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Mais de 80 mulheres que integram a instituição participaram do encontro que buscou promover um espaço de escuta, acolhimento e fortalecimento na luta junto aos povos indígenas
Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Na última semana, entre os dias 16 e 19 de outubro, mais de 80 mulheres que integram o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se reuniram no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), para realizar o I Encontro de Mulheres no Cimi.

Conduzido pelo tema “Na escuta e na partilha tecemos nossa mística e esperança gestando relações e cuidado”, o Encontro buscou promover um espaço de escuta e confiança entre as mulheres, que durante os quatro dias do evento, partilharam suas experiências, anseios e motivações para fortalecer a caminhada do Cimi junto aos povos indígenas.

Os diálogos e os debates tiveram como fio condutor o autocuidado, o acolhimento, a memória, o pertencimento e a projeção das mulheres no trabalho missionário. Para isso, foram organizadas místicas, rodas de conversa e  grupos de trabalho a fim de se refletir sobre as especificidades e os desafios de “ser mulher no Cimi”.

“Somos uma das faces do feminismo e devemos assumir esta luta e entendê-la em suas especificidades no campo indigenista”

Mulheres no Cimi: encontro reúne pela primeira vez missionárias, assessoras e funcionárias que lutam pela causa indígena. Foto: Andressa Algave/ Cimi Regional Maranhão

As mandalas produzidas e tecidas durante o Encontro refletiram a centralidade e a circularidade construída em torno das  falas e da escuta entre as mulheres que integram o Cimi. No tecimento das seis mandalas, missionárias, colaboradoras e assessoras conversaram sobre o lugar que ocupam na instituição e sobre a importância de se reposicionar politicamente e de se transformar o fazer missionário diante de tantas “armadilhas coloniais”.

“Este encontro, portanto, pensado e sonhado por nós, não é apenas um evento, é a celebração da força, da coragem, da resiliência e da união de mulheres que estão comprometidas na construção do Cimi, com a transformação social e a defesa dos direitos dos povos originários deste país. Somos uma das faces do feminismo e devemos assumir esta luta e entendê-la em suas especificidades no campo indigenista”, destacou em carta, Alcilene Bezerra, vice-presidente do Cimi.

Organizado pelo Coletivo Nacional de Formação da entidade, o Encontro contou com a participação de missionárias, assessoras, aspirantes e funcionárias dos 11 Regionais da instituição. “Foram praticamente dois anos para preparação deste Encontro, em que a gente foi abrindo os caminhos, as portas para que esse evento acontecesse”, explicou Rosimeire Diniz Santos, missionária do Cimi Regional Maranhão e  uma das coordenadoras do Coletivo Nacional de Formação do Cimi.

“Não nos encontramos apenas, nos reencontramos com aquilo que nos atraiu para o Cimi, o sonho de contribuir para as mudanças necessárias no mundo”

As mandalas tecidas durante o Encontro refletiram a centralidade e a circularidade construída em torno das falas e da escuta entre as mulheres. Foto: Andressa Algave/ Cimi Regional Maranhão

Para a missionária, “a importância do  Encontro se dá no sentido de se criar um espaço entre nós mulheres onde a gente possa se conhecer melhor e falar sobre as alegrias e os desafios vividos no cotidiano da missão. É uma forma de nos mantermos vivas e animadas no trabalho missionário”, enfatizou.

O evento, nesse sentido, possibilitou o que Lídia Farias, missionária do Cimi Regional Mato Grosso do Sul, considerou ser, mais do que um encontro, mas um reencontro com o que as mobilizaram a assumir o compromisso com a causa indígena.

“Todas nós estamos ainda vivendo neste reencontro que o Encontro nos proporcionou. Não nos encontramos apenas, nos reencontramos com aquilo que nos atraiu para o Cimi, o sonho de contribuir para as mudanças necessárias no mundo. No nosso mundo Cimiano, ver o essencial, só é possível com os olhos do coração”, considerou Lídia.

I Encontro Nacional das Mulheres no Cimi. Foto: Adi Spezia/ Cimi

O primeiro em 50 anos

Em mais de 50 anos de existência do Cimi, esta é a primeira vez que as mulheres se reúnem em um evento organizado e destinado a elas. Para Rosimeire, sua realização traduz “a realidade desse tempo que nós estamos vivendo”, considerou. “Ele se insere nesse contexto mais amplo, onde as mulheres tem aberto e trilhado caminhos para falar sobre si e sobre o trabalho missionário”.

Segundo Ivanilda Torres, secretária adjunta do Cimi, o Encontro ocorre na perspectiva de avaliação dos 50 anos da instituição, que tem se proposto a discutir o papel  e a relevância das mulheres em sua estrutura. Para isso, “trouxemos a memória daquelas que nos antecederam, além dos testemunhos de entrega dessas mulheres à causa indígena”.

Para a secretária, o Encontro marca um momento histórico na trajetória da instituição.“Em 50 anos de história do Cimi, um encontro como esse nunca tinha acontecido. Então é um marco”, enfatiza Ivanilda, que ressalta o protagonismo das mulheres nas reflexões sobre  cuidado e acolhimento nas relações, bem como na luta contra estruturas coloniais tais como o patriarcado e o machismo.

“Nossa luta é pela destruição de todas as formas de opressão, contra nossos corpos, contra os corpos marginalizados por este sistema”

I Encontro Nacional das Mulheres no Cimi. Foto: Adi Spezia/ Cimi

Para essa luta, as mulheres no Cimi são animadas e inspiradas pela luta das mulheres indígenas, que “tem liderado cada vez mais retomadas e assumido a dianteira de seus povos e movimentos”, lembrou Alcilene. Elas “trazem exemplos e potências quando enfrentam o agro, o garimpo, os pistoleiros, o latifúndio, ou seja, uma ordem masculina violenta, em defesa das entidades femininas: a mãe terra, a comunidade, por fim, a vida”.

Em carta produzida durante o Encontro, missionárias leigas e religiosas, assessoras e colaboradoras do Cimi expressaram a importância de suas lutas contra o sistema patriarcal, parte constitutiva do colonialismo e que “atrapalham o nosso fazer missionário”.

“Nossa luta é pela destruição de todas as formas de opressão, contra nossos corpos, contra os corpos marginalizados por este sistema. Contra ele, usaremos nossa teimosia, ousadia, espiritualidade e o sentimento de comunidade, onde mulheres e homens possam tecer outros caminhos de acolhimento e gestar relações outras, onde o cuidado integral com a vida seja a prioridade”, expuseram, em carta, as mulheres no Cimi.

Confira abaixo a carta na íntegra:

Carta do 1º Encontro de Mulheres no Cimi

A partir do tema “Na escuta e na partilha tecemos nossa mística e esperança gestando relações e cuidado”, mais de 80 mulheres missionárias (leigas e religiosas) assessoras e colaboradoras do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se reuniram entre os dias 16 e 19 de outubro, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, Goiás. O objetivo foi promover a escuta das mulheres dos diferentes Regionais do Cimi, partilhar suas experiências, anseios, desafios e motivações para o fortalecimento da caminhada e das lutas juntas aos povos indígenas.

Com o coração repleto de carinho, recebemos com muita esperança a carta de nossa querida vice-presidenta, Alcilene Bezerra: “A luta das mulheres é política e as mulheres do Cimi são chamadas a transformar o fazer missionário”. Foi simbólico a realização desse encontro de mulheres, e no contexto de avaliação dos 50 anos do Cimi, representa um momento histórico para a entidade. Foi um encontro e reencontro entre nós, onde reafirmamos nossa opção e compromisso.

Ao longo de uma rica caminhada, trazemos na vida a experiência de tecer relações de afeto e juntas, criamos um ambiente para nos escutar, através da construção coletiva de mandalas. As luzes da mística missionária militante se expressaram de forma muito forte na atenção ao cuidado, à água e à Mãe terra, tudo isso conectado ao sagrado feminino que habita em nós. Esse acolhimento proporcionou cura e reflexão sobre as relações na prática missionária. Fazer a memória das mulheres que nos antecederam demonstra nossa gratidão a elas, por terem aberto os caminhos para continuarmos seus passos e testemunhos.

Constatamos que o sistema patriarcal provoca as dores, a violência que não só atingem os nossos corpos, mas são construídas em cima deles, de modo particular, os corpos femininos, deixando marcas profundas, causando adoecimento. Da mesma forma, a Mãe Terra, tão violentada e impactada pela exploração humana, está sendo destruída por aqueles que colocam o lucro acima da vida.

Para continuarmos vivendo em segurança e podermos falar de situações que atingem o nosso corpo é necessário que, como Cimi, possamos assumir a luta constante contra o machismo e o racismo. Esses comportamentos são partes constitutiva do sistema colonial, portanto, sustentam o sistema patriarcal e atrapalham o nosso fazer missionário.

Nossa luta é pela destruição de todas as formas de opressão, contra nossos corpos, contra os corpos marginalizados por este sistema. Contra ele, usaremos nossa teimosia, ousadia, espiritualidade e o sentimento de comunidade, onde mulheres e homens possam tecer outros caminhos de acolhimento e gestar relações outras, onde o cuidado integral com a vida seja a prioridade. Assim continuamos esperançando e efetivando o Bem Conviver, pois a causa indígena é de todos e todas nós.

Luziânia, 19 de outubro de 2024

Por: Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Reprodução: Cimi

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