Notícia

Por Óscar Elizalde Prada – ADN Celam

A análise da realidade e do contexto da Amazônia foi um dos temas prioritários do primeiro dia da primeira Assembleia Ordinária da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que começou nessa terça-feira, 8 de agosto, em Manaus (Brasil).

Guenter Francisco ‘Chico’ Loebens, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) do Brasil, e Irmã Laura Vicuña, vice-presidente da CEAMA, falaram sobre a situação sócio-política e sócio eclesial, respectivamente.

Biodiversidade e regulação climática

A bacia amazônica é uma das áreas de maior biodiversidade do mundo”, começou Loebens, lembrando seu “importante papel nos ciclos globais da água e na regulação do clima”, além de ser “uma importante fonte de água para ecossistemas além da bacia, distribuída porrios voadores’”, como são conhecidos esses enormes fluxos de água, aéreos e na forma de vapor, alimentados pela umidade que evapora da Amazônia.

A esse respeito, o especialista brasileiro destacou que a Amazônia abriga uma porcentagem significativa de espécies de plantas (22%), peixes (18%), aves (14%), mamíferos (9%) e anfíbios (8%). Abriga também 47 milhões de pessoas (60% nas cidades), incluindo 2,2 milhões de indígenas, distribuídos em 410 povos indígenas, 180 povos isolados e 300 línguas faladas.

Desmatamento e degradação da Amazônia

Daí a preocupação latente com o acelerado processo de desmatamento, que poderá atingir até 26% do território, ou seja, 1,9 milhão de km2, sendo o Brasil, a Bolívia e o Peru os países com maior perda de florestas tropicais primárias nos últimos anos.

Outra situação preocupante, segundo Loebens, é o aumento das áreas dedicadas à produção agrícola, expandindo em 647.411 km2 da Amazônia, com um aumento alarmante de 81,5% entre 2020 e 2022. Além disso, entre 2001 e 2018, essa expansão aumentou em mais de 220% nas áreas protegidas e em mais de 160% nos territórios indígenas.

Colapso iminente

A esta radiografia se somam os efeitos da mineração e da exploração de petróleo, que afetam 17% e 9,6% do território amazônico, respectivamente, bem como a contaminação dos rios pelo uso de mercúrio, em detrimento da saúde dos habitantes e da biodiversidade. Da mesma forma, entre 2012 e 2020, aumentou 77% o número de barragens hidrelétricas em operação ou em construção em áreas protegidas. E se estima que 55% da área total da Amazônia tenha sido impactada por projetos de infraestrutura rodoviária.

A devastação, associada ao aumento do aquecimento global, conduz a uma diminuição das chuvas na região”, afirmou Loebens. O especialista do CIMI asseverou também que “os cientistas já alertaram que estamos próximos de um colapso que modificaria permanentemente o bioma amazônico, pois um estudo recente estima que o ponto de não retorno poderá ocorrer quando o desmatamento impactar entre 20% e 25%”.

Bem se pode dizer que “a lógica desenvolvimentista para a região trouxe riqueza para poucos e pobreza e violência para muitos, além de muita devastação, desrespeitando de forma sistemática os direitos dos povos da Amazônia e os direitos da natureza”.

De fato, de acordo com o relatório da Comissão Pastoral da Terra do Brasil, entre 2020 e 2022, foram registrados 202 assassinatos de camponeses e indígenas na Bolívia, Brasil, Equador, Colômbia e Peru. No caso do Brasil, pelo menos 407 casos de conflitos pelo direito à terra ocorreram entre 2019 e 2020, muitos deles com vítimas fatais.

Rumo ao abismo

“Com o atual modelo econômico para a região, estamos dando passos largos em direção ao abismo”, assinala o especialista do CIMI. Isso significa que “as políticas de desenvolvimento para a região devem necessariamente passar por profundas transformações”, porque “a Amazônia é muito mais do que um ‘estoque’ de riquezas, de matérias-primas destinadas à exploração”.

Gerar soluções é, portanto, uma questão inadiável. “É preciso pensar a Amazônia a partir e com as pessoas que vivem nela. E com a floresta em pé, esse é o caminho a seguir”, ressalta Chico Loebens.

Organização e mobilização

Daí por que a resistência e a mobilização dos povos indígenas na defesa e garantia de seus territórios e na luta por seus direitos assumem um significado especial para reverter a crise, assim como o apoio às redes de organizações indígenas, de mulheres, de entidades indigenistas, ambientalistas e de direitos humanos que trabalham pela proteção da vida e da dignidade humana na Amazônia.

Do ponto de vista da Igreja Católica, iniciativas como a “Economia de Francisco e Clara”, baseadas na ecologia e no desenvolvimento integral, bem como os ensinamentos do Papa Francisco em Laudato Si’ e em Querida Amazônia oferecem luz para que novos caminhos sejam abertos.

Ao encontro dos últimos

Essa perspectiva é compartilhada pela Irmã Laura Vicuña. Ela afirmou que “a Igreja na Amazônia tem um belo caminho de encontro com os últimos da sociedade, com aqueles que estão à margem da sociedade, e o documento de Santarém já reafirmou esse compromisso”.

Da mesma forma, “o Papa Francisco desafia a Igreja a tomar a realidade eclesial da Amazônia como um ‘banco de ensaio’ para a Igreja universal, seja para sua missão evangelizadora, seja para os desafios presentes nesse imenso bioma, tão necessário para a vida de toda a humanidade”.

Alguns aspectos da identidade missionário-sinodal da Igreja na Amazônia oferecem importantes caminhos nessa direção. A Irmã Laura cito9u a experiência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) com a redescoberta da Palavra de Deus; a opção pelos pobres e a valorização dos ministérios leigos; os conselhos e as assembleias nos diferentes níveis da Igreja; as conferências episcopais e as conferências de religiosos e das diversas entidades laicais; o trabalho que vem sendo feito no ecumenismo e no diálogo inter-religioso; o ministério do próprio Papa Francisco e as reformas em curso; e, claro, a CEAMA como uma experiência inédita na Igreja, com um caminho a ser construído em conjunto.

A Igreja desempenha um papel fundamental como aliada dos povos indígenas e amazônicos”, disse a religiosa ao final de sua intervenção, lembrando seu papel na formação de novos líderes e no fortalecimento das instâncias de participação na Igreja e na sociedade.

Tradução: Ir. Hugo Bruno Mombach, FSC, com apoio da versão gratuita do tradutor – www.DeepL.com/Translator

Manaus/AM, 08 de agosto de 2023.

 

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