Agentes de pastoral se reúnem no Recanto dos Pescadores, em Olinda-PE, até sexta-feira (25), para discutir também os impactos da mineração nas comunidades pesqueiras
Texto: Henrique Cavalheiro – Comunicação CPP | Fotos: Ingrid Campos – Comunicação CPP
O Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) deu início à sua Formação Nacional dos Agentes de Pastoral, em Olinda (PE), reunindo participantes de todo o Brasil entre os dias 21 e 25 de outubro de 2024. O encontro tem como objetivo refletir sobre os impactos das crises climática e ambiental nas comunidades tradicionais pesqueiras, guiado pelo tema central da Ecologia Integral.
A programação começou com uma celebração eucarística, seguida por um momento de mística inspirado no Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. Durante a reflexão, ecoou o verso “Sejas louvado pela irmã terra. Mãe que sustenta e nos governa. Produz os frutos, nos dá o pão; com flores e ervas sorri o chão”, introduzindo o tema central da formação. Esse momento serviu para conectar os agentes de pastoral ao propósito do evento, destacando a importância da ecologia integral na construção de uma relação harmônica com a criação.
* Campanha da Fraternidade 2025: conheça o tema, a identidade visual e a oração
Dom José Altevir, presidente do CPP, apresentou o tema da Campanha da Fraternidade 2025. A campanha, cujo tema é ‘Fraternidade e Ecologia Integral’ e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), tem como objetivo geral “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”.
A cada ano, os bispos do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da CNBB escolhem um tema e lema para a Campanha, acolhendo sugestões dos regionais, organismos do Povo de Deus, ordens religiosas e fiéis leigos, com o objetivo de chamar a atenção para uma situação que necessita de conversão, em vista do bem comum. Em 2025, o tema foi motivado pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, pelos 10 anos da encíclica ‘Laudato Si’’, pela nova exortação ‘Laudate Deum’, pelos 10 anos de criação da A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM e pela realização da COP 30 em Belém, a primeira na Amazônia.
“Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31)
Em sua fala, o bispo ressaltou que o CPP está comprometido em oferecer uma contribuição concreta para a campanha. “Estamos justamente com esse intuito de oferecer a nossa contribuição para a Campanha da Fraternidade, ou seja, a partir dos objetivos específicos da Campanha, nós do CPP, olhando, analisando os territórios, analisando as comunidades pesqueiras, fazendo o diagnóstico da nossa igreja local, apresentar novos objetivos específicos”, afirmou Dom Altevir. Segundo ele, o objetivo é criar um plano de ação que vá além do tempo da quaresma, de modo a gerar um impacto mais duradouro nas comunidades.
Reforçou também a relevância do tema para o trabalho da Pastoral, lembrando que esta é a nona campanha que aborda a temática ambiental. “A Campanha da Fraternidade 2025 traz uma enorme contribuição, olhando todo o histórico das campanhas, oito campanhas falando sobre o tema do meio ambiente, a nona sobre a ecologia integral”, observou. Ele afirmou que o CPP pretende acolher a campanha em sua ação pastoral, buscando ressignificar a esperança e ter uma incidência direta na ação integral da entidade. “Vamos nos debruçar nos grupos para oferecer algo que possa, de fato, contribuir com a Campanha da Fraternidade 2025, acolhendo-a em nossos territórios, em nossa igreja local, em nossas pastorais sociais”, concluiu Dom Altevir.
De acordo com o texto-base da CF 2025, a Igreja no Brasil entende por ecologia integral não é só cuidar da natureza e do meio ambiente, mas de todo o conjunto do ambiente em que vivemos e nos relacionamos: cidade, família, trabalho, espiritualidade. Tudo está interligado e compõe a Casa Comum.
A agente de pastoral, Daniela Bento, do CPP-Sergipe, enfatizou a importância do tema da CF 2025, que aborda a ecologia integral como um compromisso cristão. Para ela, a campanha traz um tema urgente e desafiador. “A natureza já dá sinais do seu desgaste e que não dá mais para a gente bancar isso em nome do lucro, eu penso que essa formação é muito importante para nós como agentes, inclusive para criar uma narrativa mais próxima de dialogar com os cristãos que querem se somar com o projeto sagrado de Deus”, destacou a agente.
Daniela comentou sobre a resistência de alguns grupos em associar a defesa ambiental a valores religiosos, desconsiderando que a preservação da natureza é um princípio bíblico. “Deus criou todas as coisas e nos entregou para cuidarmos, e isso enquanto um valor humano e sagrado desse lugar comum”, afirmou, reforçando que é fundamental superar visões polarizadas e compreender a criação como um templo divino.
Também destacou a relação entre a degradação ambiental e a vulnerabilidade das populações mais pobres, público com o qual o CPP atua diretamente. “Quem está mais atingido são os mais empobrecidos, que é exatamente o público que o CPP trabalha”, explicou. Ela ressaltou que a destruição da natureza afeta de forma direta as comunidades tradicionais e comparou a resistência a essa situação com a própria figura de Jesus Cristo. “Jesus no meio dos pobres, também está queimando, também está ardendo nas matas, também está comendo fumaça, poeira e fuligem”, concluiu.
Durante a Formação, os participantes também discutirão os impactos negativos da mineração na pesca artesanal, nas águas e no clima, buscando fortalecer o pensamento crítico e a ação pastoral na defesa da Casa Comum. Fundamentado nos princípios da Ecoteologia e nas orientações do Papa Francisco na encíclica ‘Evangelii Gaudium’, o evento visa reforçar a luta junto com as comunidades pesqueiras pela preservação de seus territórios e modos de vida.
Com essa iniciativa, o CPP reafirma seu compromisso com a construção de uma pastoral engajada na justiça social e ambiental
Por: Henrique Cavalheiro – Comunicação CPP | Fotos: Ingrid Campos – Comunicação CPP
Reprodução: CPP Nacional