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Por Renan Dantas – Diocese de Juína

No último dia (6), domingo, todo o povo brasileiro, todo cidadão, foi exercer o seu direito democrático de votar. No entanto, diante do cenário em que vivemos, observamos grandes confrontos, brigas, desunião e até mesmo separações por causa da política. Em meio a esse clima de divisão, o Papa Francisco nos convida a enxergar a política de uma maneira diferente, como a “arte do encontro.” Um olhar cristão que busca o diálogo, o acolhimento, a fraternidade e a ação.

A política, muitas vezes, é vista apenas como a regra social do jogo de poder, um campo onde prevalecem interesses e divisões. Contudo, o Papa Francisco propõe uma visão mais elevada e humanizante, em que a política não se limita ao confronto, mas se transforma em uma oportunidade de encontro. Este encontro, no entanto, não deve ser meramente formal ou superficial, mas marcado pelo acolhimento do outro, pela aceitação de suas diferenças e por um diálogo respeitoso e fraterno.

Num cenário em que divergências políticas frequentemente resultam em hostilidade, Francisco nos convida a ir além. Para os cristãos, o Evangelho oferece um desafio claro: amar os inimigos. Este chamado transforma a política, fazendo dela não apenas um campo de debate ou disputa de interesses, mas uma oportunidade de viver o encontro com o outro como irmãos, reconhecendo em cada pessoa um filho amado de Deus. Não se trata de negociar como adversários, mas de construir pontes de entendimento, respeitando o outro sem condições.

O diálogo político, quando marcado por essa fraternidade, torna-se a chave para evitar o risco de um confronto violento, que prioriza interesses particulares em detrimento do bem comum. Francisco recorda que “a unidade prevalece sobre o conflito”, e a verdadeira política deve ser orientada para a promoção dessa unidade.

Além de encontro, o Papa sublinha que a política também é reflexão. Para os cristãos, essa reflexão deve estar ancorada na busca do bem comum, um bem que transcende as partes e se direciona ao todo. Nesse sentido, o Evangelho se torna a bússola que guia a formulação de um projeto político capaz de responder aos anseios da sociedade, em uma visão positiva do ser humano.

Por fim, o pontífice enfatiza que a política não pode se limitar a ideias abstratas: é necessário ação. As ideias, quando desconectadas da realidade, correm o risco de se tornarem meras construções ideológicas. A política, de acordo com Francisco, deve se enraizar no compromisso com a realidade concreta, como, por exemplo, o trabalho em prol dos migrantes e da ecologia. Ele cita como exemplo aqueles que decidem viver em bairros populares para escutar os pobres, um gesto que, segundo ele, representa uma maneira cristã de fazer política.

Assim, Francisco apresenta um programa político cristão baseado em três pilares: encontro, reflexão e ação. Nesse sentido, a política se transforma em uma das formas mais elevadas de caridade, como definia o Papa Pio XI. Ela deixa de ser apenas um campo de disputas e se torna um instrumento de transformação social, orientado pela justiça, solidariedade e fraternidade.

Em um mundo cada vez mais polarizado, a mensagem do Papa nos lembra que o verdadeiro poder da política está na sua capacidade de unir, de promover o bem comum e de agir com amor e caridade. Mais do que um campo de batalhas, a política é, essencialmente, a arte do encontro.

Como afirma o Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti:

“A política é uma vocação altíssima, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Devemos convencer-nos de que a caridade ‘é o princípio não só das micro-relações com os amigos, com os membros da família, dentro de pequenos grupos, mas também das macro-relações, como as relações sociais, econômicas e políticas’.” (FT 180)

Por Renan Dantas – Diocese de Juína

Reprodução: Diocese de Juína

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