A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil realizou na manhã desta quarta-feira (18), o 2° Encontro de Ecoteologia da Rede. Nesta edição, o evento trouxe como temas principais o Sínodo para a Amazônia e a Ecologia Integral, provocando reflexões sobre a espiritualidade da escuta e os compromissos e horizontes ecoteológicos.
Participam do encontro mais de 40 participantes, entre bispos, assessores da REPAM-Brasil, lideranças dos comitês locais e convidados.
Dom Erwin Kräutler, presidente da REPAM-Brasil, abriu o encontro acolhendo os participantes e lembrando a importância de refletir sobre o tema à luz da caminhada do Sínodo para a Amazônia. Durante o evento, Moema Miranda, assessora da Rede, conduziu um momento de memória do encontro de ecoteologia, realizado em 2017, que provocou diversas reflexões sobre o tema a partir da encíclica Laudato Si.
Quem escutar? A quem vale à pena escutar?
Essa é uma das provocações que o missionário comboniano e assessor da REPAM-Brasil, Pe. Dário Bossi, destacou no painel “A espiritualidade da escuta: o caminho do Sínodo para a Amazônia”. A apresentação abriu as discussões do primeiro dia do encontro.
Pe. Dário recordou o Papa Francisco durante o Sínodo para a Amazônia, que suscitou uma atitude permanente de escuta pedindo que sejamos sinal duma Igreja à escuta e em caminho. Para o missionário, o chamado do pontífice é uma “provocação quase permanente para todos nós”.
‘Pedimos antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvirem com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama’ (EC 6).
“O papa repete e tenta insistir conosco que a escuta ela é um dom do Espírito Santo, não é simplesmente um voluntarismo nosso, é, sobretudo, um dom do Espírito. Não depende de nossa capacidade ou habilidade, ao contrário, é um dom do Espírito que exatamente por ser dom requer uma postura permanente de docilidade, confiança, paciência e descentralização”, ponderou o assessor.
Ele afirmou ainda que o dom da escuta é um dom pelo qual deixamos de nós sentir “mestre” para assumir uma postura de aprendiz e de discípulo.
Compromissos e horizontes ecoteológicos
Márcia Oliveira, também assessora da REPAM-Brasil, conduziu as reflexões do painel “Documento Final e Querida Amazônia: compromissos e horizontes ecoteológicos para os novos caminhos”, onde apontou elementos do documento final e da Querida Amazônia.
No painel, a assessora afirmou que a sinodalidade foi o fio condutor da Assembleia Sinodal para escutar a realidade, encontrar os possíveis caminhos e promover ações que venham ao encontro das necessidades da região pensada a partir das particularidades de seu bioma, da diversidade sociocultural de seus povos e da posição estratégica que ela ocupa no planeta. “Então localizar a Amazônia nessa perspectiva como uma grande Casa Comum me parece que é o grande horizonte nessa perspectiva de novos caminhos, destacou Márcia.
Márcia ressaltou que, apesar da expressão não ser uma insistência no documento, a proposta do diálogo e de aproximar a prosta da Ecologia Integral, que perpassou todo o Sínodo para a Amazônia e que está muito presente na Querida Amazonia, a Ecoteologia e encontrar os pontos comuns.
“Querida Amazônia nos apresenta um conjunto de caminhos que representam um itinerário de grande importância para a Igreja na Amazônia. Fundamentado em percursos sociais, culturais e ecológicos, o itinerário aponta para uma igreja que escuta o clamor do povo amazônico num território ameaçado e marcado pela morte”, afirmou a assessora.
Ampliando a reflexão, Ima Vieira afirmou que o Sínodo veio para reforçar a ecoteologia e sua perspectiva na teologia. Para ela, “a ecoteologia tem muitas perguntas que podem traçar muitos elementos próprios das suas preocupações podemos pensar na ecologia integral como uma reflexão relacionada a todas as dimensões da vida humana, que busca dar uma resposta na perspectiva holística relacional, mas ela também fala de práxis da ética da ecoteologia”.
Daniel Souza, teólogo, membro da Igreja Anglicana e convidado da REPAM-Brasil, partilhou algumas inquietações e provocou o grupo sobre a “escuta da diversidade”. Segundo Daniel, a escuta da diversidade também pode ser perigosa porque pode-se “criar uma inclusão excludente”.
“Então, eu crio um espaço de totalidade diverso, mas essa diversidade é uma inclusão excludente porque, de fato, não desloca o poder. O poder está mantido e os esquemas de quem diz o mundo, fórmula e estabelece. Então qual é o lugar da diversidade quando estamos falando de ecoteologia?, questionou o teólogo.
O encontro segue até amanhã (19) com painéis que discutem “Fratelli tutti e o Sínodo para a Amazônia: relações e intuições para a ecoteologia” e os “Desafios e horizontes para a Ecoteologia no mundo contemporâneo”.
Comunicação REPAM-Brasil