A Rede Eclesial Pan-Amazônica apresentou oficialmente, na manhã desta segunda-feira (9), a sua nova presidência, constituída pelo cardeal Pedro Barreto como presidente, Dom Rafael Cob, vice-presidente, e o irmão João Gutemberg Coelho Sampaio como secretário executivo.
O cardeal Cláudio Hummes, até então presidente da Rede, definia o momento como “um dia muito importante para a REPAM e para todo o processo sinodal que estamos levando em frente”. Conduzido por Deus, como ele mesmo afirmou, começou seu trabalho na Igreja da Amazônia quando voltou de Roma, onde era prefeito da Congregação para o Clero. Agora ele continua esse serviço à Igreja da Amazônia na presidência da Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, “onde participam em pé de igualdade religiosos, religiosas, indígenas, leigos, leigas, é um novo tipo de conferência”, segundo Hummes.
O novo presidente da REPAM em nível pan-amazônico, Cardeal Barreto, diz que “estamos na continuidade de um kairos sinodal e amazônico”, que, segundo ele, “procura escutar, discernir e colocar em prática a vontade de Deus, e este é um processo que eu vivo com muita gratidão a Deus”. Em suas palavras ele fez uma leitura do que havia vivido nos últimos anos, da assembleia realizada em Puyo, na Amazônia equatoriana, em abril de 2013, onde foi plantada a primeira semente da REPAM.
Seguiu-se a criação da REPAM em 2014, a Laudato Si’ em 2015, a convocação do Sínodo em 2017, a visita do Papa a Puerto Maldonado em 2018, que ele considera um pré-sínodo e onde a preparação começou, até o Sínodo de um ano atrás. Em 2020 o Papa nos deu, diz Barreto, Querida Amazônia e em 29 de junho, festa de São Pedro e São Paulo, foi criada a CEAMA. Para o novo presidente, “agora temos que caminhar juntos, complementar-nos, buscar estes novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Neste sentido, a REPAM é chamada a “fixar nossa missão no território, a serviço da Igreja e da CEAMA”, insiste o cardeal peruano.
Dom Rafael Cob afirma colocar-se a serviço em seu novo cargo, “para que possamos continuar a ser uma Igreja em saída, uma Igreja samaritana, uma Igreja profética, para que a REPAM continue a ser aquele instrumento que demonstrou, sobretudo no Sínodo Amazônico”. Do que a REPAM tem feito até agora, o Bispo do Vicariato de Puyo enfatiza “esta capacidade de coordenação, articulação, trabalho, na escuta, na contemplação, não só deste mundo que Deus nos deixou, que é a casa comum, mas destes povos que caminham na Amazônia, povos que precisam deste acompanhamento da Igreja, como pediram no Sínodo, que a Igreja seja sua aliada para defender a vida e os direitos dos povos que vivem na Amazônia”.
Do CELAM, seu presidente, Dom Miguel Cabrejos agradeceu a trajetória da REPAM, que ele definiu como “um trabalho de muita dedicação, entrega e sacrifício, que deu origem a um Sínodo, um Documento Pós-Sinodal, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia e a Conferência Eclesial da Amazônia”. Do CELAM ele expressou sua vontade de colaborar, de caminhar juntos, de continuar a avançar, com criatividade, seguindo as inspirações do Espírito de Deus, levando em conta a encíclica Fratelli Tutti, comunhão, sinodalidade, que todos nós temos como irmãos. Em todo o processo de renovação e reestruturação do CELAM, seu Presidente salientou que ele está intimamente ligado a todo o trabalho da REPAM e da CEAMA.
Dom José Luis Azuaje, presidente da Cáritas América Latina, lembrou as palavras do Papa Francisco, quando disse que a Cáritas é a carícia da Igreja Mãe para seus filhos. Neste sentido, o bispo afirmou que “tem havido muitas carícias de Deus para com a Igreja, especialmente na América Latina, e esta é uma delas, o fato de que estas instituições (CEAMA e REPAM) estão se formando e nasceram da humildade e simplicidade das pessoas que se interessaram, e que nós estamos nos unindo a elas”. Segundo ele, deve-se destacar o trabalho em rede da Igreja na América Latina, o que torna possível “um trabalho mais inclusivo, mais encarnado em toda a região”.
A CEAMA e a REPAM são complementarias, segundo o cardeal Hummes, “elas vão continuar trabalhando juntos, repartindo responsabilidades, mas não com trabalhos separados”. Nesse sentido, os próximos passos da CEAMA, surgidos na assembleia plenária, com uma participação de 250 pessoas, deve levar a concretizar “as coisas mais urgentes e prioritárias que põe o Sínodo e que podemos e devemos começar a construir os caminhos, os processos”, afirma o cardeal, o que ele vê como “um início do plano de Pastoral de Conjunto que a CEAMA está querendo elaborar para toda a Pan-Amazônia”.
Barreto enfatizou a importância dos processos, algo que havia sido forjado desde a época em que ele trabalhou no departamento de Justiça e Solidariedade do CELAM. Ele viu isso se materializar na rede eclesial da Amazônia equatoriana, que foi a semente da REPAM, “procurando articular os grandes esforços evangelizadores que estavam sendo feitos, mas de forma muito dispersa”. O cardeal destaca o apoio do Papa Francisco na época da criação da REPAM, que assumiu a preparação para o Sínodo Amazônico. No Sínodo, “a fraternidade entre os povos indígenas e aquele que eles chamavam de irmão Francisco foi de grande importância, o que tornou possível que Roma se amazoniza-se”, insistiu o novo presidente da rede.
A assembleia realizada em Puyo foi o momento em que se descobriu que “havia uma necessidade real de trabalho em rede, que articulasse todas essas confluências das Igrejas locais para responder aos desafios concretos de nossa Igreja na Amazônia”, de acordo com o novo vice-presidente da REPAM. Para Dom Rafael Cob, “assumir esta posição é reafirmar a posição de serviço em favor dos povos que vivem na Amazônia e a caminhada das Igrejas na Amazônia”. Ele define comunhão e unidade como algo transcendental no trabalho da REPAM, a sinodalidade, caminhando juntos, com um horizonte comum, sempre com ousadia, buscando com criatividade uma Igreja que continua a abrir caminhos de comunhão, de fraternidade, com aquele espírito samaritano e profético que a Igreja deve ter.
A pandemia afetou seriamente a Amazônia por causa de sua precariedade, porque a região não era uma preocupação para os governos dos países, segundo o Cardeal Barreto. De acordo com ele, a REPAM, como muitas outras instituições, está realmente preocupada com esta situação. Neste contexto, Dom Rafael Cob insiste na importância de visitar as comunidades, especialmente as comunidades mais remotas, também aqueles que vivem nas periferias de nossas cidades, que pedem que a Igreja não os esqueça. Para o bispo de Puyo, “é muito importante que a Igreja possa viver com eles essa comunhão e essa dor compartilhada”. Ao mesmo tempo, ele enfatiza a importância da comunicação, através da rádio e das redes sociais, para continuar a dar razões de esperança, de incentivo e de estar com eles.
Por Luís Miguel Modino