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O fundador dos Institutos dos Missionários da Consolata e das Irmãs Missionárias da Consolata, o Beato José Allamano, será canonizado no Dia Mundial das Missões, em um Sínodo que tem a missão como foco da Segunda Sessão de sua Assembleia Sinodal, e após o reconhecimento de um milagre ocorrido em uma missão que mostra o valor da interculturalidade na proclamação do Evangelho, a Missão Catrimani.

Uma missão para cuidar da vida

Nesse lugar, no meio da selva amazônica, perto da fronteira entre o Brasil e a Venezuela, a Consolata chegou em 1965, para realizar uma missão diferente, que tinha como objetivo fundamental cuidar da vida de um dos povos mais numerosos e sofridos da Amazônia brasileira, o povo Yanomami, eternamente ameaçado e hoje morrendo lentamente em consequência dos ultrajes realizados pela mineração ilegal, que polui seus rios e os explora de várias maneiras.

Se alguém defendeu e cuidou dos Yanomami da região de Catrimani, foram os missionários e missionárias da Consolata. Eles o fizeram por meio de um modelo de missão baseado no respeito e no diálogo, que se traduz em ações concretas em defesa da vida, da cultura, do território e da floresta, da Casa Comum. Uma missão fundada no silêncio e no diálogo que gera laços de amizade e alianças na perspectiva do bem viver.

Um bem e um privilégio para a Igreja de Roraima.

Uma referência não apenas para aqueles que seguem a espiritualidade de Allamano, mas também para a Igreja de Roraima, representada na canonização por seu atual bispo, Dom Evaristo Spengler, por um de seus antecessores, Dom Roque Paloschi, e por Dom Raimundo Vanthuy Neto, bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira, a diocese mais indígena do Brasil, que até o início de 2024 era padre da diocese de Roraima e participou da fase diocesana do processo de canonização. Junto com eles, religiosos e religiosas, leigos e leigas, entre eles indígenas Yanomami, que com a presença dos Missionários e Missionárias da Consolata descobriram a riqueza da espiritualidade fundada pelo novo santo.

A Missão Catrimani “tem sido um caminho extraordinário, um bem e um privilégio para a Igreja de Roraima”, como disse Dom Roque Paloschi quando era bispo de Roraima, que também insistia na necessidade de respeitar e compreender as diferenças das culturas indígenas. O Cardeal Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Conselho Indigenista Missionário, e o atual bispo de Roraima, Dom Evaristo Spengler, insistiram nisso na coletiva de imprensa que antecedeu a canonização. Uma atitude de cuidado que é motivo de gratidão para os povos indígenas da Terra Yanomami, como reconheceu um de seus líderes, Julio Ye’kwana, na Sala Stampa do Vaticano.

De fato, o milagre pelo qual José Allamano será canonizado pode ser visto como uma expressão do trabalho realizado pela diocese de Roraima. Em 7 de fevereiro de 1996, o Beato Allamano intercedeu em favor do indígena Yanomami Sorino, que vivia na Missão Catrimani. A cura milagrosa do indígena, em uma época em que a medicina tradicional e a ciência médica só podiam esperar sua morte, depois de ter sido atacado por uma onça, que abriu seu crânio, foi fruto da oração fervorosa das Irmãs Missionárias da Consolata, pedindo a intercessão de seu fundador, o Beato José Allamano, no primeiro dia da novena dedicada a ele.

Uma recuperação milagrosa fruto da oração

Após as orações das irmãs, o indígena Sorino teve uma recuperação milagrosa e vive até hoje na comunidade indígena. A diocese de Roraima iniciou o processo diocesano em 2021, e o Dicastério para as Causas dos Santos o concluiu em 23 de maio de 2024, aprovando o decreto de reconhecimento do milagre. É, sem dúvida, uma confirmação da escolha feita pelos Missionários e Missionárias da Consolata por esse tipo de missão, nem sempre compreendida e até rejeitada por alguns católicos.

No atual processo sinodal, que tem debatido o tema da relação com outras culturas e religiões como forma de realizar a missão, o que aconteceu no processo de canonização do novo santo, fundador de dois institutos com um claro caráter missionário, pode ser visto como algo que mostra que a fecundidade do anúncio do Evangelho alcança frutos inesperados. Que São José Allamano continue a interceder pelos Yanomami e por todos os povos indígenas, tantas vezes vistos como gente da periferia, descartados por uma sociedade que coloca o lucro acima da vida das pessoas.

 

 

Por: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Reprodução: CNBB Norte1

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