Por Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas – TO
Há poucos dias celebramos a Festa do Espírito Santo e já estamos nos preparando para a Festa de Corpus Christi. Quase não dá tempo para lavar e passar as roupas e limpar os calçados que usamos nestas duas Festas. São tão próximas no calendário, quanto no significado e no sentido que é até difícil distingui-las e separá-las. Em ambas, bebemos do único e mesmo Espírito.
Corpus Christi, antigamente chamado de “Corpo de Deus”, nos remete imediatamente ao que nos diz São Paulo, na Vigília de Pentecostes: “todos nós bebemos de um único Espírito” (1Cor 12,13). O Espírito é comparado por Jesus a um caudaloso rio de água viva que jorra para a vida eterna. Em alta voz, no final de uma festa, Ele afirmou: “se alguém tem sede, venha a mim e beba. Ele falava do Espírito Santo” (Jo 7,37.39). Na comunhão eucarística recebemos também este Espírito Santo. É que o Corpo de Jesus foi plasmado, no ventre de Maria, pelo poder do Espírito. Em seu ministério foi guiado pelo Espírito. Ressuscitou pelo Espírito. E se fez Eucaristia pelo mesmo Espírito. Na consagração do pão e do vinho pedimos ao Pai que envie o Espírito Santo, a fim de que as nossas oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus (Oração Eucarística II). Portanto, ao comungar, recebemos o Corpo de Cristo, no Pai, pelo Espírito. Desta forma, sem o Espírito Santo, o culto eucarístico se torna uma diversão e um divertimento de algo do passado e não o Memorial paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Quando professamos, no Credo, a encarnação de Jesus, proclamamos que Ele assumiu uma carne, fraca como a nossa (Mt 26,41). Ao entrar no mundo, as primeiras palavras que Jesus as pronunciou foram a doação do seu corpo como sacrifício (Hb 10,5-14). O corpo que recebemos na Eucaristia é a carne e o sangue do crucificado, martirizado, ressuscitado. E é o Corpo que chamamos carinhosamente de Eucaristia.
Todos nós, que temos um corpo, sabemos o quanto é difícil e custoso o cuidado dele. Mas o quanto é também indispensável e necessário. Alimentação saudável, exercício físico, visita frequente a médico, medicamentos, lazer e muitos outros, custam tempo e dinheiro. Quantas doenças, velhas e novas! Quantas doenças e quantos doentes! Os nomes destas doenças são: pecado, fome, poluição, intoxicação, pandemia, guerra, ciberódio, cibercídio, entre outros. As crises sanitárias geraram várias doenças físicas e biológicas, mas também muitas doenças espirituais e existenciais, físicas e mentais. Tenho dito e repito: “Eu também estou doente”. E quem de nós não está?
Existem remédios? Existem curas? Existem saídas? Existem, sim, senhor; sim, senhora. Não são somente remédios, como convencionamos chamar, que curam. A Eucaristia também cura porque é Jesus e porque Jesus é o Terapeuta, por excelência. Temos, portanto, a “ciência” e a “medicina” eucarísticas para nos curar.
Ninguém precisa servir comida e bebida a quem está saciado e de barriga cheia. Serve-se alimentos para quem está faminto e sedento. Deus também age assim. Aprendemos dele a servir, na eucaristia, o povo que lhe pertence, faminto e sedento. E é esta a comida que Deus nos serve na Festa de Corpus Christi. Os nossos altares serão as nossas mesas. E o pão que Deus nos dá, na Eucaristia, contém todos os sabores (Oração de Bênção do Santíssimo Sacramento). A rigor, a nossa vida é parecida com a de Elias que se deitou de cansaço para morrer. O Senhor mandou, pelo anjo, o alimento que o fez comer, levantar-se e caminhar, pois, ele ainda tinha um caminho longo a percorrer (1Rs 19,5.7). Nós também ainda não morremos porque temos ainda um longo caminho a percorrer. Que pão é este? Onde o encontramos? Como nos alimentar deste pão para nos levantar e empreender a caminhada? A Eucaristia é este pão que alimenta, que nos levanta e que nos põe a caminho.
A Festa de Corpus Christi que, em outras palavras, é a manifestação pública da fé da Igreja na Eucaristia, possui outros dois elementos que precisamos, mesmo que brevemente, destacar: a procissão e os tapetes. Pela procissão manifestamos o nosso amor à Eucaristia, celebrada, comungada e adorada. E os tapetes expressam e espelham a nossa sinodalidade, pois, “embora muitos, somos em Cristo um só corpo” (Rm 12,5). Participemos, portanto, da celebração, da procissão e da confecção dos tapetes de Corpus Christi em espírito de sinodalidade. Este é o ciclo da vida para que tudo na vida dê certo: oração, adoração e agradecimento. Participemos então da Festa de Corpus Christi com a consciência ativada de que precisamos ter urgentemente uma vida, humana e espiritual, eucarística, em um único e mesmo Espírito.