Esperança foi a palavra-chave do encontro de escuta aos pescadores e pescadoras artesanais ocorrido nesta semana, em Belém/PA. A atividade preparatória em vista do Sínodo para a Amazônia foi ocasião para partilhas e aproximações que geram articulação e apoio nas lutas diárias.
“Os pescadores e as pescadoras vêm partilhando a sua realidade, a realidade de vida nas comunidades, ao mesmo tempo as suas lutas e as suas resistências”, conta Ormezita Barbosa, secretária executiva do Conselho Pastoral dos Pescadores/CPP. Para ela, as comunidades estão fortalecidas por estarem construindo este momento que representa “a grandeza da vida desses povos e que é também um momento de esperança neste tempo que nós temos vivido”.
A secretária executiva do CPP Norte, Suely Martins Miranda, aponta todo o processo do Sínodo como sinal de esperança. “O pescador geralmente é um ator invisível, está nos rios, nos mares, nas lagoas, mas é invisível. E um seminário para escutar o pescador faz com que a gente se encha de alegria e tenha muita esperança de que esta escuta se transforme em ações concretas para a vida e o dia-a-dia dos pescadores”, aponta.
Desde a mística de abertura do encontro, na última terça-feira, 16, já foi possível aos participantes manifestar seus anseios. Os pescadores apontaram para a Igreja o que eles pensam, quais são as perspectivas e seus sonhos.
Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo e presidente do CPP Nacional, ressaltou a oportunidade de partilha das dores e alegrias, também das dificuldades. “O Sínodo é oportunidade de revigorar a esperança nesta caminhada, nesta missão, também diria nesta luta como articulação em toda a Amazônia, é sinal de graça, de evangelização, de cuidado com a vida”, contextualiza.
A escuta é passo importante para a construção de redes e tomada de decisões. Josana Pinto da Costa, coordenadora nacional do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais/MPP, avalia o processo neste sentido, para identificar o que estes trabalhadores desejam e tomar decisões. “Neste momento nós damos o nosso grito de alerta, porque nós pescadores e pescadoras na Amazônia estamos perdendo o nosso território, estamos ameaçados pelos grandes empreendimentos, os grandes projetos”, revela. Mas a esperança também está em sua fala: “Este é um momento que renova nossas esperanças com esta escuta, com esta atenção à nossa voz, porque, de fato, estamos dizendo o que nós queremos, o que estamos vivenciando e qual a construção que queremos viver no futuro”.
A construção das redes também ultrapassa a fronteiras das diferenças religiosas. Risonaldo da Silva Picanto é membro da Igreja Assembleia de Deus em Óbidos/PA e disse estar “muito feliz” em participar do encontro, porque aprendeu, vislumbrou muitas conquistas junto com o povo e construiu amizades. Ele espera estar reunido com os pescadores de sua comunidade para que eles também possam aprender daquilo ele absorveu do encontro. “Para que junto a gente possa construir alguns bens sociais, aquilo que vai servir para a minha comunidade”, desejou. Risonaldo pretende participar de novos encontros para construção de iniciativas em favor da sociedade brasileira e da Amazônia.
O Encontro de escuta dos pescadores e pescadoras artesanais para o Sínodo reuniu pescadores artesanais do Amapá, do Amazonas, do Pará e do Maranhão. Os participantes estudaram o Documento Preparatório e responderam ao questionário proposto ao final do texto. Padre Dário Bossi, missionário comboniano e assessor da REPAM, foi o responsável por conduzir o processo com o grupo.