Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
O quarto domingo do mês de agosto dedicado às vocações, celebra a Igreja a vocação dos fiéis leigos e leigas na vida da comunidade e no mundo. A oração é fundamental por eles e por elas em vista do bom testemunho onde vivem e atuam como cristãos e seguidores do Senhor. Os leigos e as leigas são importantes na missão que a Igreja lhes dá através da coordenação de uma comunidade, no conselho de pastoral, na coordenação de uma pastoral ou de um movimento, na catequese, na juventude, na educação. Eles e elas ajudam internamente junto com seus pastores, diáconos, presbíteros e bispos, nos diversos serviços na divulgação da evangelização e serem evangelizados, mas também tem uma missão na sociedade, sendo pessoas que trabalham e atuam em alguma empresa, na política, nos meios de comunicação social, na vida econômica, nos setores nacionais ou internacionais visando sempre o testemunho de vida ligado ao evangelho de Jesus e da palavra da Igreja. A partir dos documentos eclesiais e patrísticos, a seguir veremos uma síntese na forma como a Igreja manifestou o seu carinho e amor aos leigos e as leigas em vista da missão na Igreja e na sociedade.
O Concílio, os pastores e o laicato
O Concílio Vaticano II colocou a importância dos leigos e das leigas para o bem de toda a Igreja. Os pastores sabem que não foram instituídos por Cristo Jesus sem a presença deles e delas, de modo que não sejam sozinhos na assunção da missão salvífica da Igreja no mundo, mas eles apascentam de tal modo que haja o reconhecimento dos fieis nas suas atribuições e carismas para que assim, pastores, leigos e leigas cooperam de uma forma unânime na obra comum da evangelização e da salvação em Cristo Jesus. É preciso que todos, na vivência da verdade e do amor, cresçam na relação com Cristo, que é a cabeça da Igreja1.
O conceito dos leigos e sua vocação
O Vaticano II disse que os leigos são os fieis cristãos que sendo incorporados a Cristo pelo Batismo, constituídos como parte do povo de Deus e feitos participantes do múnus sacerdotal profético e real de Cristo Jesus, exercem sua parte integrante na missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo2.
O Concílio também afirmou que a índole secular é a característica própria e peculiar dos leigos e das leigas. Desta forma, por vocação compete a eles e a elas, procurar o Reino de Deus e ordenar as coisas segundo a vontade de Deus. Eles vivem no século, nos ofícios diversos e trabalhos do mundo, mas também nas condições da vida familiar e social. Sendo chamados por Deus e guiados pelo espírito evangélico concorrem para a santificação do mundo, pelo testemunho de sua vida, pela fé, esperança e caridade, manifestando Cristo aos outros. Cabe a eles e a elas ordenar as coisas temporais, para que sejam feitos segundo Cristo e todos cresçam para o louvor do Criador e do Redentor3.
A unidade de todos os membros em Cristo
O Concílio Vaticano II também colocou a importância da unidade dos membros de Cristo, pois ainda que muitos membros tenham funções diferentes, é neles um só corpo em Cristo (Rm 12,4-5). Um só é o povo de Deus eleito, comum a vocação à perfeição, à santidade de vida. Em Cristo e na Igreja não há nenhuma desigualdade em vista da raça ou nação, condição social ou sexo. Se, pois, na Igreja, nem todos seguem pelo mesmo caminho, continua o Concílio, todos são chamados à santidade, pois receberam a mesma fé na justiça de Deus (2 Pd 1,1). Entre todos vigora a igualdade em relação à dignidade e à ação comum na edificação do Corpo do Senhor. Todos, ministros ordenados, leigos e leigas dão testemunho da unidade no Corpo de Cristo, pois a diversidade das graças, dos ministérios e ações unificam os filhos e as filhas de Deus porque tudo é realizado num único e mesmo Espírito (1 Cor 12,11)4
A importância do sacerdote e dos leigos e das leigas
Na Querida Amazônia tem o Papa Francisco presentes alguns pontos da importância do ministério ordenado, dos leigos e leigas. Nas circunstâncias específicas da Amazônia nas suas florestas, lugares mais remotos, diz o Papa, é preciso encontrar uma forma que assegure o ministério sacerdotal. Os leigos, as leigas terão condições de anunciar a Palavra, ensinar, organizar as suas comunidades, celebrar alguns sacramentos, desenvolver os múltiplos dons que o Espírito Santo derrama neles. As comunidades, porém necessitam da celebração da Eucaristia, de modo que toda a comunidade edifica-se tendo como raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia (PO, n. 6)5.
Uma Igreja de rostos amazônicos
O Papa Francisco insiste na sua Exortação Apostólica na formação de uma Igreja de rostos amazônicos com a presença de leigos e de leigas, maduros, dotados de autoridade, que conheçam as línguas, as culturas diversas, que tenham uma experiência espiritual e o modo de vida em comunidade de cada lugar, levando em conta, a multiplicidade dos dons que o Espírito Santo semeia em todas as pessoas. Os desafios da Amazônia exigem da Igreja esforços contínuos para conseguir uma presença forte, sendo possível com o protagonismo dos leigos e das leigas6.
Uma formação integral
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também colocou a necessidade da formação para os seus membros como tarefa primordial, exigindo o empenho de todas as pessoas. O cristão leigo e leiga não se estagna na sua caminhada eclesial. Tal formação integral levará em consideração na vida da comunidade, as dimensões humana e espiritual, teológica e pastoral, teórica e prática7.
Valorização do laicato.
Lembrando os cinquenta anos de Santarém, o IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, no documento final, gratidão e profecia, ressaltou a valorização do laicato nas assembleias, nos conselhos pastorais, nos ministérios confiados aos leigos e as leigas. É preciso investir mais recursos na formação dos cristãos leigos e leigas nos diversos campos da teologia, bíblia, pastoral, espiritualidade e na Doutrina Social da Igreja. O encontro motivou ao fortalecimento na formação de leigos e de leigas, para que sejam missionários e missionárias respondendo às exigências da missão na Amazônia8.
Leigos em referência ao martírio
É importante ver como os Padres da Igreja também consideraram os leigos e as leigas nas suas doutrinas. Tertuliano, Padre africano dos séculos II e III, fez referência, pela primeira vez em língua latina, o sentido cristão aos leigos e às leigas. Ele exaltou as figuras dos confessores e dos mártires que na sua grande maioria eram leigos e leigas, os quais tornavam evidente a obra do Espírito Santo, sendo considerados pessoas carismáticas, pessoas proféticas, que viviam nas comunidades eclesiais, testemunhando o amor do Senhor, pela confissão ou pelo martírio9.
Os carismas das pessoas a serviço
As Constituições Apostólicas, escrito do século IV, tiveram presentes que os carismas dos fieis leigos seriam colocados a serviço dos outros, não para se vangloriar dos mesmos, mas possibilitariam vida na Igreja e no Reino. A pessoa, honrada pelo carisma, dom de Deus para qualquer ação útil, visaria à salvação das pessoas, para que assim todos glorifiquem a Deus10.
O documento também dizia que Deus consente como um sábio administrador que se cumpram os milagres, não em virtude das forças dos seres humanos, mas graças à sua vontade. Desta força as pessoas que receberiam os carismas, as graças de Deus não se conservariam na comunidade superiores a todas as pessoas que não as tiveram, mas os viveriam na humildade e na simplicidade11.
A unidade do povo de Deus
As Constituições Apostólicas ressaltaram a importância do povo de Deus, pois através do batismo formariam uma unidade em Cristo. Todos necessitariam de todos para o bom andamento da comunidade. Os carismas que o Senhor concedeu, eram para o serviço em geral na comunidade. Cada pessoa viveria na sua missão, os ministros ordenados, os leigos e as leigas para que todos visassem à glória do Senhor. 12.
Os leigos e as leigas são a parte do povo de Deus fundamentais na evangelização e na santificação das coisas e do mundo. Pela palavra de Deus, pelo batismo, crisma e a eucaristia são chamados os leigos e as leigas à missão de anunciar o bem, a paz, o amor, denunciar o pecado, a morte no mundo, para que haja a vida, e junto com os pastores viverem o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.