A série da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM Brasil sobre os missionários que atuam na Amazônia chega ao fim com o testemunho de uma jovem leiga. Não seria por menos, ontem, 28, foi encerrado, em Roma, o Sínodo para a Juventude, apontando para a força juvenil na ação da Igreja e o acompanhamento necessário para que deem os frutos recebidos pelo chamado de Cristo. Taiana Carolina Sousa Ramos é secretária da Associação das Santas Missões Populares, sediada em Belém/PA, e é a missionária que encerra a série “Amazônia, Terra de missão e comprometimento com o Reino de Deus e o bem-viver”.
O trabalho de Taiana é o de oferecer ajuda às dioceses na animação missionária, respondendo ao apelo do papa Francisco de uma Igreja em saída. A associação oferece metodologia, conteúdo e formação na área da missão. Para ela, é marcante como experiência de trabalho o contato com o povo, assim como o protagonismo leigo.
Seu primeiro contato com as Santas Missões Populares foi em 2012: “Minha primeira semana missionária foi em Marabá, no sudeste do Pará, e lá eu percebi essa animação, esse contato, esse protagonismo com o povo e fui para uma região camponesa, região rural. Eu de cidade, sem saber, um pouco tímida, era muito nova… Ali uma criança se aproximou de mim, eu não tinha muito contato com crianças, e parece que aquela criança se aproximou de mim de uma forma sincera e amorosa e me cativou, parece que houve um processo de conversão”, relata. Este contato com a “Igreja povo”, que cuida dos pobres, também a encantou.
As experiências marcantes na dor também fazem parte da vida missionária: “A missão tem vários desafios, o cargo que a gente exerce, a questão administrativa na missão não é fácil, porque conciliar a missão, a vida e a questão burocrática é também uma questão dolorosa”.
Realidade amazônica
Presentes no chão amazônico, os missionários percebem, convivem e sentem os clamores da região. Para Taiana, são muitos os desafios, como a presença dos grandes projetos “que tiram a vida dos povos que moram na região, o sossego do seu trabalho”; o capital, que toma para a si as riquezas e ignora a vida existente ali, visando o lucro, “infelizmente esse ar ideológico se respira por lá”; a questão fundiária, com direito à terra; e os direitos humanos.
REPAM
Taiana Carolina Ramos aponta para a REPAM como organização com papel “importantíssimo”, cujo segredo, segundo ela, é valorizar e suscitar missionários.
“Existe muita gente boa na Amazônia, existem muitos missionários que defendem a vida, que são sinais de resistência. Existem muitos discípulos missionários na Amazônia e está aí o papel da REPAM: valorizar e tirar do anonimato dessas pessoas que são sinais de resistência. Existem muitas comunidades quilombolas, ribeirinhas, juventudes que lutam em defesa da vida, se organizam em prol dos seus direitos e está aí o papel da REPAM. Acho que é fundamental tirar essas pessoas do anonimato, valorizar, somar, rearticular forças e esse trabalho também as Santas Missões populares também vem fazendo”, destaca.
Sínodo
De olho no Sínodo para a Amazônia, a jovem missionária destaca a peculiaridade das comunidades amazônicas, que se reúnem em sua maioria, em torno da Palavra, “porque poucos têm padres para celebrar a Eucaristia, que depende dos padres”. Taiana também enxerga o sínodo como sinal de valorização e empoderamento dos leigos, em especial das mulheres. “Poderia ser uma discussão, uma pauta para o Sínodo para a Amazônia. O empoderamento feminino na direção e na condução das coisas”, propõe.
A Igreja na Amazônia tem um diferencial muito grande da Igreja à que se está acostumado a viver, aponta Taiana, ao indicar que a Igreja na Amazônia deve contribuir para uma Igreja que “parte da vida, que vai ligar o Evangelho com a vida”, contribuindo para aprofundar mais a “ligação entre fé e vida, a vida e a missão”.