Dom Joel Portella, secretário-geral da CNBB, sonha que a Igreja do Brasil assuma mais a Amazônia como prioridade para a missão. Ele esteve na última semana no Seminário de Estudo do Documento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia e na ocasião conversou com a equipe da REPAM-Brasil sobre o Sínodo, as discussões sobre os ministérios e os sonhos que tem, a partir do Sínodo, para a Igreja do Brasil. Confira a entrevista.
Quais as contribuições o Sínodo para a Amazônia oferece para a Igreja, em especial no Brasil?
É um Sínodo muito diferente de todos os que já vivemos na Igreja até agora, embora nós tenhamos Sínodos, por exemplo, para a América, para a Europa, para a Oceania. Nós temos hoje um Sínodo que tem uma marca transnacional, que pega uma região que é ecológica, que é cultural, que é humana. Eu diria que uma primeira grande contribuição que o Sínodo da Amazônia fornece é essa nova forma de compreender a realidade que nos interpela. É uma realidade que não está circunscrita a um horizonte geográfico, político, sociopolítico, a um país, não está circunscrita a uma cultura, porque são inúmeras culturas presentes, mas ela está desafiando o Evangelho nessa nova compreensão de realidade em que está. Para mim, é a maior contribuição.
Como seria uma Igreja com rosto Amazônico?
Eu não conheço a realidade amazônica a esse ponto, mas eu pergunto, mais do que afirmo: não seria uma Igreja com rostos amazônicos? Porque, por exemplo, aí é a minha área, nas grandes cidades você não pode falar de um rosto urbano, você tem que falar rostos urbanos. Mesmo comparando as duas maiores cidades, ou três, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, as três maiores cidades do Brasil, você dizer assim: é o mesmo rosto urbano… agora convivendo em Brasília, digo que não, não é. É diferente São Paulo. É diferente Rio. É diferente Brasília. Eu diria que a grande beleza do Sínodo vai ser encontrar caminhos em rede, que é a grande palavra hoje, que ajude a gente a perceber, na diversidade cultural, humana, de relações com a natureza, de relações com a criação, encontrar caminhos para costurar tudo isso. Eu fico imaginando alguém da periferia de Manaus e alguém que vive em contato direto com a floresta: um é asfalto e todas as sequelas e mazelas da cidade, o outro vive a situação da floresta, do meio mais natural. Eu fico em dúvida, me pergunto se dá para falar do mesmo rosto, se dá para falar da mesma realidade, tem que encontrar um patamar comum.
Uma das questões que estão sendo levantadas nas discussões sobre o Sínodo está relacionada aos ministérios, ordenação de homens casados e novo espaço para as mulheres. Em relação a esse assunto, o que o senhor vislumbra com o Sínodo?
Eu diria que Igreja da Amazônia pode contribuir, que o Sínodo pode contribuir, com o reconhecimento de que é uma Igreja altamente ministerial, com diversos serviços, com diversos ministérios.
Não é possível você pensar o momento evangelizador atual sem pensar também a questão da ministerialidade. Isso é tranquilo e ninguém discute. A Igreja no Brasil tem uma experiência ministerial fantástica. Não apenas no ministério ordenado, mas nos diversos outros ministérios. Por exemplo, eu me lembro muito bem disso, quando aconteceu a Conferência de Aparecida, se não me falhe a memória, no número 99 ela vai agradecer a Deus uma série de situações, e ela agradece a Deus a presença dos inúmeros ministérios. Eu diria que Igreja da Amazônia pode contribuir, que o Sínodo pode contribuir, com o reconhecimento de que é uma Igreja altamente ministerial, com diversos serviços, com diversos ministérios. Outras questões são muito amplas, são muito grandes, e aí a gente vai ter que medir muito até que ponto nós temos pernas para dar esse passo.
A partir do Sínodo, qual é o sonho do senhor para a Igreja da Amazônia e para a Igreja do Brasil como um todo?
Que a Igreja no Brasil assumisse mais a Amazônia como uma prioridade missionária.
Nós estamos quase no mês missionário extraordinário que vai ser concomitante ao Sínodo, por que não a região Amazônica ser aquela opção do Brasil em termos missionários? Porque, afinal de contas, na Igreja ninguém é estrangeiro. Então, eu diria, assim, que se cada missionário pudesse ir à Amazônia fazer a sua experiência, quando ele volta, ele volta diferente. São nossos padres das nossas dioceses, quando vão, eles voltam diferente de terem aprendido, de terem convivido outro tipo de relação. Se o Brasil, missionariamente, acolhe a Amazônia como um todo a gente ganha muito, o Brasil inteiro ganha, há um intercâmbio muito grande.