Por Comunicação REPAM-Brasil com informações de Luiz Miguel Modino
Na manhã de ontem (13), o Papa Francisco nomeou o padre Lucio Nicoletto, até então membro do clero da diocese de Roraima (RR), como bispo prelado de São Félix, no Mato Grosso. Em entrevista a Comunicação do Regional Norte I, o sacerdote disse ter assumido a nova missão que a Igreja lhe encomenda com as palavras do Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “Ninguém pode tirar de mim a alegria do Evangelho”, reforçando que “nem mesmo os meus medos, nem mesmo os desafios que a gente encontra”.
O bispo eleito conta como foi sua experiência na Igreja de Roraima. “Foi uma experiência muito forte de fraternidade, de luta juntamente com o povo. Aquela fraternidade, aquela amizade que nos dá a força para olhar com confiança no presente e no futuro. No presente, o lugar para onde Deus nos chama, uma plena consciência de que Ele está nos esperando lá no lugar onde nos chama”, afirma.
O padre Nicoletto ressalta que “não vou para lá para converter ninguém, eu acho que eu vou para lá porque Deus quer que me converta um pouco mais”. Segundo ele, “essa conversão é fruto de muito amor, é o amor que certamente vou encontrar naquele povo, porque foi o amor que manteve de pé aquele povo até agora, mesmo diante de tanto sofrimento, tantas injustiças. E em nome da alegria do Evangelho, esse povo conseguiu aguentar até agora, mantendo viva a chama da fé, oferecendo a todos um exemplo de esperança, deixando-se alimentar na caridade, sobretudo para com os mais excluídos, os mais humilhados, de maneira especial os povos indígenas da região do Araguaia, do Mato Grosso em geral”.
Para ele, a região “tem uma história de grande luta, de grande sofrimento, discriminações, mas também uma história que a Prelazia de São Félix do Araguaia soube escrever com o exemplo exímio de inúmeros homens e mulheres encabeçados pelo exemplo de Dom Pedro Casaldáliga, que em momento nenhum substituíram a Jesus, mas eles foram reflexo do mesmo Cristo, presente no povo sofredor”.
“Isso me ajudou a sentir que em primeiro lugar o carisma do missionário, primeiramente é um carisma que é para servir; segundo e um carisma que precisa dar como primeiro fruto a alegria de servir”, afirmou.
De acordo com o bispo eleito, “quando eu perco essa alegria significa que tem alguma coisa dentro de mim que não está batendo. Desde o início eu quis pedir a Deus que Ele nunca me deixe sem a paz e a alegria no coração, o restante é Ele que vai oferecer, abrir caminho, indicar os passos que precisam ser seguidos”.
Ele destaca a herança de fé que ganhou em sua vida como missionário “com o povo sofrido da Baixada Fluminense, com que eu estive vivendo 11 anos, e até agora com o povo de Roraima, um povo muito compromissado com a causa dos povos indígenas, com a causa das migrações, com a causa dos pequenos produtores, agricultores”. O bispo eleito afirma que “parece que a providência já abriu o caminho e neste momento me sinto acompanhado pela mão de um Deus que não posso mentir, Ele que preparou isso tudo, eu não busquei nada. Mas como Ele foi que preparou tudo e me demostrou tanto amor ao longo deste ano, eu também como missionário, a primeira resposta que eu dei, como eu poderia recusar esse convite que Deus através da Igreja está me oferecendo, se Ele nunca se recusou de me amar”.
“A primeira arma é a comunhão, a capacidade de formar unidade dentro da Igreja. O que ameaça o projeto de Cristo dentro da Igreja são as polarizações. A profecia hoje é ser gente de comunhão, gente que constrói a comunhão, gente que com paciência deixa de lado a própria auto referencialidade e deixa espaço para o outro, primeiramente para Deus, para que o outro possa crescer, eu devo diminuir. A Igreja é a comunidade dos que mesmo sentindo medo perante os desafios, percebem que a força nasce e brota da nossa unidade, do nosso caminhar junto, do nosso participar de uma caminhada na frente da qual está Jesus Cristo e sem Ele a gente não vai para lugar nenhum, com Ele a gente percebe que a luta vai dar certo”, afirma.
A sinodalidade sempre foi um modo de ser Igreja muito presente na Igreja de São Félix do Araguaia. Diante disso, o bispo eleito diz não conhecer muito dessa Igreja e que vai precisar entrar, citando a frase celebre de Dom Pedro, descalço sobre a terra vermelha. Ele conta que descalço a gente sente a terra, sente que somos criaturas, não criadores. “Somos humildes, humus, terra, e na medida em que a gente entra e se encarna nessa terra, a gente consegue se relacionar com essa terra”.
A sinodalidade, segundo o padre Nicoletto, “remete justamente à encarnação, não é possível ser uma Igreja sinodal sem primeiro crescer na consciência do Mistério da Encarnação. Caminhamos juntos quando conhecendo a realidade para onde Deus nos envia, aceitamos, em primeiro lugar, viver as relações, com o povo, com a terra, com a situação, e não se vive sem escutar”.
Seguindo com a reflexão, ele vê a sinodalidade como algo que “tem a origem em Emaús, onde existe um Jesus que não tem como primeira pretensão dar uma aula de moral para os outros, simplesmente se aproxima e começa a caminhar”. O padre Nicoletto pede a Deus que “me dê a graça de viver um Emaús permanente, de me aproximar desse povo, de reconhecer que eu não sei nada”, insistindo em que antes do múnus de ensinar, “o bispo tem que ter primeiramente o múnus de ouvir, porque se ele não ouvir, vai ensinar o que”, buscando assim “fazer o bem ao outro a partir do outro, não a partir dos meus pensamentos”.