Por Osnilda Lima
A Comissão Episcopal para Ecologia Integral e Mineração (CEEM) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou o relatório da “Missão solidária junto ao Povo Indígena Ka’apor”, no Maranhão. A publicação aborda o contexto histórico e geográfico, juntamente com informações da missão, destacando as violações de direitos humanos e da natureza enfrentadas pelos Ka’apor, habitantes da Terra Indígena Alto Turiaçu, localizada entre o Noroeste do Maranhão e o Nordeste do Pará.
Em dezembro de 2023, a Comissão, acompanhada por representantes de pastorais sociais, movimentos populares e organizações da sociedade civil, visitou os Ka’apor para ouvir suas reivindicações, aumentar a visibilidade de suas lutas e oferecer apoio solidário.
A visita da Comissão e dos representantes teve como objetivo principal estabelecer um diálogo solidário com o povo Ka’apor, buscando compreender suas necessidades e desafios diante das pressões e ameaças que enfrentam em Aseu território. Durante a missão, foram realizadas reuniões, trocas de experiências e momentos de escuta ativa para fortalecer os laços de solidariedade e compromisso.
O relatório destaca a importância de ampliar a conscientização sobre a realidade enfrentada pelos Ka’apor, bem como a urgência de medidas efetivas para proteger seus direitos territoriais, culturais e ambientais. Além disso, ressalta a necessidade de promover a justiça social e o respeito à diversidade étnica e cultural, reconhecendo a importância fundamental dos povos indígenas na preservação da biodiversidade e no equilíbrio dos ecossistemas no enfretamento a emergência climática.
Guardiões da Casa Comum
O bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da CEEM-CNBB, dom Vicente de Paula Ferreira, destacou a importância dos povos originários como protetores da Casa Comum, da Mãe Terra, da biodiversidade, dos rios e das florestas. Dom Vicente reforça ainda que esses povos estão ameaçados por empreendimentos como mineração, agronegócio, transição energética e capitalismo verde.
O bispo alerta que tais ações estão sob controle de uma minoria global, agravando as dificuldades dos menos favorecidos e do meio ambiente. Dom Vicente enfatiza o apoio às narrativas e as lutas dos povos originários, promovendo a sustentabilidade e a agroecologia. Ele destaca que a missão, realizada no junto com o povo Ka’apor, foi em nome do Evangelho da Vida e de Jesus Cristo, visando fortalecer a vida plena dos povos indígenas.
Bondade e justiça
O bispo de Floresta (PE) e membro da CEEM-CNBB, dom Gabriel Marchesi, participou da missão e enfatizou que, ao conviver com o Povo Ka’apor, percebeu que é impossível ser bondoso sem justiça. Ele ressalta a importância de não separar a bondade da justiça, nem de encobrir a justiça necessária e urgente com gestos bondosos.
Da acordo com ele, o relatório é valioso, pois ajuda a descobrir a verdade e a buscar justiça. “O Povo Ka’apor, como muitos outros, é frequentemente ignorado e não tem o direito de ser protagonista de suas vidas. O relatório ajuda trazer luz às iniciativas e coragem dos Ka’apor, a criar justiça, para colocarmos as bases de um mundo renovado e mais justo. E se formos pessoas de fé precisamos viver o nosso amor e a nossa bondade, não de um jeito hipócrita para sermos vistos e para acalmar a nossa consciência, mas para seguir de perto e com fidelidade o nosso Senhor Jesus Cristo”.
O indigenista José Mendes de Andrade, que atua na Região, apontou que a visita da Comissão fortaleceu a luta do Povo Ka’apor. “A visita foi extremamente significativa naquele momento, pois a comunidade havia sido criada recentemente para impedir que os invasores continuassem entrando ou se estabelecendo lá. Foi essencial para trazer visibilidade à situação e solidariedade acima de tudo. Mais famílias estão chegando, porém, a estrutura é insuficiente para recebê-las e instalá-las, assim como para fornecer alimentação”, relata Andrade.
A CEEM-CNBB reitera o compromisso com a vida e os direitos dos povos indígenas e da Terra, além de enfrentar toda forma de injustiça e violência que ponha em risco a dignidade e a integridade dessas comunidades. A solidariedade e o apoio são fundamentais para construir uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável, onde todas as culturas e tradições sejam respeitadas e valorizadas.