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Uma voz profética e indignada se fez ouvir, de maneira incisiva, neste sábado, 23 de Abril, na pessoa do bispo de Roraima, 2º vice-presidente da CNBB e membro da Diretoria da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), Dom Mário Antônio da Silva, – eleito arcebispo da Arquidiocese de Cuibá -, como denúncia ao garimpo ilegal e a exploração sexual de mulheres e meninas em terras Yanomami.

Dom Mário Antônio denominou o projeto de mineração como ‘dragão devorador’ que toma força e avança com toda ferocidade e poder das organizações criminosas sobre a Terra Yanomami e a explora. “Quem de nós não têm acompanhado as impactantes notícias das agressões armadas às aldeias, as várias mortes causadas pelo garimpo, tais como a draga que sugou as duas crianças no rio Parima, em outubro do ano passado, e a violação de meninas e mulheres que são aliciadas em troca de comida pelos donos do garimpo? ”, questionou.

Dom-Mario-visita-comunidade-indigena-na-TI-Raposa-Serra-do-Sol/Arquivo: Consolata

O bispo fez lembrar a quem não se recorda, o massacre de Haximu que tirou a vida de 16 nativos, entre eles idosos, mulheres e crianças, enquanto labaredas consumiam a aldeia. “Não é possível esquecer o massacre de Haximu, caracterizado como o primeiro genocídio   pela   Justiça   brasileira, em   que   vários   indígenas   foram   dizimados num confronto cruel e desigual. Nasce no Brasil e no exterior uma ampla campanha em favor da demarcação da Terra Indígena Yanomami, homologada em 1992, exatamente há 30 anos”.

Plano de Integração do Regime Militar e atuação profética da Igreja

Dando um giro na história do Brasil, dom Mário fez recordar a destruição de várias comunidades  indígenas do Amapá e do Pará nos anos 70, com a construção da Rodovia perimetral norte, plano de integração do Regime militar, parado em 1977. Nesse contexto a sensibilidade e atuação da Igreja por meio de missionários e missionárias fez toda a diferença. “Na década de 1970 os Yanomami começam a sofrer a invasão de seu território com a construção da perimetral norte. Nasce no coração dos missionários, organizações e tantos amigos e amigas o compromisso na luta pelo reconhecimento de suas terras. Era o caminho para a garantia da vida e da cultura Yanomami, como um bem para a humanidade”, enfatiza.

Crianças Yanomami na escola, na missão Catrimani/ Arquivo: Consolata

Vergonha

Para o futuro arcebispo de Cuiabá, o que os registros da imprensa brasileira têm mostrado sobre as constantes agressões aos Yanomami envergonham o país. “A cada dia chegam notícias de toda forma de abusos contra os Yanomami. As imagens espalhadas no mundo das redes sociais e nas TVs são uma vergonha para nosso país e fazem o nosso coração sentir o sofrimento e a morte que os Yanomami e a natureza estão vivendo”.

Aliciamento, bebida e armas: uma forma de violência cruel

Dom Mário fez menção a dados, também revelados pelo Relatório “Yanomami Sob Ataque”, de que jovens homens são aliciados para trabalharem nos garimpos como seguranças, em troca de cachaça, comida e até armas de fogo. De acordo com dom Mário, esta situação “provoca conflitos entre eles. Colocar irmãos contra irmãos é atualizar o pecado de Caim e Abel”, ressaltou.

Missionárias e missionários da Consolata na missão Catrimani junto a dom Aldo. Arquivo Consolata

Apelo aos cristãos e cristãs

Aproveitando o contexto pascal pelo qual passam as Igrejas cristãs, do Mário fez um forte apelo aos ‘irmãos e irmãs de boa vontade’, para, à luz da vitória da vida sobre a morte, se unirem na defesa e na garantia da vida e do território do povo Yanomami, estabelecidos na Constituição Federal; promover a Justiça e não compactuar com o projeto de morte que autoriza a mineração nas terras indígenas; assumir o compromisso de defesa e do cuidado para com a Casa Comum, pois já sentimos os efeitos devastadores do garimpo, com o envenenamento de nossos rios Mucajaí, Uraricoera… que já nos atingem.

Leia a íntegra da mensagem

Dom Mário Antônio da Silva, que era bispo da diocese de Roraima, foi nomeado pelo Papa Francisco, arcebispo de Cuiabá, cuja Celebração Eucarística de Envio foi realizada neste último sábado, 23 de abril.

Por Rosa M. Martins

REPAM-Brasil

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