Quilombos Santa Maria dos Moreiras, Jerusalém e Bom Jesus, no município de Codó-MA, denunciam impactos ambientais em Carta Pública
Nosso Quilombo é centenário, com mais de cinco gerações. Hoje somos 58 famílias com 20 anciãos, 89 adultos mulheres e homens, 49 jovens, 14 adolescentes, 50 crianças, totalizando 222 pessoas com profunda relação com nossos ancestrais. Nosso povo naturalmente vai se multiplicar. Portanto, não queremos a diminuição do nosso território, chão sagrado, marcado com o sangue e suor dos nossos antepassados.
Se alguém alegar que não temos muita produção, é engano de quem achar, pois há mais de cem anos nosso povo produz e se reproduz neste chão com nosso próprio modo. Aqui nós tiramos o sustento da vida e criamos nossos filhos e filhas, netos e netas, bisnetos e bisnetas, tataranetos e tataranetas, assim por diante.
Não queremos o QUILOMBO para ser desmatado. Queremos nosso QUILOMBO para continuar existindo e cuidando da nossa MÃE TERRA, preservar e cuidar bem dele para que os nossos ancestrais e encantados continuem conosco nos protegendo. Queremos proteger e preservar o BOQUEIRÃO DO CACAU, A SERRINHA, preservar a SERRA DO VERDIANO, O CHAPADÃO DA MACAÚBA, precisamos cuidar do OLHO D’ÁGUA DO TAMBURI, preservar o CARRASCO DO PEIXE e do FINCA PÉ.
Todos esses lugares citados estão dentro do nosso território. Não podemos e não queremos viver sem eles, a existência do nosso povo depende desses lugares. Se tudo isso for tirado de nós, o ESTADO estará tirando a nossa vida, a começar pelos nossos filhos e filhas, netos e netas, bisnetos e bisnetas, tataranetos e tataranetas, porque se formos expulsos para a cidade sem condições de se manter lá, nossos filhos e filhas vão cair na marginalidade e serão ASSASSINADOS PELO TRÁFICO DE DROGAS e pela POLÍCIA DO ESTADO, cuja bala tem preferência pela juventude preta.
Nós somos todos PRETOS e PRETAS, SIM! E nos orgulhamos de sermos descendentes de um povo que jamais aceitou ser submetido, um dia sequer, dos 350 anos de escravidão e açoite. Neste país sofremos racismo de várias formas. Então queremos que as autoridades competentes nos ajude mantendo a integridade do nosso território. Não queremos terra pra vender. Queremos nosso território livre para viver.
Quilombo Santa Maria dos Moreiras, Jerusalém e Bom Jesus, Codó-MA