Por Luis Miguel Modino, assessor de comunicação Regional Norte1
A ecoteologia e as experiências ecológicas é algo presente de diferentes modos nas comunidades, paróquias e igrejas locais que fazem parte do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essas experiências foram partilhadas no IV Encontro de Ecoteologia e I Semana Teológica e Filosófica, que acontece em Manaus de 13 a 15 de setembro, organizado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica REPAM-Brasil, a Faculdade Católica do Amazonas, a Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, a Arquidiocese de Manaus e o Regional Norte1 da CNBB.
Os participantes do seminário constataram que ainda tem muito a avançar para trabalhar a ecoteologia de forma mais abrangente, de forma mais profunda. As expressões presentes na liturgia, nos diferentes projetos sociais e em muitas outras realidades, demandam uma maior conexão com os saberes locais, com a realidade em que os povos da região vivem e com a própria natureza.
O objetivo é lutar pela preservação de uma realidade cada vez mais degradada, que sofre diante da falta de respeito. É uma luta pela preservação dos rios, dos lagos, dos igarapés, um trabalho a ser realizado em parceria, tanto com instituições eclesiais, como junto aos movimentos sociais em defesa das questões ambientais. Uma defesa que não encontra apoio na sociedade nem dentro das próprias comunidades eclesiais, segundo foi relatado pelos participantes do encontro.
Diante dessas experiências ecológicas, sem uma organização que ajude a sistematizá-las, se faz necessário insistir na formação, em projetos que ajudem a pensar nos povos que habitam na Amazônia, em um trabalho interinstitucional e com participação dos jovens, em valorizar diferentes elementos na evangelização.
São elementos que aparecem nos livros apresentados no Seminário de Ecoteologia pelo padre Justino Sarmento Rezende, o Ir. Sebastião Ferrarini e o professor Marcilio de Freitas. Livros que recolhem as vivências dos povos amazônicos, seu conhecimento coletivo, segundo o padre Justino, um indígena que conhece sua cultura e participa das cerimonias e rituais, e que buscou, a pedido dos anciãos de seu povo, que as futuras gerações possam conhecer a espiritualidade e cosmovisão tuyuka. Livros que refletem sobre a formação teológica na Amazônia afirmou o Ir. Ferrarini, que tem que ser encarnada, inculturada no contexto amazônico, e desde uma visão cosmoteándrica. Isso numa Amazônia com um zelo global, que deve levar a quem mora nela a se questionar como tudo isso ecoa nas pessoas.
Apresentar vivências pastorais de ecologia integral foi um dos propósitos do Seminário de Ecoteologia no segundo dia. A Paróquia São Francisco de Assis, na zona sul da cidade de Manaus, apresentou iniciativas que surgiram com o Magistério do Papa Francisco, que levou ao cuidado da casa comum e o cuidado da vida. Os trabalhos começaram em 2019, despertando o cuidado das mais de 100 fontes no bairro e assim cuidar do lençol freático, coletando óleos de cozinha usados. No tempo da pandemia foram plantadas árvores lembrando as vítimas da COVID, mudas de plantas medicinais, projetos de reciclagem. Trabalhos e projetos realizados em parceria com diferentes instituições.
A Caritas Arquidiocesana de Manaus trabalha em diversos projetos que promovem o cuidado do meio ambiente, o bem viver, e a economia popular solidaria com incidência na preservação ambiental. Projetos que foram apresentados aos participantes do seminário, mostrando como eles melhoram a vida do povo e ajudam no cuidado do meio ambiente.
Se faz necessário buscar a positividade das ações que estão sendo realizadas na região amazônica e que ajudam a renovar a realidade, a continuar acreditando e tendo esperança no futuro da Amazônia. Daí a necessidade de sair do seminário com alegria e esperança, inspirados pela Querida Amazônia e pelos documentos do Magistério da Igreja da região e da Igreja universal.
Uma Amazônia que está sendo ameaçada por uma economia baseado no capitalismo industrial, voraz; pela política, sustentada em lógicas perversas; pelo capital financeiro; por uma religião que engana o povo com a lógica do sucesso, do individualismo; pela mídia e as redes sociais, que difundem mentiras de modo perverso; pelo consumismo. Diante disso se faz necessário fortalecer a fé em Jesus e viver aquilo que o Papa Francisco chama na Laudato Si de sobriedade feliz. Junto com isso continuar no compromisso que ajude a avançar no caminho da alegria e da esperança.