Por Brasil de Fato
A população do Equador decidiu em referendo suspender a exploração de petróleo em uma área de floresta amazônica na fronteira com o Peru. A decisão foi tomada neste domingo (20), durante as eleições que definem o novo presidente, em meio a uma campanha eleitoral marcada por candidatos assassinados.
Com 93% das urnas apuradas, 59% dos eleitores haviam escolhido interromper as atividades da estatal Petroecuador no Parque Nacional Yasuni, também conhecido como bloco 43, uma das áreas com maior biodiversidade no mundo e com presença de grupos indígenas isolados.
O parque Yasuni tem 1 milhão de hectares e abrange setores da Amazônia e dos Andes. Pesquisadores estimam que um hectare de terra pode ter mais espécies de animais do que em toda a Europa e maior diversidade de árvores do que na América do Norte. Embaixo da terra, porém, está a maior reserva de petróleo bruto do Equador.
A decisão obriga o governo de Guillermo Lasso a desativar os campos de exploração de forma progressiva até outubro de 2024. O bloco 43 é responsável por 12% da produção diária de petróleo do país. A perda anual estimada com a suspensão das operações é de US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões) o equivalente a 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) do Equador.
O referendo foi defendido pelo coletivo ambiental Yasunidos, que há uma década apontava a necessidade de colocar o tema em consulta popular . “Estamos liderando o mundo no combate às mudanças climáticas, ignorando os políticos e democratizando as decisões ambientais”, declarou Pedro Bermo, porta-voz do coletivo.
Primeiro país a banir petróleo por plebiscito, diz OC
Segundo o Observatório do Clima (OC), rede de organizações brasileiras que atua na agenda climática, a decisão faz do Equador o primeiro país do mundo a banir por plebiscito a exploração de combustíveis fósseis numa zona ambientalmente sensível.
A mudança coloca o país na vanguarda do abandono dos combustíveis fósseis entre os países da Amazônia. Na Colômbia o governo Gustavo Petróleo definiu adotar um plano progressivo para erradicar a extração de petróleo no bioma. Na contramão, o Brasil tenta abrir uma nova fronteira de óleo e gás na região da Foz do Amazonas.
O abandono da exploração de petróleo na Amazônia foi uma das principais reivindicações de movimentos populares e ligados à agenda climática durante os Diálogos Amazônicos, evento que precedeu a Cúpula da Amazônia em Belém (PA). Lideranças indígenas e tradicionais do bioma denunciaram os graves impactos ambientais e exigiram que os povos atingidos fossem previamente consultados.
Mesmo assim, a Cúpula de presidentes da Amazônia decepcionou as organizações da sociedade civil ao não indicar metas para frear a atividade petrolífera.
Esquerda sai na frente em eleições com nível de violência inédito
A advogada Luisa González, ligada ao ex-presidente Rafael Correa, e o direitista Daniel Noboa, disputarão o segundo turno da eleição presidencial equatoriana, indicam resultados preliminares divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) neste domingo (20). Os dados mostram os dois candidatos com 33% e 24%, respectivamente.
Em terceiro lugar está o jornalista Christian Zurita, com 16,3%. Zurita aparece na lista de candidatos como substituto de Fernando Villavicencio, assassinado no dia 9 de agosto deste ano, a duas semanas da eleição. Logo atrás está o direitista Jan Topic (14,6%). Otto Sonnenholzner, de centro, ficou com 6,9% dos votos; e o líder indígena Yaku Pérez, com 3,7%.
Durante a campanha, a violência subiu a níveis inéditos: foram assassinados a tiros o prefeito de uma grande cidade, um candidato presidencial (de direita), um líder histórico do partido de esquerda Revolución Ciudadana, que até então liderava as pesquisas. Sem falar que uma candidata a deputada do mesmo partido sobreviveu a um ataque armado.
O candidato assassinado foi Fernando Villavicencio, um jornalista investigativo que se tornou candidato empunhando a bandeira do combate à corrupção. Ele foi morto em público, à luz do dia, poucos dias antes do último debate da campanha. É esse o clima de insegurança e instabilidade que envolve o pleito.