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A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) destaca a exploração sexual de crianças e adolescentes como uma das violações de direitos humanos mais graves e persistentes na região amazônica. Em várias localidades isoladas, a pobreza extrema, a falta de presença do Estado e a dificuldade de acesso à justiça permitem que esse crime continue a destruir a vida de milhares de jovens, perpetuando um ciclo de silêncio e impunidade. 

De acordo com dados alarmantes do Ministério Público do Pará, “o Pará registrou mais de 19 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo que as meninas representaram mais de 80% das vítimas.” A promotora de justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude, Patrícia Araújo, destaca que “a subnotificação e o silêncio das vítimas e suas famílias são alguns dos maiores obstáculos enfrentados pelas autoridades”, sendo agravados pela falta de serviços públicos adequados e pela pobreza extrema. 

Em resposta a essa realidade, diversas iniciativas estão sendo implementadas, como o projeto “Rios de Proteção”, lançado no arquipélago do Marajó. O projeto visa fortalecer a rede de proteção e o sistema de garantias de direitos das crianças e adolescentes. “O objetivo é promover, de forma integrada e culturalmente adequada, o enfrentamento à violência sexual nas comunidades mais vulneráveis”, afirma Patrícia Araújo. O projeto busca sensibilizar a população e criar espaços seguros para denúncias, além de promover a educação e o protagonismo juvenil. 

Dom Ionilto Lisboa, Bispo da Prelazia do Marajó, também enfatiza a dificuldade em denunciar os abusos. “O grande desafio é a denúncia, pois há muito medo de se fazer a denúncia, especialmente quando a exploração acontece dentro da própria família. A pobreza e a dependência econômica tornam a situação ainda mais complicada”, alerta. Ele reforça que a Igreja tem trabalhado ativamente para romper o silêncio e proteger as vítimas, mesmo em um contexto de extrema vulnerabilidade. 

Outras ações relevantes incluem o Projeto ISSA da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, que há anos atua em diversos municípios da Amazônia para prevenir e enfrentar a violência sexual contra crianças e adolescentes. Rosivani Anjos, coordenadora do projeto, destaca a importância da formação de educadores e lideranças comunitárias: “O trabalho de prevenção é fundamental, especialmente com os professores, que têm um papel decisivo na identificação de sinais de abuso.” 

Além disso, a Rede Um Grito Pela Vida, vinculada à Conferência dos Religiosos do Brasil, atua em comunidades ribeirinhas, indígenas e periferias urbanas da Amazônia. A rede trabalha para sensibilizar e mobilizar a sociedade, criando redes de proteção e informando sobre os direitos das crianças e adolescentes. Irmã Michelle da Silva, articuladora da rede, explica: “A exploração sexual se intensifica nas regiões mais vulneráveis, onde a falta de políticas públicas, a desinformação e a impunidade contribuem para o agravamento do problema.” 

A REPAM e seus parceiros seguem firmes na luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes na Amazônia, criando ações concretas para promover a proteção, a denúncia e a conscientização. Essas iniciativas buscam dar voz às vítimas e fortalecer as redes de proteção para garantir um futuro mais seguro para as crianças e adolescentes da região. 

A Rede Eclesial Pan-Amazônica reforça a importância da colaboração de todos. Se você suspeitar de violência ou abuso sexual contra crianças e adolescentes, não se cale. Seu silêncio mantém o ciclo, mas sua escuta pode ser o início de uma nova história. 

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