Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas – TO

“Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? (Mc 4,30). A parábola é um gênero literário preferido por Jesus, comprovadamente como um instrumento pedagógico funcional, prática, útil e eficaz. Muito utilizada pelos profetas, mestres e sábios, anteriores a Jesus, e pouco pelos sábios e entendidos de sua época. Este tipo de recurso pedagógico, aos poucos, cedeu espaço a ensinamentos mais voltados à doutrina, à norma, à regra, à lei, à obrigação e à proibição. Tanto assim, que o povo percebia que Jesus ensinava com autoridade, diferente dos mestres da lei (Mc1,22; Mt 7,29) e ficava admirado e maravilhado como este seu magistério.

Uma parábola não se lê com o olhar ao passado. Lê-se como se olha em um espelho. Vê-se mais o presente, o atual momento, a atualidade, o como estamos no momento. Não é contada em função do passado, mas do presente e do futuro. Assim como a Bíblia e Jesus têm as suas parábolas, a Igreja e o Sínodo também têm as suas. Nós também temos as nossas parábolas existenciais. Temos os nossos terrenos, nossas sementes, nossos semeadores, nossos grãos de mostardas, nossos fermentos, nossos joios, nossos trigos, nossos tesouros escondidos, nossas pérolas preciosas, nossas redes e nossas pescarias.

Sínodo e Igreja são sinônimos: ambos significam dar um passo avante, um caminhar para adiante, um processo, um método, um avançar. Este Sínodo é um sinal da providência de Deus, neste tempo de pandemia. Quando tudo parecia acabado, perdido, escuro e degenerado, o Papa Francisco teve a inspiração de convocar um Sínodo para abrirmos as portas e janelas: sair de casa, ir ao encontro dos irmãos, sentar-se ao seu lado, conversar, escutar, discernir, em espírito de comunhão, participação e missão. Este Sínodo é um sinal de Deus para a Igreja neste pós-pandemia. É isto que o Espírito Santo quer dizer à nossa Igreja.

Não queremos apenas fazer Sínodo. Queremos ser Sínodo. Queremos ser uma Igreja em saída, que marche juntos, sempre para a frente. O Sínodo é uma parábola para olharmos no espelho da atualidade, como estamos caminhando, com quem estamos caminhando, a quem deixamos de lado e para trás. O Sínodo tem as suas parábolas. Quais? Quantas? Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo?

Parafraseando a Jesus, eu me pergunto: com que haveremos de comparar o Sínodo? São Marcos (4,1-34) e, sobretudo, São Mateus (13,1-52), condensou, no seu evangelho, o Sermão das parábolas do Reino. Eu comparo estas suas parábolas com as parábolas do Sínodo. Aliás, a começar pela introdução dessas parábolas, Jesus já imprimiu o seu estilo sinodal: saiu de casa e sentou-se junto ao mar, e uma grande multidão juntou-se ao seu redor (Mt 13,1-2; Mc 4,1-2). Em casa, explicava o sentido de suas parábolas aos seus discípulos (Mt 13,4; Mc 4,10). E ainda perguntava se compreenderam. E eles disseram que sim (Mt 13,36.51). Esta é a estrutura fundamental do estilo sinodal de Jesus. Os atores em jogo são sempre três: Jesus, a multidão e os apóstolos (Documento Preparatório, 17-20). E não o contrário, como costumamos pensar. É isto o que o Espírito Santo está dizendo à nossa Igreja.

Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo? O Sínodo, “por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, é comparado ao semeador que saiu, pelo campo, a semear suas sementes (Mt 13,3.8; Mc 4,3-8). No caminho sinodal do semeador das sementes do Sínodo também haverá vários tipos de terrenos. Até porque fomos nós que produzimos estes tipos de terrenos inférteis, secos e pedregosos. Muitas sementes do Sínodo possivelmente cairão em terra boa e produzirão cem, sessenta e trinta frutos por um. Se as sementes do Sínodo forem lançadas em terra boa, mesmo não sendo o ideal, podemos até colher trinta por cento que estaremos satisfeitos com os bons resultados das escutas, neste Sínodo. Ou até mesmo sessenta. As sementes lançadas na terra só conseguiram produzir estas quantias. Os frutos das acolhidas, das escutas e dos discernimentos não poderão deixar de ser colhidos. É isto que o Espírito quer suscitar em nossa Igreja.

Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo? O Sínodo, “por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, é comparado ao joio e ao trigo, convivendo conjuntamente. Joio e trigo são parentes próximos e parecidos, mas também são adversários e produzem frutos adversos. O bem e o mal coabitam no mundo e nos corações humanos. Ambos estão por toda a parte, juntos e misturados. E crescem juntos, no mesmo espaço e no mesmo campo. Esta parábola é o coração deste Sermão das parábolas de Jesus. A separação entre a Igreja e a sociedade, e seus ambientes, poderá ter criado este tipo de parábola para o nosso tempo. No nosso caminho sinodal precisamos saber conviver com os trigos e com os joios, e aprender a não excluir ninguém que é e que pensa diferente. No campo do Sínodo nascerão joios e trigos. O Sínodo será uma oportunidade para a Igreja ouvir o que não quer, o que não sabe e o que não aceita. Quem dá a palavra ao povo deve estar preparado para ouvir o que quer e o que não quer ouvir. O que fazer? O único caminho é a conversão. Haverá também a necessidade de se fazer o discernimento final para distinguir um do outro. O trigo irá para moinho e o joio para a reciclagem e a ressignificação. O Documento Preparatório do Sínodo fala de um quarto dialogante, denominado de “quarto ator”, de “ator extra” e de “antagonista”, além de Jesus, da multidão e dos apóstolos: o inimigo (DP 21). Quem são os nossos inimigos? E o que fazer com eles? É isto que o Espírito Santo está suscitando em nossa Igreja.

Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo? O Sínodo, “por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, é comparado à semente de mostarda e ao fermento na massa (Mt 13,31-32; Mc 4,30-32). Estas duas parábolas funcionam como um par. São parábolas gêmeas. São duas pequenas parábolas, como deve ser as reuniões das escutas do Sínodo. Mas com um poder interior transformador. A parábola do grão de mostarda fala do crescimento externo e a parábola do fermento fala do crescimento interno. E preciso ficar atentos aos pequenos, aos menores gestos, às menores ações. A comissão de frente da Logomarca do Sínodo é formada por crianças e adolescentes. Temos que prestar atenção a estes pequenos. Se a Igreja, neste Sínodo, agir assim, será abrigo para os pássaros do céu. Estas duas pequenas parábolas são a grande profecia (Dn 4,12; Ez 17,23; Sl 1,3) do Sínodo, a qual tanto sonhamos. Pequenas iniciativas podem gerar grandes resultados. As grandes árvores nascem de pequenas sementes. Plante, que a semente nasce e cresce. É o que diz o Provérbio: “Muita gente pequena, em lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, estão mudando a face do mundo”. Em outras palavras: um pequeno grupo, em lugares simples e pequenos, pensando e sonhando com coisas grandes. Jesus, o filho do carpinteiro, da pequena Nazaré, morto pelo grande e potente Império Romano, ao terceiro dia, ressuscitou. Tudo indicava que a planta iria morrer. Mas ressurgiu. A parábola do fermento é a parábola mais feminina desta série de parábolas. Uma das insistências do Sínodo é a mulher. Que lugar a mulher ocupa na Igreja? É esta uma das perguntas a ser respondida. É neste Sínodo que estas profecias irão se realizar? Símbolo de todos os bolos, pães e tortas, esta parábola é para levedar, dar volume e qualidade ao Sínodo. Da mesma forma que o fermento penetra na massa, o Sínodo deve penetrar nos corações de todos na Igreja. Este Sínodo possui estas duas metáforas. A mostarda e o fermento são os remédios para as curas das feridas dos corpos, das almas e das mentes de todos nós. É isto que o Espírito Santo está oferecendo à sua Igreja.

Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo? O Sínodo, “Por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, é comparado à descoberta de um tesouro escondido no campo e a compra de uma pérola preciosa (Mt 13,44-46). Jesus, seu Reino e a sua Igreja, são estes tesouros escondidos e esta pérola preciosa (Fl 3,8-9). É bem verdade que nem Jesus, nem o seu Reino e nem a sua Igreja estão à venda. Mas quem se encontra com Jesus encontrou um tesouro, uma pérola e um terreno incalculável. É preciso tempo para descobrir que na terra há um tesouro escondido. A parábola da pérola é mais fácil de ser descoberta. Nas plataformas do 5G e das fake news, o perigo é se acreditar em tudo o que se diz por aí. Às vezes, a verdade é a que menos importa. A descoberta de um tesouro faz mudar tudo na nossa vida. Quantos tesouros escondidos estão por aí, sem que se perceba e sem que se valorize. O Sínodo nos pede coragem para abandonar uma série de coisas e de estilo de vida eclesial e arriscar tudo porque se vislumbra e se encontra algo novo e melhor. Com outro olhar, o que parecia não ter mais valor, passa a ter um novo valor, melhor do que o anterior. Para isto precisamos de parresia, de encorajamento, de encantamento e de paixão. Tudo o que é valioso tem um preço embutido. Toda opção tem um preço a ser pago. O Sínodo possui este tipo de preço. Ele é um tesouro escondido e uma pérola de grande valor. Vamos descobri-lo e adquiri-la? A Igreja terá que vender muito do que possui para ganhar o que ainda não tem. O que significa neste Sínodo vender tudo? Neste Sínodo iremos descobrir muitos tesouros escondidos e muitas pérolas preciosas, saídas das bocas dos que talvez não esperávamos. É isto que o Espírito pede à nossa Igreja.

Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo? O Sínodo, “Por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, é comparado a um pescador que lança a sua rede ao mar, e recolhe peixes de todo tipo (Mt 13,47-50). É preciso puxar a rede para a praia e separar os peixes bons, nos cestos, e devolver os peixes que ainda não estão em condições de consumo para que voltem ao seu habitat natural. Eles precisarão de cuidados para que possam se desenvolver. Nas escutas, pesca-se tudo e de tudo. No entanto, um passo seguinte, é preciso selecionar, discernir. Tudo pode ser aproveitado. A rede, com seus emaranhados de fios simboliza as redes de comunidades, as reuniões sinodais, os louvores, as orações, os dons, os carismas, os testemunhos e os ministérios. Já afirmei, anteriormente, que muitas de nossas redes se romperam, e que é preciso levá-las ao conserto. O mar é o mundo em que viemos. O peixe é o homem ou a mulher que precisa ser pescado. O cesto são os nossos espaços eclesiais de acolhida, de escuta e de inclusão. É isto que o Espírito está mostrando à nossa Igreja.

Com que poderemos comparar o Sínodo? Que parábola usaremos para representá-lo? O Sínodo, “Por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, é o nosso “Saltério”. Não sei porque me veio esta ideia à cabeça. Sei apenas que o Sínodo é o nosso Saltério, seja enquanto instrumento musical, para ser dedilhado, tocado e escutado, seja enquanto Livro que contêm os 150 Salmos, para serem rezados e cantados nas nossas liturgias. O Hino do Jubileu da nossa Arquidiocese foi composto com base neste Salmo. Umas das dimensões singulares deste Sínodo são a liturgia, a celebração e a espiritualidade. Espiritualidade vem de Espírito. Muito se fale neste Sínodo do Espírito Santo. Cada ação, cada evento, cada encontro deste Sínodo deverão ser matizados pela liturgia, pela oração, pela celebração e pela espiritualidade. A conclusão a que chegamos é que o Sínodo é o nosso Laudato Si, nossa Querida Amazônia e nosso Fratelli Tutti. O Sínodo, enquanto Saltério, é um convite à louvação, ao som de vários instrumentos musicais, tocados juntos, afinados, em sintonia e harmonia. A figura do maestro, do tutor, do orientador, do guardião, do guia espiritual e do mistagogo é a condição sine qua non para o Sínodo. É isto que o Espírito Santo está revelando à nossa Igreja.

A Igreja nascente, na pessoa de Pedro, na casa de Cornélio, viveu a sua parábola, e teve que se aclimatar, adaptar e inculturar (At 10,1ss; DP 22-24). Eu aprendi no Seminário que devemos “comer o que passa na mesa do Convento!” E para finalizar, cai bem esta conclusão de Jesus: “Assim, pois, todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52). Fiquemos atentos ao que o Espírito tem a nos dizer. Bom sínodo para todos! “Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 11,15; 13,9.43).

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário