Equipe de coordenação da Campanha “A vida por um fio” reunida na sede da CONTAG,, Núcleo Bandeirantes, Brasilia, DF. Fotp: Rosa M. Martins

Por Rosa M. Martins

REPAM-Brasil

A Campanha “A vida por um fio”, inciativa que surge a partir do Sínodo da Amazônia, é coordenada por várias organizações e movimentos e tem por objetivo  ajudar, tanto os grupos afins, como o governo, nas demandas de proteção das pessoas que têm suas vidas ameaçadas na cidade ou no campo, nas pastorais e movimentos (indígenas, camponeses, quilombolas, missionárias, missionários). “O Estado, segundo Jussara Seidel, não dá conta por si mesmo de atender todas as demandas de proteção”.

Para o presidente da Contag a Campanha “é importante porque traz um debate muito amplo sobre as causas da violência, nos faz entender que a violência é programada pelo agronegócio”, acena.

Ainda de acordo com Santos, é uma Campanha que “nos desperta uma ação mais coletiva para nos protegermos da violência. Nos ajuda a descobrir as nossas potencialidades, a força que temos não para combater a violência com violência, mas combatê-la com a justiça, denunciando, nos órgãos estaduais, federais, e até internacionais”.

Presente no encontro da Equipe de coordenação da Campanha “A vida por um fio”, realizado nos dias 16- 18 de maio, – para avaliar as atividades realizadas nos anos de 2020 e 2021 e articular ações futuras em prol da proteção dos defensores e defensoras dos Direitos Humanos, como também suas comunidades – , Santos relatou que a Contag muito pode contribuir com a defesa das pessoas ameaçadas pelo fato de ter federações em todos os Estados brasileiros e sindicatos nos municípios, atuando diretamente nos casos de violência no campo. “Temos atuação direta na defesa daqueles que lutam por seus direitos e estão com a vida por um fio, marcados para morrer. Eles são agricultores familiares, assentados, posseiros, quilombolas, ribeirinhos e indígenas”, enfatiza.

A cada ano piora a situação da vida no campo

Sobre a situação da vida no campo, Santos afirma que a partir do pós-golpe 2016, a situação só tem piorado. “Estamos falando de agricultor familiar e entendemos como agricultores familiares todas aquelas famílias que têm uma propriedade ou não, mas exerce sua atividade para tirar o seu sustento e progredir na vida”.

Algumas das razões desta piora da qualidade de vida no campo, é segundo, Santos, pelo fato de que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura (PRONAF), instrumento importante para ajudar a fortalecer agricultura familiar, vem sendo cada dia mais desvalorizado, tirado. Outra razão é o fator comercialização: a pessoa produz, mas não tem um mercado garantido, por falta de expertise e acesso ao mercado: produz, coloca na mão do atravessador que ganha tantas vezes mais que ele; e, ainda, a desvalorização da agricultura familiar em termos mais gerais, pelo Agronegócio. Há uma supervalorização deste último em detrimento do primeiro, pelo governo brasileiro.

As vidas ameaçadas. Por quê?

São várias as ameaças e de diversos tipos: comunidades ribeirinhas que correm o risco de ficar sem as águas donde elas tiram o seu sustento; aqueles que lutam por um pedação de terra e exigem a reforma agrária e estão literalmente ameaçados de perderem suas terras e correm o risco de vida. A principal razão da perseguição e violência é a luta por direitos básicos como à terra, ao crédito, à educação, à comercialização, à saúde, aos MCS. A internet ainda é um direito a ser conquistado no campo.

Com a vida por um fio por amor ao Reino de Deus: “Devemos temer, mas não tremer”

Durante o curso de capacitação dos líderes das identidades que ajudam na defesa dos defensores dos direitos humanos (Sementes de proteção) -, o advogado e missionário do Verbo Divino, há mais de 30 anos na Amazônia, padre José Boeing, ameaçado de morte, tem a vida por um fio por denúncia feita contra o agronegócio. “Hoje a ameaça não é direta, mas uma forma de intimidar, com expressões como o padre está se envolvendo em política, ‘é padre polêmico que está atrapalhando o progresso’. A gente às vezes tem proteção, mas o trabalhador, não. Estamos lutando pelos direitos de segurança do trabalhador. Em 2006 a ameaça foi mais direcionada”, conta Boeing. E continua. “Devemos temer, mas não tremer. Temos que ter cautela, mas sabemos que não é fácil. Não podemos deixar a luta, pois o povo que está no interior é que está vulnerável. Como padre e advogado, se tenho possibilidades, porque não o usar em favor dos mais vulneráveis, a serviço dos pobres nem que custe a vida? Perde-se a vida mas não se perde a dignidade. Por isso há tantos mártires.

Organizações que promovem a Campanha “A vida por um fio”

  1. Cáritas Brasileira
  2. Centro Popular de Formação Vida e Juventude (Vida e Juventude)
  3. Comissão Episcopal para a Amazônia-CEA
  4. Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB –
  5. Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) –
  6. Comissão Pastoral da Terra (CPT)
  7. Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB)
  8. Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
  9. Escola Nacional de Fé e Política (CEFEP)
  10. Instituto Agostin Castejon (IAC)
  11. Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)
  12. Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) –
  13. Pastoral Carcerária Nacional –
  14. Rede Eclesial Pan-Amazônia (REPAM Brasil)
  15. Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH)
  16. Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares  (CONTAG)
  17. CAIS – Centro de Apoio e Assessoria às Iniciativas Sociais
  18. JnT – Justiça nos Trilhos
  19. MAM – Movimento dos Atingidos pela Mineração
  20. SINFRAJUPE – Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia
  21. VIVAT – Internacional

 

 

 

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