Por Luis Miguel Modino | Comunicação CNBB Norte1, com informações de Verónica Rubi
Um povo que sabe de relação, esse é o Povo Magüta, que a exemplo do Deus Trindade, Deus comunidade, Deus de relação, desfruta dos encontros, é mestre em acolhimento e relações interpessoais. Segundo informa Verónica Rubí, missionária na Diocese do Alto Solimões, que mora na aldeia Umariaçú I junto ao Povo Magüta, e é integrante da coordenação do Projeto Igreja Sinodal com rosto Magüta, nos dias 26, 27, 28 de outubro foi realizado o Encontro Internacional do Povo Magüta na comunidade Umariaçú I, Diocese de Alto Solimões, com participação de 120 pessoas de Peru, Colômbia e Brasil.
O encontro começou com a apresentação de cada uma das sete comunidades, lembrando jogos e danças tradicionais, com alegria, participação e familiaridade que os caracteriza. Uma familiaridade que se fez presente na proteção dos pajés sobre o grupo, sobre todo o Povo Magüta concebido como Uma só Nação.
Este povo indígena está organizado em grupos familiares, como clãs, identificando dois grandes grupos, os clãs com penas e os sem penas, divisão importante para estabelecer os casamentos. No encontro foram constituídos grupos por clãs, para a realização de várias atividades, cada um deles fez as pinturas faciais com jenipapo próprias de seu clã.
Sendo este o Encontro Internacional, depois de três nacionais, um em cada país, onde foram trabalhados os temas Origem, Cultura, Território e Espiritualidade, se apresentaram as conclusões do trabalhado em cada encontro nacional e continuaram a aprofundar aspectos importantes para reforçar a identidade de Um só Povo Indígena Magüta.
Com relação à origem, tudo começou a partir da existência de uma mulher. Mowichina nasceu das penas de uma ave, ela deu origem a tudo o criado. A cultura do Povo Magüta reconhece a importância da mulher no momento da puberdade na Festa da Vida, ela representa a conexão do ser humano com a natureza e tudo o criado. Para esse povo, o território é fonte de vida, os participantes se perguntaram como fazer para que nos reconheçam em um só território, sem divisões de países. Em um dos relatos de origem diz que I’pi e yo’i percorreram tudo o território buscando uma arvore samaumeira que na derrubada deu lugar a luz e ao rio.
Com relação à espiritualidade, a Povo Magüta acredita que no início a terra estava habitada por espíritos, e os pajés têm a função de ser mediadores entre os espíritos, o Povo Magüta, a medicina tradicional e o território. Os espíritos da floresta fortalecem a vida do povo quando temos bom coração. É por isso que todos têm que conhecer a medicina tradicional para poder curar, não só os pajés têm essa capacidade, todos os que conhecem e tem bom coração são assistidos pelos espíritos da floresta.
O encontro contou com a presença de Dom Adolfo Zon, bispo da Diocese de Alto Solimões, que visitou aos participantes e os encorajou a fortalecer-se desde sua identidade de Povo indígena Magüta, sendo feita a proposta de ter uma bandeira que os identifique como Uma só Nação, sendo lançado um concurso da Bandeira Magüta, que será realizado por países, Peru, Colômbia e Brasil, para depois ser escolhida a Bandeira que represente a Nação Magüta como um só Povo.
O encontro também teve um momento para o trabalho de medicina tradicional dos pajés, que fizeram atenção pessoalizada e proteção a todo o território Magüta transfronteiriço. Finalmente, foi realizada a avaliação e encerramento do encontro, os participantes destacaram a boa organização do tudo: acolhimento, metodologias, alimentação e logística, sentiram-se libres para expressar-se por ser todo na língua ticuna. Destacaram que nestes encontros conhecem novos parentes, e que a partilha entre todos possibilita o maior conhecimento. A participação de jovens foi numerosa e avaliada em forma satisfatória pelos diálogos com os anciãos e para eles apropriar-se da Cultura. Foi importante o trabalho dos pajés e agradeceram as camisas como expressão visível de sua identidade “Um só Povo Magüta”.