Por Rosa M. Martins
REPAM-Brasil
Um grito profético se faz ouvir pelos bispos da Igreja Católica, em mensagem enviada aos fiéis e à sociedade na tarde desta quarta-feira, 22, durante a reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
No texto, os bispos ergueram a voz em favor da paz que passa pelo veio do respeito à pessoa humana, pelo desarmamento, pelo fim da miséria e da fome, pela defesa da dignidade e dos direitos das comunidades tradicionais, dos migrantes e da natureza. “A desigualdade social, gerada pela concentração de renda, os conflitos religiosos, o ataque sistemático aos territórios dos povos tradicionais, o desprezo e o rechaço aos migrantes e o flagelo da fome são algumas das formas da violência estrutural visibilizada nos tempos de hoje”, diz trecho da nota.
Os bispos mostram uma clara preocupação com a naturalização da violência e afirmam que “a violência precisa ser estancada. Diante de tantas situações que nos envergonham, nós, bispos do Conselho Permanente da CNBB, voltamos a erguer nossa voz para denunciar a violência e solidariamente clamar por paz. Unimo-nos a todas as pessoas e entidades que, de coração sincero, se empenham nessa direção. Enxergamos nesse esforço o Espírito do Deus da Vida que não nos permite desanimar, nem nos deixa enredar pelas artimanhas do mal, por mais astuciosas e aparentemente convincentes que possam ser”.
Leia a íntegra da mensagem:
UM CLAMOR PELA PAZ
Eu ouvi os clamores do meu povo. (Ex 3,7)
A paz de Jesus Cristo, que proporciona vida em abundância e alegria plena, é um dom precioso de Deus e desejo de todo o ser humano de boa vontade. Contudo, infelizmente, nosso mundo escuta hoje os estrondos da guerra, os gemidos da fome, o ensurdecedor barulho dos tiros que ceifam vidas e ecoam no choro das vítimas e de seus familiares. Soma-se a isso a indiferença, que fecha olhos e corações, as desculpas para nada fazer e as fake-news em seu esforço por tudo encobrir em cortinas de fumaça.
As guerras vão-se multiplicando cruelmente em diversas regiões do mundo, somando-se às abomináveis e impactantes cenas que nos chegam da Ucrânia através da mídia. São invisíveis os conflitos como em Moçambique, Iêmen, Etiópia, Haiti, Mianmar, entre tantos outros, que assumem hoje os contornos de uma “terceira guerra mundial por pedaços” (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 25).
Nestes tempos, faz-se urgente escutar as vozes de tantos que, vitimados por variadas formas de violência, clamam por justiça e paz. Esta realidade não pode ser naturalizada. É impossível aceitar o extermínio de irmãos e irmãs. Seus corpos sem vida clamam por justiça e responsabilização. Suas memórias e seus sonhos de paz devem permanecer vivos entre nós.
A desigualdade social, gerada pela concentração de renda, os conflitos religiosos, o ataque sistemático aos territórios dos povos tradicionais, o desprezo e o rechaço aos migrantes e o flagelo da fome são algumas das formas da violência estrutural visibilizada nos tempos de hoje.
Urge não fechar os olhos diante da loucura da corrida armamentista no Brasil. O número de caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo (CACs), aumentou 325% de 2018 a 2021. “O gasto com armas é um escândalo, suja o coração, suja a humanidade” (Papa Francisco, 21 de março de 2022), particularmente quando alimentado por discursos fundamentalistas, inclusive religiosos, que transformam adversários em inimigos e comprometem a fraternidade.
A violência precisa ser estancada. Diante de tantas situações que nos envergonham, nós, bispos do Conselho Permanente da CNBB, voltamos a erguer nossa voz para denunciar a violência e solidariamente clamar por paz. Unimo-nos a todas as pessoas e entidades que, de coração sincero, se empenham nessa direção. Enxergamos nesse esforço o Espírito do Deus da Vida que não nos permite desanimar, nem nos deixa enredar pelas artimanhas do mal, por mais astuciosas e aparentemente convincentes que possam ser.
A vida é o maior dom! Cuidar responsavelmente da vida implica trabalhar
artesanalmente pela paz (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 225), a justiça social e o bem comum, sempre no respeito pelas diferenças, valorizando a liberdade religiosa e a verdade, dialogando até a exaustão, pois tudo isso é condição para a verdadeira paz.
Por isso, na responsabilidade de nossa missão de pastores, queremos expressar nossa palavra de esperança: aos sofredores, que não desistam, aos que têm poder de cuidar, defender e promover o bem comum, que não se omitam e aos que diretamente ferem e destroem a paz, que se convertam!
Unamo-nos em favor da verdadeira paz! Não nos deixemos abater! Não nos deixemos frustrar! O Bom Deus escuta os clamores de seu povo! Que a Bem-aventurada Virgem Maria, Rainha da Paz, interceda sempre pelo Brasil e pelo mundo.
Brasília, 22 de junho de 2022.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler. OFM
Arcebispo de Porto Alegre – RS
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá – MT
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da Arquidiocese de São
Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
Secretário Geral da CNBB