Por Adriana Ribeiro Francisco1
A crise ambiental e a crescente escassez de recursos naturais nos impõem um desafio urgente: como garantir o acesso à água potável sem comprometer o equilíbrio ecológico e a saúde das populações mais vulneráveis? No Alto Solimões e em diversas outras regiões do Brasil, comunidades indígenas enfrentam dificuldades significativas na obtenção de água tratada de maneira segura e sustentável. A busca por alternativas eficazes passa, inevitavelmente, pela valorização de soluções naturais e acessíveis, como o uso da moringa oleífera e a reutilização de materiais descartáveis na purificação da água.
Hoje, muitos dos tratamentos convencionais de água utilizam produtos químicos como o sulfato de alumínio. Embora eficaz, esse método pode trazer consequências preocupantes a longo prazo, especialmente quando a aplicação não é feita de maneira adequada. Estudos indicam possíveis relações entre o uso excessivo de sulfato de alumínio e doenças como o Mal de Alzheimer, além de outros impactos na saúde. Em comunidades onde a capacitação técnica e o monitoramento desses processos são limitados, os riscos se multiplicam.
A moringa oleífera surge como uma alternativa promissora. Suas sementes possuem propriedades coagulantes naturais que ajudam na remoção de impurezas da água, sem os efeitos adversos associados a produtos químicos industrializados. Além disso, trata-se de uma solução acessível, de fácil implementação e que pode ser incorporada ao cotidiano das comunidades indígenas de maneira autônoma. A capacitação dos moradores para o uso correto da moringa fortalece o protagonismo local e reduz a dependência de insumos externos.
Outro ponto essencial no debate sobre abastecimento sustentável de água é a gestão dos resíduos sólidos. O aumento do consumo de produtos industrializados nas aldeias gerou uma crise silenciosa: o descarte inadequado de garrafas PET e outros materiais plásticos. Sem infraestrutura para coleta seletiva e reciclagem, muitas dessas embalagens são queimadas ou enterradas, agravando a poluição do solo e do ar. No entanto, a reutilização das garrafas PET pode se tornar uma ferramenta valiosa. Elas podem ser aproveitadas para armazenar água tratada e até mesmo como elementos de filtros caseiros, proporcionando uma solução prática e alinhada às necessidades das comunidades.
Não se trata apenas de oferecer alternativas, mas de garantir que essas comunidades tenham acesso ao conhecimento e às ferramentas necessárias para implementar mudanças duradouras. Capacitação técnica, políticas públicas voltadas para o saneamento rural e investimentos em tecnologias de baixo impacto ambiental são medidas essenciais para promover a autonomia dessas populações no acesso à água potável.
A sustentabilidade no abastecimento de água vai além de uma questão ambiental. É um tema de saúde pública, de justiça social e de respeito aos modos de vida das comunidades tradicionais. Soluções inovadoras e acessíveis, como o uso da moringa e a reutilização de PET, podem transformar realidades, reduzindo os impactos negativos dos métodos convencionais e garantindo um futuro mais seguro para as próximas gerações.
Se queremos preservar a Amazônia e garantir dignidade às populações que nela vivem, é essencial que priorizemos práticas sustentáveis e inclusivas. O caminho para isso está em nossas mãos.
1 Dra. em Engenharia Agrícola com ênfase em técnicas de tratamento de água para pequenas comunidades – Adriana Ribeiro Francisco | Escavador