixo a íntegra do pronunciamento:
Pronunciamento do Núcleo de Mulheres da REPAM sobre o processo de eleição da CEAMA
Damos graças ao divino Ruah que continua a manifestar-se entre nós, que nos impele e nos guia. Por vezes a sua voz é tão suave como uma brisa, outras vezes é como um pequeno redemoinho que se transforma num forte furacão; no entanto, muitas vezes não somos sensíveis aos sinais dos tempos que ela nos revela.
Há três anos vivenciamos um tempo de kairós na Pan-Amazônia, com todo o processo sinodal e a construção e aprovação do documento final e a Exortação Apostólica Querida Amazonia. O resultado de todo o processo foi uma dádiva de Deus a nós povos da Pan Amazônia, porque somos povos e somos caminhos, temos rostos, nomes, vozes que ecoaram e ecoam fortemente reafirmando a Igreja que queremos, uma Igreja com rosto Amazônico e uma ecologia integral que inclui uma conversão integral para firmar assim os quatros (4) sonhos proféticos da Querida Amazônia.
A experiencia sinodal, de caminhar juntos como povo de Deus fortaleceu em nós, mulheres e homens, a convicção de tecer a ESPERANÇA, firmou em nós a força ativa, efetiva e o compromisso de ESPERANÇAR uma Igreja toda ela sinodal.
A notícia da nova presidência da CEAMA deveria provocar reações de gratidão àqueles que estão a assumir a de gratidão para com aqueles que assumem o serviço de liderança da organização. No entanto, independentemente do valor pessoal daqueles que o assumem, que não só não questionamos como também reconhecemos, não deixa de provocar em nós perplexidade, tristeza e indignação porque vemos nela uma imagem da Igreja que é, de fato, uma imagem da Igreja tal como ela é, monopolizada, pelos homens, não a Igreja com que sonhamos e que dizemos que estamos a desenvolver juntos em sinodalidade.
Se a CEAMA foi criada para promover uma Igreja com rosto amazônico: aqueles rostos que sofrem o abandono, a violência sistemática, a exploração e discriminação e cientes que na Amazônia 70% da ação pastoral é realizada por mulheres, a ausência total de mulheres na presidência do CEAMA e para nós uma surpresa negativa e transpareceu como uma falta de valorização e reconhecimento efetivo do SER MULHER na Igreja. Deus criou-nos mulher e homem à sua imagem e semelhança. Jesus quis e encorajou relações de reciprocidade e igualdade numa comunidade de iguais. O Espírito que habita em cada um de nós permite-nos participar eficazmente. Pela consagração baptismal estamos investidos do ofício real, profético e sacerdotal de Cristo, e assim membros efetivos do Povo de Deus.
A escolha da nova presidência da CEAMA, é uniforme: masculino, clerical e mantém a lógica do poder, não de uma conferência eclesial sinodal para Amazônia.
A exclusão das mulheres na eleição da liderança da CEAMA aponta para uma eclesiologia pré-conciliar e questiona-nos sobre o compromisso real de criar algo e esperançoso a partir do Querida Amazônia, Sínodo da Amazônia e da experiência sinodal em curso, ou seja, uma igreja ministerial. A sinodalidade implica novas formas de ser e de fazer Igreja que devem manifestar-se tanto na vida quotidiana como nas instituições.
Quando existe apenas um tipo de linguagem, uma forma de sentir e interpretar a vida (a dos homens), estamos a trair o Deus Trino que é comunhão na diversidade.
Se queremos resultados diferentes, não podemos fazer sempre a mesma coisa. Uma igreja sinodal não permite que as mulheres permaneçam subordinadas.
Como mulheres, queremos construir aquela igreja com que sonhamos, aquela igreja que é comunidade e comunhão de iguais, pluriforme, diversa e sinodal. Uma igreja onde não existem hierarquias, privilégios de gênero ou estatuto eclesial, pelo poder e domínio; onde não existem modelos de exclusão e indiferença.
Não queremos ser uma voz de queixa ou de divisão, mas uma voz que a partir da palavra justa e da correção fraterna, uma expressão de amor, ajude a construir aqui e hoje o Reino de Deus.
Neste sentido, para uma conversão pastoral e eclesial, propomos a criação de uma presidência ampliada com a participação das mulheres e dos povos indígenas e outros povos da Amazônia (camponeses, urbanos, comunidades tradicionais, ribeirinhos) nos órgãos diretivos da CEAMA.
Por conseguinte, na prossecução da conversão pastoral clamamos: o cumprimento das deliberações do Sínodo para a Amazônia no seu documento final e das orientações e desafios pastorais, resultados, da Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe que são sinais de esperança e de sinodalidade na missão evangelizadora de nossa Igreja junto a humanidade.
Que a nossa comunicação seja recebida como expressão do nosso amor pela Igreja e do nosso compromisso de viver em fidelidade a Jesus dentro dela.
Núcleo Mulheres REPAM, 06 de abril de 2022.