A CEAMA representa uma novidade do Espírito, que é tecer caminhos, algo que somos chamados a comunicar ao mundo.
“Estarmos muito atentos à missão muito especial que temos na Amazônia”, uma necessidade que o cardeal Claudio Hummes insistiu no início da Assembleia Ordinária da Conferência Eclesial da Amazónia (CEAMA), que se realizou virtualmente no último dia 30 de julho.
Segundo dom Claudio, presidente da CEAMA, o Papa Francisco convida-nos a pôr em prática, e isto depende sobretudo dos bispos, a levar a sério a missão que temos depois do Sínodo para a Amazónia, um processo em busca da grande reforma da Igreja. Foi por isso que pediu a todos para se perguntarem se alguma coisa realmente mudou nas dioceses, vicariatos e prelazias, e se as pessoas estão conscientes desta mudança.
Para o presidente da CEAMA, é necessário ser uma rede, e não trabalhar isoladamente, que a rede não fique numa ideia. O cardeal Hummes salientou a necessidade de estarmos conscientes de que estamos num processo de reforma que o Papa Francisco propôs à Igreja. Neste caminho da CEAMA, a Assembleia Ordinária, que se realiza três vezes por ano, pretendia nesta ocasião ser uma oportunidade para fazer avançar o processo de formulação de um plano pastoral para a Amazônia, de acordo com o Cardeal. Por esta razão, apelou a “não ficar em formalidades, mas também a procurar coisas reais que façam avançar o processo”.
A Assembleia foi um momento para informar sobre os passos dados na primeira metade de 2021 e para avançar na construção do Plano Pastoral como um todo, bem como para contribuir para a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Segundo o padre Alfredo Ferro, este plano pastoral está dividido em seis pontos, que resumem os objetivos estratégicos da CEAMA: escuta-visibilização-intercâmbio; dinamização da prática pastoral numa chave sinodal; comunicação; formação; diálogo e alianças; e consolidação da CEAMA.
O secretário executivo da CEAMA apresentou os principais compromissos, baseados nas conversões e sonhos presentes no Documento Final do Sínodo e em Querida Amazónia, que abordam as dimensões sócio-políticas, culturais, ecológicas, pastorais-eclesiais e sinodais. Os objetivos estratégicos são concretizados em planos pastorais, experiências, que nascem do concreto, do específico, algo a ser realizado pelas diferentes instituições que compõem esta rede: Celam, CEAMA, REPAM, CLAR e Cáritas.
Os participantes na Assembleia salientaram a necessidade de elaborar um Plano Pastoral que complemente os planos pastorais de cada Igreja particular, para ajudar a novidade que a CEAMA representa a crescer e contribuir para a Igreja universal no processo de renovação que Laudato si’ e Fratelli tutti nos indicam. Neste sentido, há elementos que nasceram da reflexão sinodal e que não podem ser esquecidos, tais como a ministerialidade, o rito amazônico, o acesso à Eucaristia ou o diaconato.
A CEAMA representa uma novidade do Espírito, que é tecer caminhos, algo que somos chamados a comunicar ao mundo. É também importante que as diferentes comissões possam avançar, que mais pessoas se envolvam nelas, para que se tornem eclesiais e não sejam reduzidas a um pequeno grupo, que haja uma maior articulação com as conferências episcopais e as dioceses, e que compreendamos que estamos perante uma oportunidade de aprender juntos a sinodalidade, de pensar o geral a partir do local e vice-versa.
Neste sentido, foi salientada a importância de incluir pessoas do território na reflexão das comissões e de promover a reflexão teológica, de fazer dela um plano eclesial, e não apenas episcopal, da relação entre as diferentes instituições, de escutar, trocar e tornar visíveis como elementos importantes para chegar a esta Igreja renovada numa chave sinodal, de ser uma Igreja ministerial com a participação de mulheres nos ministérios, de formar agentes pastorais e seminaristas para criar esta Igreja com um rosto amazónico.
A Amazônia é um lugar onde se destaca a importância da pedagogia do pequeno, onde é semeada e germina pouco a pouco. Por esta razão, é essencial que não peçamos frutos antes que as sementes germinem. Para isso, é necessário sensibilizar para os conteúdos que estão surgindo, com a nova forma de trabalhar, avançando em ideias que mais tarde podem ser uma contribuição para além da Amazônia, pensando no Sínodo dos Bispos.
Assembleia CEAMA
Os participantes discutiram as contribuições para o Plano Pastoral da Igreja Amazônica, sublinhando que é importante reconhecer as prioridades e responder a elas como Igreja, procurando linhas e ações comuns a partir da comunhão, tendo em conta as tradições comuns. Neste sentido, a CEAMA é chamada a reunir aspectos comuns dos planos pastorais diocesanos e oferecer elementos comuns, linhas e não ações concretas, que possam ser resgatadas localmente, vivendo assim o princípio da subsidiariedade. Dar linhas e não planos estruturados, gerando modelos de ação que podem ser replicados em outras áreas.
Na Igreja da Amazônia é necessário promover os leigos, aos quais devem ser oferecidos processos de formação, como uma presença eclesial reconhecida, para preencher o vazio pastoral, especialmente nas periferias. Isto porque é necessário abordar situações que exigem uma resposta, como a celebração dos sacramentos nas comunidades, sem a presença do ministro ordenado, dando maior valor à Palavra de Deus. É uma questão de superar os esquemas clericais.
No Plano Pastoral da CEAMA, que deve promover uma estrutura eclesial baseada numa Igreja Povo de Deus, deve procurar-se um critério social que conduza à defesa da Amazônia, do bioma e dos seus povos, do desejo de o apropriar por interesses económicos, resgatando o conhecimento das culturas ancestrais. Sabendo que não é fácil iniciar novos caminhos, a CEAMA não pode esquecer que este Plano Pastoral de Conjunto é fruto do mandato do Papa, que vê a Amazônia como um lugar de novos caminhos, uma ideia que vem de Aparecida.
A Igreja amazônica tem diferentes elementos para contribuir para a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que se realizará de 21 a 28 de novembro e que até 30 de agosto está realizando seu processo de escuta. Entre os elementos destacados estão a promoção do protagonismo dos leigos e das mulheres, através de equipes missionárias; evangelização ligada ao território e à questão da ecologia integral; formação a todos os níveis: leigos, seminários, formação permanente do clero; superar a visão do padre como aquele que tem a “última palavra”; trazer as conclusões do Sínodo e Querida Amazónia ao coração da Assembleia Eclesial; a inculturação; os “viri probati”; reforçar o papel das comunidades nos processos de evangelização; contribuições sobre o clima e a crise ambiental a partir de uma espiritualidade para a ecologia integral.
A Assembleia Eclesial, a partir da experiência do Sínodo, é um tempo de escuta, de envolvimento dos diferentes povos, da periferia, de colocar os pobres no centro, de ser uma Igreja aliada, samaritana, dos povos originários, não só do ponto de vista da assistência. Na verdade, pode-se dizer que a Igreja na Amazônia está um passo à frente no processo sinodal, o que foi vivido no processo sinodal na Amazônia é o que a Assembleia Eclesial propõe.
Tanto o presidente como o vice-presidente da CEAMA agradeceram aos presentes a sua participação na Assembleia. Segundo dom David Martínez de Aguirre, estão sendo dados passos, “estamos numa nova fase de fortalecimento e de passagem do dever fazer para o fazer”, recordando as palavras do cardeal Hummes. Segundo o bispo de Puerto Maldonado, “estamos gradualmente estabelecendo as ideias de como queremos coordenar com as diferentes entidades, Celam, REPAM”.
Nos próximos meses, com a assembleia plenária de outubro em mente, é tempo de “ouvir como queremos concretizar os avanços no plano pastoral”. Por esta razão, insistiu que pouco a pouco se vai tornando claro que “a CEAMA não é um sonho mas algo concreto”, algo que será visto “nas comissões, chamadas a reunir a vida do território e das Igrejas particulares, num caminho de ir e vir, que pouco a pouco vai gerando vida”.
Finalmente, dom Claudio Hummes salientou que podemos “ser felizes porque fizemos progressos importantes e fundamentais”. O presidente da CEAMA apelou a “convencermo-nos de que temos um mandato que vem do Sínodo, através do Papa, para que a CEAMA avance no Plano Pastoral, que não foi feito de cima para baixo, mas com a participação das bases”. Por este motivo, pediu “que busquemos alcançar uma participação eclesial, caminhar por novos caminhos”.
*Padre Modino/CELAM via Vatican News