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Indígenas foram atacados por seguranças de uma empresa que controla PCHs, em Mato Grosso; os episódios ocorreram entre domingo (25) e segunda-feira (26)

Por Assessoria de Comunicação do CIMI 

Indígenas do povo Enawenê-Nawê sofreram ataques na noite do último domingo (25) e na segunda-feira (26) enquanto protestavam para ajustar um acordo, feito em 2012, com a empresa que controla Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) instaladas no Rio Juruena, na região de Sapezal, Rondon, Parecis, Telegráfica e Campos de Júlio, em Mato Grosso. Ao menos dez indígenas ficaram feridos após ser atingidos com tiros de balas de borracha.

De acordo com integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Mato Grosso, o ato contou com a participação de cerca de 400 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Além dos disparos das balas de borracha, os indígenas tiveram seus pertences queimados – mochilas, documentos, redes, cobertores, entre outros. Uma liderança do povo – que terá a identidade preservada –, relatou à equipe do Cimi o processo de negociação com a empresa.

“Além dos disparos das balas de borracha, os indígenas tiveram seus pertences queimados”

“Primeiro, nós fizemos um documento com solicitação para aumentar a compensação permanente que recebemos para usar em nossos rituais. Esse dinheiro é usado, principalmente, para comprarmos peixes, mas não é suficiente para todo mundo. Nós entregamos o documento e conversamos, mas não aceitaram. Em outra reunião, apresentamos novamente a proposta para a empresa. Mandaram uma resposta mencionando um pequeno aumento, mas ainda não é suficiente para toda a comunidade”, explica a liderança.

“Esse dinheiro é usado, principalmente, para comprarmos peixes, mas não é suficiente para todo mundo”

Os indígenas tentam, desde 2012, rever o acordo feito com a empresa em relação aos impactos negativos das usinas hidrelétricas no território, inclusive sobre o pescado.

Um missionário do Cimi Regional Mato Grosso, que também não terá a identidade revelada nesta matéria, explicou o principal motivo da persistência dos Enawenê-Nawê para garantir um valor justo para a compra dos peixes ao longo dos anos.

“Os Enawenê-Nawê realizam rituais o ano inteiro. Eles têm rituais de seis meses, depois mais três ciclos de dois meses cada. São ciclos ininterruptos. Esses rituais são uma tentativa constante de manter harmonia com os espíritos. Entre as obrigações que existem dos indígenas com esses seres, está a oferta de comida. E a principal oferta de comida é o peixe. Quando os Enawenê-Nawê querem o peixe, não é para eles especificamente. É para eles tentarem a harmonia com esses mundos de seres superiores”, explica.

“Esses rituais são uma tentativa constante de manter harmonia com os espíritos”

Nota de repúdio

Diante do caso, o Cimi Regional Mato Grosso se manifesta, por meio de nota, contra a violência sofrida pelos indígenas do povo Enawenê-Nawê, e pede que as autoridades tomem as devidas providências.

“É necessário que as autoridades tomem as devidas providências para garantir que as manifestações possam ocorrer sem violência, levando em consideração os pedidos desse. E que a empresa que controla as PCHs seja enquadrada no rigor da lei após essa ação”, diz um trecho.

Confira a íntegra da nota.

NOTA DE REPÚDIO

O Conselho Indigenista Missionário repudia veementemente os ataques ocorridos no último domingo (25) e segunda-feira (26) contra os indígenas do povo Enawenê-Nawê. O ataque foi uma ação dos funcionários da empresa que controla as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Rio Juruena, na região de Sapezal, Rondon, Parecis, Telegráfica e Campos de Júlio, no estado de Mato Grosso, e que impactam diretamente a sobrevivência pesqueira desta comunidade.

Pacificamente, os indígenas protestavam para que seja revisto o acordo entre as partes em relação ao termo de compensação dos impactos sofridos. O acordo foi celebrado em 2012 e já não atendem a demanda do povo que, numericamente, está maior e que, espacialmente, vem sendo ilhado pelo modelo de desenvolvimento de exploração insustentável do Estado.

Perante essa situação, é necessário que as autoridades tomem as devidas providências para garantir que as manifestações possam ocorrer sem violência, levando em consideração os pedidos desse povo. E que a empresa que controla as PCHs seja enquadrada no rigor da lei após essa ação.

O Conselho Indigenista Missionário regional Mato Grosso se solidariza com o povo Enawene-Nawe. Os Enawene-Nawe são originários desta região e devem ser respeitados. A causa indígena é de todos nós!

 

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